30.11.22

Filmes sobre a Ditadura Militar no Brasil



Há muitas opções disponíveis de filmes e documentários sobre o período da Ditadura Militar (1964-1985) no Brasil.

As produções estão online, integrais e podem ser assistidas pelo YouTube. Confiram alguns:

Lamarca



. Zuzu Angel


. O que é isso companheiro?


. O dia que durou 21 anos.


. O ano em que meus pais saíram de férias 


. Pra frente, Brasil


. Cidadão Boilesen - um dos empresários que financiou a tortura no Brasil


. João Goulart: Jango

8.11.22

História da cidadania no Brasil



A noção de cidadania moderna foi construída pela Revolução Francesa (1789), designando os indivíduos que fazem parte da sociedade e são detentores de direitos. Entretanto, a palavra cidadania tem origem mais remota, ela surgiu no tempo dos antigos romanos. A expressão latina ciuitas, usual naquela época,  tinha o sentido de cidade e de Estado.

Em Roma Antiga, os cidadãos eram os homens livres, mas nem todos tinham os mesmos direitos, pois os patrícios (oligarquia romana) tinham o monopólio dos cargos públicos, excluindo da participação política os plebeus, as mulheres e os escravos. O senado, por exemplo, era um dos órgãos mais importantes da organização política romana e era ocupado exclusivamente por homens patrícios.

A situação de exclusão só foi revertida com muita luta e levou bastante tempo para as massas populares conquistarem direitos, entre eles o fim da escravização por dívidas, o de votar e eleger seus representantes políticos para o Tribuno da Plebe. A cultura política greco-romana antiga difundiu-se por toda a Europa e, posteriormente,  influenciou todo o mundo Ocidental. Vejamos um pouco de trajetória da cidadania na História do Brasil.

Período colonial 

Como sabemos,  a colonização portuguesa foii terrível para os povos indígenas e africanos. Os índios foram expulsos de suas terras, caçados e dizimados pelas doenças trazidas pelos europeus.
Os africanos submetidos a escravidão não tiveram melhor sorte, além de perderem a liberdade eram forçados a abandonar suas crenças, valores e identidade.

No Brasil Colônia existiam as Câmaras Municipais, instaladas nas vilas e cidades coloniais. Eram órgãos administrativos que "exprimia essencialmente os interesses dos grandes senhores locais". (CÂNEDO, 2012. p  520).

O poder, a nível local, era controlado por vereadores e juizes eleitos pelos "homens bons",  donos de terras e de escravos. As mulheres, homens livres pobres, índios e escravos africanos não tinham direitos. 

As decisões das Câmaras Municipais atendiam apenas aos interesses dos senhores locais e da administração colonial portuguesa, sem levar em consideração as necessidades dos outros grupos sociais que viviam nos espaços urbanos.

Período imperial

Antes da independência houve um esforço das elites políticas e econômicas do Brasil para assegurar a manutenção da ordem social vigente. O Brasil deixaria de ser Colônia e passaria à condição de nação livre sem alterar os alicerces socioeconômicos baseados no latifúndio e no trabalho escravo.

A clássica pintura de Pedro Américo,  "Independência ou Morte" (1888), deixa evidente a falta de participação popular no processo de independência, ao dar centralidade a d. Pedro e sua guarda pessoal. Há um camponês na composição artística, mas ele ocupa uma posição marginal, alheia ao acontecimento político. 

No Primeiro Reinado,  a Constituição de 1824 fixou o voto censitário exigindo a renda mínima para habilitar eleitores. Assim, "o verbo "votar" e a prática da cidadania são do gênero masculino e da cor branca, as mulheres estavam ausentes do texto, assim como os escravos e os indígenas" ( CÂNEDO, 2012, p. 526).

As eleições no período imperial foram marcadas por fraudes,  eleitores fantasmas e violência. Os proprietários rurais poderosos tinham "capangas" a seu serviço e na época das eleições eles eram usados para atacar os opositores de seus candidatos.

A manutenção do regime escravocrata criava um cenário social dantesco. Os escravos eram forçados a produzir as riquezas que eram apropriadas por uma elite cruel e mesquinha. Os escravos resistiam, muitos fugiam das fazendas e formavam quilombos para tentar recomeçar a vida. Rebeliões de escravos e de populares que eclodiram no período foram duramente reprimidas pelas autoridades do Império.

Ao final do período imperial, em 1888, foi abolida a escravidão. Apesar do avanço da cidadania, com a consolidação do direito civil da liberdade, os afro-americanos permaneceram à margem da sociedade, sem garantias ou direitos que lhes permitissem exercer a cidadania, de fato.

Período Republicano

A passagem da Monarquia para a República ocorreu sem conflitos, não houve resistência e nem turbulências sociais.

A República proclamada em 15 de novembro de 1889 ocorreu pela condução dos militares com o apoio da elite agrária. Novamente o povo havia ficado ausente do processo de mudança na forma de governo. No momento da proclamação da república, o povo assistiu a cena bestializado, alheio aos acontecimentos.
"Proclamação da república". (1893). Benedito Calixto

O novo regime aboliu o voto censitário, mas exigia que o eleitor fosse alfabetizado e maior de 21 anos de idade. No início do século XX mais de 50% da população adulta era analfabeta. As escolas eram poucas e caras, só os grupos mais favorecidos tinham acesso à Educação. Os direitos sociais eram, na Primeira República, inexistentes.

Além dos analfabetos,  foram excluídos do direito de votar as mulheres, doentes mentais, praças de pré, religiosos de congregações e ordens monástica e os mendigos.

O processo eleitoral continuava violento e sem lisura. Os "coronéis" praticavam o voto de cabresto e garantiam a vitória de seus candidatos. As fraudes eram a tônica das eleições, com a adulteração das atas, alistamento de eleitores inexistentes etc. 

Tal situação só começou a ser revertida a partir de 1932, com a criação da Justiça Eleitoral, órgão que passou a organizar e a fiscalizar as eleições brasileiras. O voto passou a ser secreto, garantido aos eleitores o direito do sigilo de escolha.

O voto feminino, enfim, foi assegurado em 1932 e foi incorporado à Constituição de 1934. Nas eleições de 1933, pela primeira vez o Brasil tinha uma mulher eleita - Carlota Pereira de Queiroz.



Além da restrição dos direitos políticos do povo, as questões sociais da república, como a desigualdade, a falta de acesso à terra e a precariedade do trabalho, eram tratadas pela polícia, isto é,  com forte repressão contra movimentos sociais. Praticamente não havia diálogo entre o povo e o Estado, tampouco preocupação dos dirigentes em atender as reivindicações populares. 

Os direitos trabalhistas

Após 1930, Getúlio Vargas assumiu o poder e o país passou por transformações sociais e econômicas importantes. 

A difusão das ideias anarquistas e socialistas nos movimentos operários representavam uma ameaça à ordem vigente.

Vargas passou a exercer maior controle sobre as atividades sindicais, colocou a Aliança Nacional Libertadora (ANL) na ilegalidade e aprovou medidas que favoreceram os trabalhadores urbanos.

Dentre elas, podemos citar a criação do décimo terceiro salário, descanso remunerado, regulamentação da jornada de trabalho dentre outras.

Todas essas medidas favoreceram a associação do presidente Vargas à imagem do "pai dos pobres".
Comemoração do dia do trabalho. Getúlio Vargas cumprimenta a multidão.


A Constituição cidadã (1988)

Entre 1964 a 1985 o Brasil esteve sobre o regime militar ditatorial. Nesse contexto, diversos direitos foram suspensos, restringindo muito a cidadania.
A falta de liberdade de imprensa e o fim da eleição direta para presidente da República foram algumas das medidas impostas pela ditadura que feriam a democracia.

Em 1983 surgiu na sociedade civil um movimento - chamado "Diretas Já" - reivindicando abertura política, o fim da ditadura e eleição direta para escolher o presidente da República. Artistas, intelectuais, estudantes e lideranças políticas diversas mobilizaram milhões de pessoas nas grandes capitais, como Rio de Janeiro e São Paulo, em comícios e shows.



No ano de 1988, uma nova Constituição foi promulgada pelo Congresso Nacional, ela restabeleceu a Democracia, pondo um fim na ditadura. Em 1989, houve eleições diretas para presidente e o vencedor foi Fernando Collor de Mello.


A Constituição de 1988 assegurou a todos garantias fundamentais, como o direito de ir e vir,  à liberdade de expressão e proibiu a tortura. O documento também aprovou os direitos sociais, como saúde, educação, segurança, trabalho, moradia etc. O objetivo da Constituição é reduzir as desigualdades  e promover a justiça social. Sem superar tais obstáculos - o avanço da desigualdade e a exclusão social - a cidadania plena continuará restrita no país. 

Por tudo isso, a Constituição é um documento importantíssimo para a promoção da cidadania, da democracia, da inclusão e do bem-estar social. Cabe a todos nós, cidadãs e cidadãos, conhecê-la e defendê-la para que suas ideias e princípios se concretizem e alcancem a todos.



Bibliografia

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2012.

PINSKY, Carla Bassanesi, PINSKY, Jaime (orgs.). História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2012. 


Avaliação 

1. ENEM (2015).

A população negra teve que enfrentar sozinha o desafio da ascensão social, e frequentemente procurou fazê-lo por rotas originais, como o esporte, a música e a dança. Esporte, sobretudo o futebol, música, sobretudo o samba, e dança, sobretudo o carnaval, foram os principais canais de ascensão social dos negros até recentemente. A libertação dos escravos não trouxe consigo a igualdade efetiva. Essa igualdade era afirmada nas leis, mas negada na prática. Ainda hoje, apesar das leis, aos privilégios e arrogâncias de poucos correspondem o desfavorecimento e a humilhação de muitos.


CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006 (adaptado).


Em relação ao argumento de que no Brasil existe uma democracia racial, o autor demonstra que


a) essa ideologia equipara a nação a outros países modernos.
b) esse modelo de democracia foi possibilitado pela miscigenação.
c) essa peculiaridade nacional garantiu mobilidade social aos negros.
d) esse mito camuflou formas de exclusão em relação aos afrodescendentes.
e) essa dinâmica política depende da participação ativa de todas as etnias.

2. ENEM (2016).

A teoria da democracia participativa é construída em torno a afirmação Central de que os indivíduos e suas instituições não podem ser considerados isoladamente. A existencia de constituições representativas em nível nacional não basta pra democracia, pois o máximo de participação de todas as pessoas, a socialização ou "treinamento social" precisa correr em outras esferas, de modo que as atitudes e as qualidades psicológicas necessárias possam se desenvolver. Esse desenvolvimento ocorre por meio do próprio processo de participação. A principal função da participação na teoria democrática participativa é portanto educativa, nessa teoria, a associação entre participação é educação tem como fundamento a:

a) Ascensão das camadas populares.
b) organização do sistema partidário.
c) eficiência da gestão pública.
d) ampliação da cidadania ativa.
e) legitimidade do processo legislativo.

3. ENEM (2009).

Segundo Aristóteles, “na cidade com o melhor conjunto de normas e naquela dotada de homens absolutamente justos, os cidadãos não devem viver uma vida de trabalho trivial ou de negócios — esses tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis com as qualidades morais —, tampouco devem ser agricultores os aspirantes à cidadania, pois o lazer é indispensável ao desenvolvimento das qualidades morais e à prática das atividades políticas".

VAN ACKER, T. Grécia. A vida cotidiana na cidade-Estado. São Paulo: Atual, 1994.

O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles, permite compreender que a cidadania:

a) possui uma dimensão histórica que deve ser criticada, pois é condenável que os políticos de qualquer época fiquem entregues à ociosidade, enquanto o resto dos cidadãos tem de trabalhar. 

b) era entendida como uma dignidade própria dos grupos sociais superiores, fruto de uma concepção política profundamente hierarquizada da sociedade.

c) estava vinculada, na Grécia Antiga, a uma percepção política democrática, que levava todos os habitantes da pólis a participarem da vida cívica.

d) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela qual o tempo livre dos cidadãos deveria ser dedicado às atividades vinculadas aos tribunais.

e) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita àqueles que se dedicavam à política e que tinham tempo para resolver os problemas da cidade.

4. ENEM, 2022



Gabarito 

1. d

2. d

3.  b

4.  a

25.10.22

[HCS] Conteúdos do 4º bimestre

Conteúdo gratuito e de qualidade. Doe qualquer valor. Chave Pix: 325cd79f-5e4c-443f-9297-b055894ab986.

O que é Política pública?

As políticas públicas são medidas adotadas pelo Estado para garantir o cumprimento dos direitos previstos na Constituição Federal de 1988. A boa execução das políticas públicas pode gerar bem-estar para a sociedade, através de investimentos em saúde, educação, segurança, moradia, saneamento básico etc.

Cidadania 

A cidadania é uma expressão que originou-se do latim civitas, que significa cidade. Em Roma, a cidadania indicava a situação política de uma pessoa e os direitos que ela podia exercer. Na sociedade Antiga só os homens livres tinham direitos. 

Atualmente, a cidadania foi estendida a todos - homens e mulheres -  e é entendida  como a qualidade do cidadão detentor de direitos e deveres.

Entre os direitos do cidadão está o de votar e escolher seus representantes no governo, usufruir das políticas públicas e fiscalizar e acompanhar os gastos públicos. Por outro lado, há também os deveres, como pagar tributos para o Estado e zelar pelo patrimônio público. 

O conceito moderno de cidadania, contudo, vai além da relação do indivíduo com o Estado. A cidadania também pressupõe a atuação do indivíduo junto à sociedade em prol do bem comum. 

Democracia 

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Esfera pública 

O conceito de esfera pública refere-se às discussões públicas que envolvem a sociedade, seja em espaços formais ou informais. A esfera pública é essencial para a democracia, pois possibilita aos cidadãos participarem das discussões e da busca de soluções para os problemas da sociedade. 

As mídias de massa foram e continuam sendo muito importantes para o debate público e o fortalecimento da democracia, visto que tais meios contribuem para a formação da opinião pública sobre os diversos temas que perpassam a política,  a economia e a sociedade. Contudo, a indústria cultural tem afetado a qualidade do debate democrático. Os interesses comerciais das corporações e das mídias tem manipulado a opinião pública, impedindo o debate aberto e democrático. Além disso, o entretenimento aumenta a audiência e as receitas dos veículos de comunicação, sobrepondo os demais temas e programas de interesse social.

Organização social 

Organização Social (OS) é um título conferido pelo governo a associações ou  fundações particulares sem fins lucrativos, que atuem na oferta ou prestação de serviços com interesse público. Nesse caso, o poder público firma uma parceria com a iniciativa privada (parceria público-privada) para garantir o atendimento das necessidades da comunidade.

As Casas de Caridade são exemplos de organizações sociais (OS), elas são instituições de direito privado, no entanto não possuem um dono e não tem fins lucrativos. As casas de caridade celebram um contrato com o governo, comprometendo-se a atender ao interesse público e executar serviços em benefício dos cidadãos.

Organizações civis 

As organizações civis ou Organizações da Sociedade Civil (OSC) referem-se às entidades não governamentais. Tais órgãos possuem direito privado sem fins lucrativos, contam com a participação social no desenvolvimento de suas ações e realizam trabalhos de interesse público.

As OSCs atuam  em diferentes setores, como meio ambiente, educação, cultura, saúde, direitos humanos etc. Elas recebem ajuda e recursos públicos e privados com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas, especialmente aquelas que se encontram na condição de vulnerabilidade social. 

Iniciativa popular 

A lei permite aos cidadãos participarem do processo legislativo através de uma sugestão enviada à Câmara dos Deputados. 

Para isso, é necessário atender aos seguintes requisitos legais:

"A iniciativa popular consiste na apresentação de projeto de lei à Câmara dos Deputados, subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles".
Conheça algumas iniciativas populares que tornaram-se leis:
  • Lei 8930/1994: trata do crime de homicídio qualificado.
  • Lei  9840/1999: coibir a compra de votos e punir os responsáveis.
  • Lei 11124/2005: criou o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social contribuindo para o governo reduzir o déficit habitacional.
Proposta Legislativa 

As propostas legislativas ocorrem quando há necessidade de atender as demandas da sociedade ou quando é necessário alterar as leis existentes. Assim, um projeto é encaminhado à Câmara dos Deputados para ser analisado, discutido, recusado ou aprovado pelos parlamentares.

A sociedade está sempre em transformação, tal fato requer novas leis para regulamentar as mudanças que os novos tempos exigem. O bullying, por exemplo, é um fenômeno que só foi classificado nos anos 1980. De lá pra cá a ideia foi popularizada e leis foram aprovadas para evitar a prática do bullying, garantir assistência às vítimas e punições para os agressores.

As propostas legislativas podem ser sugeridas e encaminhadas à Câmara pelos deputados, senadores, presidentes dos poderes Executivo e Judiciário, procurador-geral da República e pelos cidadãos.

A nível municipal, os cidadãos podem enviar sugestões para a Câmara Municipal, onde elas serão avaliadas pelos vereadores.

11.10.22

Cruzadinha da Era Vargas (1930-1945)

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Jogo de Palavras Cruzadas sobre a Era Vargas (1930-1945).

4.10.22

Concepção Ocidental sobre Estado-Nação



Entende-se por Estado o conjunto de instituições que administram determinado território através da constituição de um governo, leis, forças armadas etc. O Estado detém o monopólio da violência legítima para garantir a segurança e a ordem. O Estado também é a lei, cujo caráter é universal, portanto, aplicada a todos os cidadãos que vivem naquele território. 

Nação diz respeito às características comuns a um povo, como a língua, crença e costumes. Através da cultura e origem histórica em comum as pessoas se identificam como semelhantes e constituem uma nação singular. 

As nações se estabelecem em determinado território, formando um país e podem constituir um Estado, o qual tem o poder de legislar e de tributar o povo. Os estudiosos chamam esse fenômeno de estado-nação.

Sobre Estado-nação, o professor Bresser-Pereira (2017) nos ensina que:

"Cada povo que partilha uma etnia e uma história comum busca se constituir em nação, controlar um território e construir seu próprio Estado, dessa forma se constituindo em estado-nação. Neste quadro, o estado-nação é a sociedade política soberana, e o Estado é a instituição maior de uma sociedade em sentido amplo". 

A ideia dos Estados modernos nasce na Europa  no século XIV, com o desenvolvimento do capitalismo. Os estados substituíram os feudos e procuravam integrar,  pela cultura, idioma e educação, os indivíduos num todo nacional. Tais estados buscaram definir suas fronteiras e formaram exércitos nacionais, que obedeciam aos governantes e asseguravam a integridade territorial. 

Há, nos dias atuais, diversos povos e nações sem país, caso dos curdos e dos palestinos, por exemplo. 
Os primeiros vivem entre o leste da Turquia, norte da Síria e do Iraque e no noroeste do Irã. 

A nação curda totaliza cerca de 36 milhões de pessoas, eles reivindicam um país, mas permanecem sendo governados por outros países. Por conta disso, os curdos foram vítimas da violência física e cultural. Nos anos 1990, milhares de curdos foram assassinados pelo regime iraquiano liderado por Saddam Hussein. Na Turquia o idioma curdo é proibido e milhares deles foram presos pelo governo.

Os palestinos vivem numa faixa de terra no Oriente Médio há milhares de anos. Atualmente, cerca de 5 milhões de palestinos continuam a habitar essas terras. As terras que eles reivindicam passaram a compor o Estado de Israel, criado em 1948. Tal fato gerou um conflito sangrento e insuperável entre palestinos e israelenses.

1.10.22

As concepções de organização de territórios na África, Ásia e América



África 

Na África antes da chegada dos europeus, no século XV, a definição dos limites territoriais e das fronteiras entre os diferentes Estados atendeu a particularidades. Enquanto nas sociedades sedentárias buscava-se uma definição mais rígida das fronteiras, entre as sociedades nômades havia certo grau de flexibilidade.

A civilizacão egípcia é um exemplo de sociedade sedentária, cujas fronteiras foram estabelecidas por volta de 3000 a. C. após o rei Menés unificar o Norte e o Sul do Egito.  


A unificação do Egito inaugurou o governo dos faraós, a centralização do poder favoreceu a administração das obras públicas, como diques e canais para controlar as águas do Rio Nilo que contribuíam para a expansão das atividades agropecuárias.

Pequenos reinos independentes, ao sul do Egito, formaram a civilizacão Núbia, a fronteira das duas civilizações ficava nas proximidades da primeira catarata do Nilo. Por séculos núbios e egípcios se enfrentaram, havia até muralhas delimitando as fronteiras dos reinos. Por fim, o Egito venceu e ocupou a Núbia e passou a exercer forte influência cultural e religiosa sobre o povos, além de exercer o controle do comércio.

Na África pré-colonial também havia sociedades que  estavam sujeitas à disponibilidade de recursos. Quando esses recursos se esgotavam, os grupos deslocavam-se atrás de melhores condições de vida. Os tuaregues, por exemplo, são povos pastores, criam camelos, cabras e carneiros, viviam adaptados ao deserto, eram seminômades e organizavam-se em tribos, chamadas kabilas. A região pela qual eles circulavam era vastíssima,  abrangendo o sul do atual Marrocos, a Mauritânia, o sul da Argélia, da Tunísia e da Líbia. Esses grupos eram especialistas no transporte de mercadorias em caravanas de camelos e sabiam encontrar oásis com poços de água.


As fronteiras atuais dos países africanos são uma herança do neocolonialismo praticado pelos europeus de forma arbitrária, especialmente a partir da Conferência de Berlim (1884-1885), visando dominar os nativos e as riquezas naturais disponíveis. Nessa ocasião,  as potências europeias lançaram as bases para ocupar e dividir entre si os territórios africanos desconsiderando as diferentes organizações políticas, e a diversidade étnica dos grupos que habitavam aquelas áreas. 

Posteriormente, quando os povos africanos buscaram autonomia política, na descolonização após a Segunda Guerra Mundial, diversos conflitos eclodiram devido ao artificialismo das fronteiras e dos marcos e divisões que haviam sido estabelecidos pelos europeus.

Marco referencial Ruacaná, fronteira sul de Angola. Autora: Sônia Cristina Cardoso dos Santos Silva. 

Guerras civis foram muito comuns nesse contexto, opondo grupos étnicos rivais que lutavam por espaço e hegemonia, muitas vezes incentivados pelas grandes potências - EUA e URSS - as quais buscavam ampliar sua influência no continente africano. O caso de Angola é emblemático, após sua independência de Portugal  em 1975,  uma guerra civil ceifou milhares de vidas, além de provocar a fuga de cerca de um milhão de refugiados para os países vizinhos. O conflito durou até 2002.

Até os dias atuais, os Estados Africanos trabalham para amenizar as disputar nas áreas fronteiriças e promover maior colaboração entre os povos e nações. 



Ásia 

O continente asiático é o maior em extensão territorial, com 44 milhões de quilômetros quadrados e mais de 4 bilhões de pessoas vivem lá. Há grande diversidade do ponto de vista cultural e natural, com climas e relevos distintos, desde grandes desertos até selvas tropicais.

As fronteiras de muitos dos países asiáticos também foram legadas pelo neocolonialismo praticado pelos europeus, no século XIX. Vejamos o caso da Índia, esse território atrai a atenção dos europeus desde a época das Grandes Navegações, no século XV e a busca da rota por especiarias.

Naquela época, a Índia fazia parte do Império Mogol, uma dinastia muçulmana que administrava o reino em conciliação com a maioria da população adepta do hindu. A harmonia religiosa favoreceu a expansão e o crescimento do Império é suas riquezas atraíam os comerciantes europeus. 

Os britânicos faziam comércio com a Índia desde o século XVII, primeiro estabeleceram feitorias, depois ocuparam o território indiano militarmente, tornando-o parte do Império britânico. Os ingleses compravam matérias-primas da Índia e exportavam produtos industrializados. A Índia era a "joia da Coroa" britânica e só obteve sua independência em 1947. Mas o país foi dividido, gerando dois estados, a Índia de maioria hindu e o Paquistão de maioria muçulmana. 
Tal divisão gerou uma série de conflitos violentos, inclusive disputas territoriais, como a Caxemira, reivindicada pelos dois Estados. 

América

O continente americano, antes da chegada dos europeus, era ocupado por povos com culturas e modos de vida muito distintos. Estima-se que, quando Colombo chegou à América em 1492, o território era habitado por cerca de 57 milhões de pessoas.

Os povos indígenas tinham organizações sociais e políticas diversificadas. Os Incas, por exemplo, formaram um vasto Império com o poder centralizado na capital - Cuzco. Eles tinham uma sociedade rigidamente hierarquizada dirigida pelo imperador.
As fronteiras do Império Inca eram vastas, seus domínios incluíam as terras desde o norte do atual Equador até a região central do Chile.

Outros povos da América do Sul viviam de forma bem diferente dos Incas. Os tehuelches habitavam o extremo sul do continente americano,  a Patagônia, e eram nômades, viviam da caça e coleta. Vagavam por toda a região em busca de recursos. Enquanto os homens se encarregavam da caça,  às mulheres cabia o serviço doméstico e o transporte da tenda da família nos deslocamentos que o grupo fazia.


As práticas desse povo foram duradouras, até o início do século XX era possível encontrar populações com características indígenas, porém eles acabaram exterminados pela ocupação do homem branco.


7.9.22

Descolonização da África e da Ásia



Ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, os vínculos coloniais da Europa na Ásia e na África estavam abalados. As populações nativas questionavam o colonialismo e o ideal civilizador propagado pelos europeus. A ONU defendia o princípio da autodeterminação dos povos e algumas das nações africanas e asiáticas vão receber o apoio dos E.U.A e U.R.S.S para lutar pela independência de seus países. 

África 

As potências europeias dividiram entre si o território africano para explorar suas riquezas  e recursos naturais. As nações africanas lutaram por emancipação, mas tal processo histórico foi bastante heterogêneo e complexo, marcado por protestos e disputas, violência e derramamento de sangue. Vejamos:

Marrocos e Tunísia 

O Marrocos estava ocupado por franceses e espanhóis. As forças guerrilheiros do Marrocos foram lideradas pelo sultão Sidi Mohammed, Maomé V. Ele exigiu a retirada de espanhóis e franceses do país. A independência do Marrocos foi reconhecida em 1956 e Maomé V reinou até 1961, ano de sua morte.

A luta pela emancipação da Tunísia começou a ganhar força em 1934, com a fundação de um partido, o Partido da Nova Constituição (Neodestour). O líder do partido era Habib Bourguiba ele governou o país, após a França reconhecer a independência em 1956. O governo de Bourguiba foi de 1957 até 1987.

Congo

O Congo tornou-se uma colônia belga em 1908, sendo considerada a joia do rei Leopoldo II da Bélgica. O Congo era rico em pedras preciosas, marfim e látex.  Os congoleses exigiam retirada imediata dos colonos, mas o belgas defendiam que ela ocorresse gradualmente. A independência do Congo só foi conquistada em 1960, após muitos conflitos.

Gana e Quênia 

O domínio britânico na África fora abalado em 1956, quando os egípcios nacionalizaram o Canal de Suez. Os ingleses, desde então, realizaram u.a retirada gradual dos territórios ocupados, buscando manter sua influência, mesmo que de forma indireta, sob os antigos domínios. Gana, a antiga Costa do Ouro, obteve sua independência em 1957 após um movimento pacífico liderado por Kwane Nkrumah, que se tornou o primeiro presidente do país. 

No Quênia os colonos travaram uma luta violenta contra os revoltosos e a independência do país foi em 1963.

Na Rodésia do Sul, os colonos europeus tomaram a iniciativa da independência, em 1965. Eles eram donos das terras mais férteis e implantaram um regime de segregação racial, apoiados pela África do Sul, que prolongou-se até 1979.

Etiópia 

Antiga colônia italiana, a Etiópia sofreu nova invasão em 1936. Os italianos sob a ordem do líder Benito Mussolini atacaram a Etiópia e só expulsos do país em 1941, com a ajuda das forças britânicas.

Com a derrota da Itália fascista na Segunda Guerra Mundial, as colônias italianas ficaram sob a administração anglo-francesa. Assim, a Líbia, Eritreia e Somália ganharam autonomia.

Angola

Portugal foi um dos países mais resistentes à ideia de abrir mão de suas possessões além-mar. Entretanto, havia revoltas em Angola e Moçambique reivindicando sua independência. 

O custo da guerra para manter as colônias era alto, o orçamento português ficou comprometido, o que levou o exército e a população de Portugal a se revoltar contra a ditadura salazarista.

As colônias portuguesas na África obtiveram a independência entre 1974 e 1975. São elas: Guiné-Bissau, Moçambique, Cabo Verde,  São Tomé e Príncipe e Angola.

O Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola, em 1975.


Ásia 

Índia 

Na Índia o domínio britânico era questionado pela população local que era formada por diversos grupos - hindus, budistas e muçulmanos. Não havia unidade dos indianos quanto a estratégia de resistência contra os ingleses. Alguns defendiam a luta armada, outros eram a favor da desobediência civil.

Mahatma Gandhi era, desde 1919, o líder do resistência pacífica. Gandhi inspirou-se na obra do filósofo norte-americano Henry Thoreau, o qual foi preso por recusar-se a pagar impostos, alegando que tais recursos iriam financiar a guerra dos E.U.A contra o México. 



A Índia obteve o reconhecimento de sua independência em 1947, no entanto, a política de partição resultou na criação de dois estados- Índia e Paquistão. O primeiro era de maioria hindu e budista, o último de maioria muçulmana.




Gandhi lutou pela reintegração dos dois Estados, mas não obteve sucesso. Ele foi assassinado em 1948, por um jovem extremista hindu.

Indochina

O território da Indochina, que reunia o Laos, o Vietnã e o Camboja,  esteve sob o domínio francês até a Segunda Guerra Mundial, quando foi invadido pelo Japão. Em 1941, o líder comunista Ho Chi Minh fundou a Liga Revolucionária para a Independência do Vietnã. 


Em 1945, foi proclamada a República Democrática Popular do Vietnã, cuja capital era Hanói. 

A França reconheceu a independência do Norte do Vietnã, mas manteve o controle sobre o Sul, dividindo o território. A luta contra os franceses provocou a guerra da Indochina entre 1946 a 1954.

Ao final do conflito, a França foi derrotada e reconheceu a independência do Laos e do Camboja. O Vietnã continuou dividido, com o surgimento da República Democrática do Vietnã,  no Sul, que era capitalista. 

No acordo de paz negociado em Genebra havia previsão de reunificação do território, mas como ela não ocorreu acabou gerando a Guerra do Vietnã, entre 1964 e 1975, opondo socialistas e capitalistas, com intensa participação da URSS e dos EUA, por meio do fornecimento de armas e, no caso norte-americano, envolvimento direto na guerra.

11.8.22

[HCS] Cultura e Diversidade



A Zona da Mata mineira, localizada na região sudeste de Minas Gerais, compreende uma área de 35.137,50 Km², equivalente a 6,1% do território estadual.




Essa messoregião é formada por centenas de municípios,  dentre eles podemos citar Muriaé, Cataguases, Juiz de Fora, Ubá, Viçosa e Manhuaçu. 

A Mata mineira conta com bacias hidrográficas importantes, como a do Rio Paraíba do Sul, ao sul e à leste, e a do Rio Doce, ao norte.

No relevo há o predomínio dos mares de morros,  e também algumas  serras com destaque para o Pico da Bandeira, com 2.890 metros de altitude, na cidade de Alto Caparaó.
O Pico da Bandeira é o terceiro ponto mais alto do Brasil. 

A vegetação nativa é caracterizada pela Mata Atlântica. O clima é tropical de altitude, com verões quentes nas partes baixas e mais brandos em áreas elevadas, como a Mantiqueirara e Caparaó. 

Estima-se que pouco mais de 2 milhões de pessoas vivem na Zona da Mata mineira, distribuídas entre os 143 municípios que fazem parte dessa messoregião. 

Diversidade cultural 

Considerando a sua extensão territorial, bem como as particularidades e dinâmicas das inúmeras cidades da Zona da Mata mineira podemos deduzir que a região é bastante heterogênea do ponto de vista social e apresenta muita diversidade cultural. 

Temos cidades grandes, reconhecidas nacionalmente, como Juiz de Fora que, atualmente,  possui cerca de 577 mil habitantes, cuja economia tem significativa participação da indústria e principalmente do setor de serviços e comércio.
Juiz de Fora. 


Num outro espectro, há muitos municípios pequenos e com poucos habitantes, como, por exemplo,  Argirita, cuja população estimada é de 2.681. Nesse município as atividades agropecuárias possuem muita relevância na economia local e geram renda e oportunidades.
Argirita. Foto: Bianca Medina.

Com tantas diferenças é natural que as manifestações culturais sejam mais ricas e diversificadas, com desdobramentos na música, dança, culinária e artesanato. Vejamos algumas manifestações culturais que se destacam na Zona da Mata mineira. 

Artesanato

O artesanato é uma valiosa fonte de renda para milhares de pessoas que vivem em nosso estado. As atividades artesanais movimentam o mercado e promovem o turismo. Viajando pelas cidades da mesorregião é possível encontrar nas feirinhas e lojas muito talento e arte. 


O artesanato mais comum é o bordado em tecido, como toalhas e panos de prato. 
Há também inúmeros trabalhos em argila e madeira, que são matérias-primas de esculturas representando os símbolos da fé e da religiosidade do povo mineiro ou elementos do meio rural.

Danças típicas 

As danças e os folguedos fazem parte da tradição mineira e estão por toda parte. Grupos existentes em várias cidades procuram manter vivas tais atrações. É o caso do mineiro pau e da quadrilha. Na primeira, as pessoas utilizam bastões de forma ritmada. 


A última, acontece nas festas juninas e mobiliza multidões.

Gastronomia

Aceita um docinho? Os sabores incomparáveis dos doces e quitutes colocam a culinária mineira entre as mais concorridas do país. 
Cooperativas e pequenos empreendedores produzem doces variados - em barra ou compotas - aproveitando a sazonalidade das frutas, especialmentea goiaba, manga e banana.


Além de doces, há fabricação de produtos derivados do leite, como queijo, iogurte, doces, requeijão e manteiga. 


Belezas naturais

E o que dizer de nossos atrativos naturais? A Mata mineira possui belíssimas serras e cachoeiras, além de parques com muito verde e ar puro ideais para o descanso e relaxamento.
Parque estadual de Ibitipoca.



Belezas arquitetônicas e de valor histórico, artístico e cultural 

A Mata mineira é um museu vivo! Em diversos pontos, nas cidades ou nas fazendas, a história é contada e se faz bem viva, preservada em antigos edifícios e casarões. 
É visitar para conhecer de perto, apreciar e se encantar!