Já virou senso comum que é necessário rever o Currículo Escolar para resolver o problema da Educação no país.
O Currículo agora foi eleito como um dos principais "vilões" da Educação básica brasileira.
Não é preciso pagar o piso salarial para os professores, o que lhes conferiria um mínimo de valorização e dignidade profissional, também não é necessário investir na infraestrutura precária das escolas, tampouco aperfeiçoar os processos de gestão da escola, capacitando os gestores e promovendo a efetiva democratização da escola.
Nada disso é preciso, agora o foco é o Currículo. Mudá-lo pode salvar o Ensino, reduzir os elevados índices de evasão escolar do Ensino Médio, tornar a Educação mais atrativa para os adolescentes e tirar o Brasil dos últimos lugares nos rankings internacionais que medem a qualidade do Ensino e da Aprendizagem.
A fala da atual Secretária de Estado de Educação de Minas Gerais, senhora Macaé Evaristo, reforça a ideia de que o Currículo precisa ser repensado. Vejamos o que ela disse logo após decretar o fim do Programa "Reinventando o Ensino Médio" do governo anterior:
“A Secretaria de Estado de Educação promoverá com a Comunidade Escolar a construção coletiva de uma nova proposta de Ensino Médio, que seja compatível com as necessidades de nossos jovens, as especificidades regionais e o mercado de trabalho...” (Fonte: Site da SEE-MG).
Nesse depoimento é possível identificar um dos grandes desafios postos pelos especialistas: conciliar as disciplinas do Ensino Médio com vista às necessidades de formar mão de obra para o mercado de trabalho.
Para engendrar o Currículo ideal, os políticos e especialistas têm proposto diversas soluções, desde o estabelecimento de diretrizes curriculares nacionais até currículos estaduais e, em alguns casos, a possibilidade da própria escolar definir o que deve ser ensinado.
O filósofo Fernando de Paula Lima afirma que: "Cabe à escola optar por um programa que contemple as necessidades dos estudantes e as características da comunidade em que eles vivem, afinando-o ainda com as diretrizes dos currículos nacionais." (Fonte: Revista Escola On-line).
Defende, portanto, que a escola, de acordo com suas especificidades, escolha o currículo, mas que ele esteja dentro dos ditames de uma matriz nacional. Na realidade e na prática docente, nós, educadores, vivenciamos essa questão como uma "liberdade limitada", pois se pode alterar o currículo desde que você observe o que já está pré-estabelecido pelo MEC e pela Secretaria Estadual.
A respeito das mudanças curriculares que os especialistas e políticos apregoam que sejam necessárias para melhorar a Educação, contrapõe-se o pensamento do educador Dermeval Saviani. Para ele, a descrença no papel tradicional da Escola tem gerado um desprestígio dos educadores e da cultura escolar.
Assim, afirma o professor: "Nesse tipo de “cultura escolar”, o utilitarismo e o imediatismo da cotidianidade prevalecem sobre o trabalho paciente e demorado de apropriação do patrimônio cultural da humanidade. Com isso, a escola foi sendo esvaziada de sua função específica ligada ao domínio dos conhecimentos sistematizados." (Carta na Escola, nº 46, Maio de 2010. p. 66.)
Note que na afirmação "a escola foi sendo esvaziada de sua função específica" temos uma situação bastante problemática, tendo em vista que a escola, nos dias atuais, tem feito de tudo para cuidar dos alunos, exceto ensinar o que lhe compete.
Se parássemos de ficar tentando encontrar fórmulas mágicas e trabalhássemos o essencial para formar alunos com senso de cidadania, proficiência em línguas, cálculo e ciências, teríamos, sem dúvida, uma geração mais apta a colaborar com um projeto de desenvolvimento nacional. Isso sem esquecer que as escolas precisam de cuidados, precisam ser bonitas, atraentes, equipadas. Quanto aos professores, deveriam receber uma remuneração justa para trabalhar em período integral em apenas uma escola, onde teriam a possibilidade de ter acesso a formação continuada e poderiam se dedicar exclusivamente aos seus alunos e aos projetos escolares.
Mas as medidas concretas em prol da Educação básica pública estão longe de virar realidade. Enquanto o discurso vazio dos políticos continuar captando votos e as malfadadas políticas públicas do setor continuarem gerando milhões e milhões de reais com a terceirização [e precarização] da Educação, continuaremos assistindo a um show de horrores, como o aumento da violência, da corrupção e da intolerância em todo o país.