4.6.15

Democracia racial?

O mito da "democracia racial", o qual apregoa que no Brasil não há racismo, e que as diferentes etnias (descendentes de europeus, de afroamericanos, de índios e de outros povos) convivem harmonicamente caiu em descrédito, no meio acadêmico, há bastante tempo.

Contudo, resultados de uma pesquisa realizada pela ONU, os quais foram divulgados no final do ano passado, alertam que no país ainda há defensores da ideia de democracia racial e, o pior, os dados apontam que o racismo no Brasil é institucionalizado.


As informações levantadas pelos pesquisadores vão de encontro a ideia de que no Brasil todo mundo é igual. Você duvida? Então confira:
  • os negros no país são os que mais são assassinados, são os que têm menor escolaridade;
  • os negros recebem os menores salários; 
  • a etnia afrodescendente possui a maior taxa de desemprego; 
  • tem o menor acesso à saúde; 
  • são os que morrem mais cedo;  
  • têm a menor participação no Produto Interno Bruto (PIB); 
  • são os que mais lotam as prisões;
  • os negros são os que menos ocupam postos nos governos.

Enfim, se vivemos num pais que tem igualdade étnico-racial acho que teremos que rever o significado do conceito de racismo. Ou devemos repensar nossa História, pois aqui o racismo sempre ocorreu, quando não de forma explícita, manifesta-se de modo velado. É verdade que não tivemos no Brasil uma segregação tão explícita como ocorreu, por exemplo, com os E.U.A, destacadamente na década de 1960.

Contudo, os norte-americanos superaram o racismo violento que permeava a relação entre negros e brancos naquele país. O movimento negro norte-americano conquistou direitos civis e um tratamento menos desigual do que o que é dispensado aos afrodescendentes do Brasil.

Nos EUA, cidadãos negros ocuparam e ainda ocupam cargos importantes no governo, tais como Colin Powell e Condoleezza Rice, os quais foram Secretários de Estado do governo do presidente Bush, entre os anos de 2001 a 2009. E Barack Obama, primeiro afro-americano a ocupar o cargo de presidente. Eleito em 2009, ele governa os EUA até os dias de hoje.




Não queremos defender aqui que os EUA são o paraíso racial, pois não são. Basta ver como os norte-americanos tratam os imigrantes latinos, orientais e outros grupos étnicos que vivem ou pretendem viver no país. Eles enfrentam as leis anti-imigração, preconceito e outras dificuldades. Porém, nos EUA o racismo foi enfrentado de uma maneira diferente. A luta por direitos civis foi intensa e houve grande mobilização para que esse direito fosse efetivado.

No Brasil, como o racismo sempre foi algo "oculto" o movimento negro brasileiro não teve tanta mobilização e nem a força social e política que os afrodescendentes conseguiram nos EUA. Isso não diminui as conquistas do movimento negro brasileiro, apenas indica que a luta aqui, talvez, seja mais complicada por conta de processos históricos, sociais e culturais específicos do Brasil.

Além das especificidades que tornam a luta contra o racismo mais difícil, as elites brancas e dirigentes do país sempre agiram de maneira ardilosa, tentando  passar para o povo a ideia de que no Brasil o racismo não era um problema, argumentando que aqui não houve segregação racial. Isso justificava a falta de políticas públicas para combater o racismo e manter a falsa aparência de que estava tudo bem no país.  Prova disso é que somente em 1989 tivemos um legislação mais rigorosa contra crimes raciais no Brasil (leia mais sobre a legislação contra o racismo clicando aqui).

A partir de 2003, com o governo Lula, mudanças começaram a ocorrer, em doses homeopáticas é verdade, de maneira tímida e conservadora, mas começaram.
O presidente promulgou uma Lei que incluía nos currículos de todas as escolas de Educação Básica o Ensino da Cultura e História da África e também incentivou ações afirmativas, como a reserva de cotas para negros ingressarem nas universidades públicas, com o objetivo de combater a desigualdade étnico-racial.


Presidente Lula.


Mais de dez anos após o governo brasileiro ter acordado do sonho de estar vivendo num paraíso racial, o Brasil ainda tem muito por fazer para garantir mais igualdade para seu povo e efetivar a democracia.
O ano passado foi emblemático e comprova que o racismo está bem vivo no imaginário do povo, tendo em vista os inúmeros casos de preconceito racial ocorridos no futebol (leia sobre o caso do goleiro Aranha clicando aqui).

Enfim, ainda há muito por fazer para enterramos os resquícios de um passado escravocrata tão marcante na História nacional. Quando esses grilhões forem rompidos teremos edificado os alicerces para construirmos uma sociedade mais tolerante à diversidade étnica e cultural do povo brasileiro.

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