1.5.23

Patrimônio histórico, memória e a construção da identidade nacional



A construção da identidade nacional no Brasil

No dia 7 de setembro de 1822 o Brasil rompeu o vínculo de colônia em relação a Portugal. Assim, nascia um novo Estado e uma nova nação, a qual precisava ser devidamente construída com uma forma de governo, constituição, leis, um povo e uma História em comum.

A História, nesse sentido, colaborava para criar uma identidade comum às pessoas que viviam naquela comunidade nacional. O passado, com seus símbolos, mitos e heróis, contaria a história da nação e construiria a identidade nacional do povo.

Os responsáveis por esse processo de construção do Estado e da identidade nacionais foram homens da elite econômica, como fazendeiros, senhores de engenho, criadores de gado, produtores de café entre outros. O projeto político desses homens era bastante conservador, queriam preservar a integridade territorial e as bases do sistema econômico agroexportador e escravocrata. 

Após a independência do Brasil a literatura assumiu a importante função de colaborar para a construção da identidade brasileira. Nesse sentido, parte da produção literária se esforçou para criar um sentimento de pertencimento a uma comunidade nacional entre um povo muito heterogêneo. A literatura reproduzia valores, costumes e símbolos que representariam todo o povo brasileiro, diferenciando-o das demais nacionalidades.

O Romantismo exerceu forte influência sobre a produção literária brasileira. Os autores nacionais elegeram a natureza e os índios como símbolos da peculiaridade brasileira. Assim, surgia o Romantismo Indianista no Brasil. Os índios, habitantes originais da terra, eram a ponte com o passado e a origem da nacionalidade. Entre os autores indianistas destacamos Antônio Gonçalves Dias, autor de Primeiros Contos (1846) e Os timbiras (1857).

No romance indianista os índios são retratados de maneira idealizada, são figuras heroicas e valentes. Os europeus, especialmente os portugueses, são vistos como portadores da civilização e da fé, também contribuindo para a construção da nacionalidade. O encontro entre os índios e os portugueses era elogiado, pois considerava-se que a mestiçagem cultural era a característica original da nacionalidade brasileira. 

Na segunda geração de autores românticos tivemos nomes, como José de Alencar (O guarani, Iracema) e Joaquim Manoel de Macedo (A moreninha), os quais, além de romancistas, exerceram cargos políticos e participaram dos debates sobre as questões nacionais, entre elas a escravidão. Alencar defendeu a escravidão, Macedo considerava que a prática iria corromper os valores civilizados.

A última geração dos românticos teve como expoente o poeta Castro Alves (Navio negreiro, 1868), ardoroso defensor da abolição da escravatura. 

Para reforçar a identidade nacional a História era uma ferramenta essencial. Por isso, em 1838 foi fundado o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) o qual era apoiado pelo governo e pelo imperador. Os membros do Instituto eram militares, juristas, políticos, homens brancos da elite do país. 

O patrocínio do Estado brasileiro ao IHGB converteu-se, no campo geográfico, na realização de expedições para explorar e descrever o território nacional, suas riquezas e potenciais, mapear zonas fronteiriças com outros países e realizar estudos etnográficos ligados à questão indígena.

O papel do IHGB e a construção da identidade nacional 

"... preocupação central [dos membros do IHGB] em elaborar uma narrativa sobre o passado nacional converteu-se no que ficou conhecido como História oficial. Uma versão do passado que unificasse a população em uma História que exaltava o Estado, a ordem estabelecida e apresentava um elenco de heróis nacionais, que deveriam encarnar os valores que seriam a marca da brasilidade ." 
(DOLHNIKOFF, 2017,p. 74).

O IHGB deveria se encarregar de produzir a História oficial do país, com a qual todos os brasileiros deveriam se identificar. Nesse sentido, um dos nomes ligados ao IHGB que podemos destacar é o do historiador Francisco Adolfo de Varnhagen, o qual publicou, em 1854, a obra História Geral do Brasil. Nela, o autor elogiou a colonização portuguesa, atribuindo a tal ação o caráter civilizador e destaca que o sentimento de brasilidade teria surgido no século XVII, quando os colonos enfrentaram e expulsaram os holandeses de Pernambuco. 

No campo das artes plásticas, a pintura também colaborou no sentido de glorificar o passado e promover o culto aos heróis. O melhor exemplo disso pode ser observado na tela "Independência ou Morte" de Pedro Américo. 

A obra foi produzida entre 1886 a 1889, teve apoio financeiro do governo, e tem as seguintes dimensões 4,15 X por 7,60 metros. Atualmente, a pintura encontra-se no Museu do Ipiranga (Museu Paulista da Universidade de São Paulo), prédio construído entre 1885 a 1890 com o objetivo de se tornar um monumento, guardião da memória da independência nacional. 


Enfim, após a independência do Brasil a elite do país esforçou-se para criar e difundir um sentimento de brasilidade. O esforço de construção da identidade nacional se deu através da publicação de obras literárias, estudos de história, expedições geográficas e construção de obras e monumentos que ocorreram no século XIX com o objetivo de preservar a memória coletiva.


Avaliação

1. O texto abaixo se refere à construção da identidade nacional no Brasil no decorrer do século XIX, sobretudo a partir do Segundo Reinado. Leia o trecho e, em seguida, responda à questão:

“Por oposição ao negro, que lembrava a escravidão, o indígena permitia identificar uma origem mítica e
unificadora. (...). A natureza brasileira também cumpriu função paralela. Se não tínhamos castelos medievais, templos da Antiguidade ou batalhas heroicas para lembrar, possuíamos o maior dos rios, a mais bela vegetação.
(...). Por mais que tenha partido de d. Pedro I e de Bonifácio a tentativa de elaborar (...) uma ritualística local, foi com d. Pedro II e seu longo reinado que se tornaram visíveis a originalidade do protocolo e o projeto romântico de representação política do Estado” (SCHWARCZ, Lilia. As Barbas do Imperador, p.140).

Com base no trecho acima e em seus conhecimentos, é CORRETO afirmar que a identidade nacional no século XIX foi construída:

a) Tendo como base as referências europeias existentes nas províncias que formavam o Brasil antes da Independência do país.
b) A partir de um processo de longa duração, que se valeu do uso de aspectos naturais e de elementos simbólicos locais que pretendiam representar a Nação.
c) De forma consensual e harmônica, considerando a heterogeneidade dos diferentes povos que formavam o país.
d) Através da valorização da herança africana e dos costumes da África, continente ao qual o país estava diretamente ligado pelo Atlântico Sul.
e) Com o objetivo de reproduzir no país recém-independente as mesmas características existentes em Portugal. 

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