20.12.18

Férias

Estamos de férias!

Desejamos a todos os nossos alunos e alunas, amigos e amigas de trabalho e aos visitantes do Acrópoe - História & Educação um feliz Natal e próspero ano novo!



Que Deus nos abençoe em 2019 e ajude a minimizar os graves problemas nacionais, como a violência, pobreza e a falta de ética nos diversos segmentos da vida pública e privada.

Até breve e bom descanso para nós.




10.12.18

Opinião: A direção de escola tem que acabar

Já escrevi e defendi aqui no Blog que a direção das escolas públicas deveria ser colegiada. O controle das escolas deveria passar das mãos de diretores para os representantes da comunidade escolar, os quais decidiriam os rumos da instituição de ensino.

Pois bem, reafirmo a defesa de meu ponto de vista e farei um relato de experiências que vivi, ao longo de doze anos de carreira, trabalhando em diversas escolas, em regiões e estados diferentes. É essa experiência, resultado de minhas observações e do convívio profissional que mantive com inúmeros diretores, que embasa a minha opinião.

Adianto que, na maioria das vezes, ter vivenciado o dia a da escola sob a batuta dos gestores foi desagradável, presenciei muitas injustiças, irregularidades e práticas condenáveis. Além disso, muitos gestores "pararam no tempo", não possuem boa formação acadêmica e pedagógica, tampouco administrativa, não são afeitos ao hábito de estudar. Houve exceções, tive o prazer de trabalhar com um gestor que priorizava o respeito e o carinho acima de tudo, foi uma das pessoas mais belas que conheci até hoje.
Importante destacar que também fui diretor de escola, por três anos, estive do outro lado, sei que é complicado liderar pessoas com ideias diferentes, às vezes conflitantes, e garantir a implantação das políticas educacionais do governo. Mas enquanto fui diretor sempre busquei o diálogo, o respeito e a observância dos princípios fundamentais da administração pública. Certamente não agradei a todos, mas, graças ao bom trabalho que fiz, fui reconhecido e até hoje sou saudado por muitos.

Além de minhas impressões pessoais, as quais relatarei a seguir, escuto rotineiramente as reclamações dos colegas com os quais eu trabalho, que também atuam em outras escolas e compartilham suas frustrações e angústias sobre o que os gestores andam aprontando por aí.

Diretores, pelo que pude observar, personalizam em si o poder, normalmente querem se afastar da sala de aula, estão de "saco cheio" da rotina de ensinar e articulam formas para ocupar cargos diretivos. Uma vez que assumem a função querem se eternizar nela. Quem não conhece diretor, aqui na Regional de Leopoldina, por exemplo, que permanece na função por uma década ou mais?

Por personalizar o poder, esses diretores ficam "caolhos", se tornam anti-democráticos, recebem o apoio de alguns professores e funcionários da escola, que dão o aval às suas ações discricionárias. Tais ações são referendadas ainda pelo Colegiado, órgão consultivo e deliberativo da Escola, cujos membros são "escolhidos", "sugeridos" e "apontados", na surdina, pelos diretores, para dar respaldo e uma falsa aparência de normalidade coletiva à iniciativa e ao desejo individual do gestor.

Caso algum professor ou funcionário se rebele contra as atitudes do diretor há diferentes formas de punição: ameaças veladas, mudança de horário para prejudicar e dificultar a vida do servidor, nota baixa na Avaliação de Desempenho (cuja comissão também tem indicados do diretor, que a preside), isolamento do servidor rebelde e outras formas de assédio moral.

Senti isso na pele, em certa ocasião havia acabado de chegar numa escola, tinha sido removido. Com minha chegada, o professor contratado foi dispensado. Por acaso ele era primo do gestor da escola. Alguns dias depois de minha chegada o gestor me chamou e me informou que o horário de minhas aulas iria passar por alteração, as aulas que eram ministradas em 2 dias, misteriosamente, passaram para 3 dias. De modo impositivo, sem chance alguma de apelação, tive de aceitar o horário e por um semestre inteiro tive que viajar mais, gastando mais dinheiro com passagens de ônibus para me deslocar para a escola. Claramente o gestor não me queria na escola, dificultou minha vida, criou um estímulo para que eu deixasse a escola o mais rápido possível para que seu primo retornasse ao cargo. E assim ocorreu! Me transferi para outra escola, onde conheci um gestor maravilhoso, muito humano, com o perdão da redundância, amoroso e educado.

Em outra escola vivi um momento dificílimo, o gestor era bastante radical e fervoroso na defesa de suas ideias, misturava suas crenças com a administração pública da escola, se dizia um escolhido de Deus para dirigir. Aqueles que eram adeptos de sua doutrina tinham certas vantagens, "regalias", "privilégios" e "proteção" na escola. Os que não aceitavam e levantavam a voz contra aquele tipo de administração baseada num fanatismo era perseguido. Eu fui um dos que ousou erguer a voz contra a tirania. Com isso, o gestor passou a me enxergar com maus olhos, quando me via não cumprimentava, instigou pais e alunos contra mim, usou até de mentiras para me fazer passar por um processo administrativo, arquivado posteriormente por instâncias superiores. Enfim, era um gestor que perseguia, coagia e isolava aqueles que não lhe agradavam. Foi um momento profissional horrível, de descrença pessoal na profissão e também de busca de forças internas, apoio e ajuda para superar uma fase nebulosa.

Ao longo de mais uma década trabalhando em escolas públicas pude observar pequenas, porém graves, transgressões cometidas por diretores despóticos. Eles fazem do cotidiano escolar, um ambiente plural que deveria ser pautado pela democracia e pela busca da convivência harmônica, um local de medo, terror e silêncio. Não possuem boa formação e nem as habilidades e competências necessárias para liderar e exercer plenamente as funções inerentes ao cargo. Eles misturam crenças e assuntos da esfera privada com a esfera pública, alguns se corrompem, infringem a lei. Com relação ao assédio moral dos chefes em relação aos subordinados a situação é delicada, a vítima sofre em silêncio, ocorreu comigo e vi acontecer com colegas de trabalho que derramaram lágrimas, deixaram a escola por conta da dor de ser perseguido e não ter a quem recorrer. É difícil se defender do assédio, não sabemos exatamente a quem ou qual órgão buscar socorro, é difícil obter provas e testemunhos, ainda mais quando muitos membros da escola são cooptados pelo diretor. O pior é que a instância superior à escola, órgãos como as Superintendências e Coordenadorias, em diversas vezes têm conhecimento de tais infrações e são coniventes, nada fazem para enquadrar o gestor e obrigá-lo a ser mais imparcial, justo e obedecer a legislação vigente. Simplesmente lavam as mãos.

Paro por aqui para não me estender mais, ainda há muito para relatar, talvez em outra postagem. Mas por tudo que vi e vivi é que defendo que a gestão da escola passe para o poder dos membros da comunidade escolar, se torne uma efetiva e real gestão colegiada. As decisões precisam ser tomadas coletivamente, após discussões e análises de todos os representantes dos vários segmentos que compõe a escola. Não deve haver um diretor e nem gratificação financeira, isso representaria até uma economia para os cofres públicos. Pais, alunos, professores e servidores da escola devem administrá-la, observando a legislação educacional vigente.

O modelo atual de administração escolar fabrica, por todos os cantos, diretores autoritários que cometem, impunemente, abusos de poder. Isso não contribui em nada para o aperfeiçoamento do ensino e nem melhora a formação dos estudantes, logo não concorre para o processo de construção de uma sociedade com valores democráticos.