28.11.23

Entrevista exclusiva: Professora Vanete Santana-Dezmann



AC  - Conte para nós como tem sido sua trajetória acadêmica e profissional até aqui? E com quais projetos está envolvida atualmente?

 

Vanete - Fiz Licenciatura e Bacharelado em Letras na Unicamp nos anos 1990, depois eu fiz Aperfeiçoamento em Teoria Literária também na Unicamp e, por fim, Mestrado e Doutorado em Linguística Aplicada na subárea de Teorias da Tradução. Eu tive como professora durante a graduação na Unicamp a Marisa Lajolo, que é um dos maiores nomes quando se tratam de especialistas em Monteiro Lobato e, por meio dela, eu conheci principalmente a obra adulta do Monteiro Lobato. A obra para adultos, pois a infantil, claro, nós que crescemos nos anos 1970 conhecemos primeiramente por meio da TV. Muitas crianças tiveram contato nos anos 1970 com os livros infantis do Lobato, com a obra infantil, por causa da série de TV. Eu não tive contato com a obra infantil escrita do Lobato quando eu era criança. Eu lia outro tipo de literatura. Eu tinha mais interesse por estudos da área de astronomia e outros correlatos.

Quando eu estava na graduação, foi a época em que a Marisa, como professora na Unicamp, montou o grupo de pesquisa sobre Monteiro Lobato. Eu cheguei a fazer parte das reuniões iniciais, mas me interessava mais na época pela Idade Média e aí eu fui fazer Iniciação Científica em Estudos Medievais e acabei deixando os estudos sobre Lobato de lado. Quando eu estava no Doutorado, no programa de pós lá do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, havia sido instituída a necessidade de que além da pesquisa principal, que era a pesquisa do Doutorado em si, nós fizéssemos duas pesquisas fora de área. Então nós tínhamos, além do orientador da pesquisa principal, mais dois outros orientadores e tínhamos mais duas outras pesquisas. Então eu escolhi a Marisa Lajolo como orientadora de uma das pesquisas fora de área e foi bem engraçado porque a Marisa virou pra mim e disse: "Vanete, você sabe que eu só trabalho com Monteiro Lobato, né?". Daí eu falei: "Claro, eu vou fazer a pesquisa sobre Lobato sem problema!" Então, como o tema da pesquisa principal do meu Doutorado estava relacionado a estudos germânicos, ela sugeriu que eu fizesse uma pesquisa sobre a adaptação que o Lobato fez da obra do Hans Staden, que em português tinha sido publicada como Duas viagens ao Brasil. Eu acabei fazendo essa pesquisa, que era pra ser simplesmente uma pesquisa fora da área de concentração de minha pesquisa principal, mas a minha orientadora achou a pesquisa e os resultados tão interessantes que ela sugeriu que eu mantivesse o trabalho sobre aquele tema e deixasse a minha pesquisa principal para depois, para um eventual pós-doutorado. Assim, eu acabei abandonando a minha pesquisa principal e mudei o meu objeto para o trabalho que o Lobato fez com a obra do Hans Staden. Eu acabei fazendo o doutorado sobre como Monteiro Lobato utilizou a literatura estrangeira, principalmente a obra do Hans Staden, para expressar o seu conceito de construção de uma nacionalidade brasileira, um projeto no qual o Lobato trabalhou o vida inteira. Foi assim que meu Doutorado acabou sendo sobre Monteiro Lobato. Eu fiz uma parte da pesquisa na Universidade Livre de Berlim (o doutorado-sanduíche) como bolsista do DAAD e da CAPES.  Depois eu voltei pro Brasil, defendi a tese, trabalhei um tempo, entrei no Pós-doutorado e retomei o projeto que eu tinha durante o Doutorado, aquele que eu abandonei antes para trabalhar com o "Lobato". Durante o Pós-doutorado, que eu fiz na USP, eu fui novamente para a Alemanha para fazer parte da pesquisa, pois minha pesquisa era relacionada aos estudos germânicos. Eu fiz a pesquisa no Museu Goethe, em Dusseldorf. Eu fui com bolsa da Fapesp. Depois do Pós-doutorado, eu morei na Alemanha por alguns anos e ingressei, como professora, na Universidade de Mainz, a Johannes Gutenberg. Como professora de tradução no Curso de Tradução Alemão-Português, eu acabei criando um projeto de tradução que fazia parte de metodologias inovadoras de ensino de tradução, que consistia justamente na tradução de Reinações de Narizinho para o alemão. Desde então, eu tenho trabalhado quase que exclusivamente com Monteiro Lobato. A partir deste projeto, que resultou na publicação de Reinações de Narizinho em alemão, com tradução dos meus alunos do curso de Tradução e também com o apoio do professor Marcel Vejmelka (que era responsável pelas aulas de tradução de português para alemão – eu era responsável pelas aulas de tradução de alemão para português; nós trabalhamos juntos), eu passei a trabalhar quase exclusivamente com lobato. Depois desse projeto, que resultou na publicação da tradução, junto ainda com a Universidade, e com o professor John Milton, da USP, acabei criando a "Jornada Monteiro Lobato". Isso foi em 2019. E depois da "Jornada" de 2020, por sugestão do professor Jonh Milton, criamos também os "Encontros com Lobato", que ocorrem mensalmente na Universidade de São Paulo, com transmissão pelo YouTube (FFLCH-USP). Deste projeto e destas iniciativas, nasceram três livros contendo artigos sobre Monteiro Lobato. Estamos, no momento, organizando o quarto livro. Também nasceram o grupo de pesquisa e a minha análise de O presidente negro, que foi publicada em 2021 (Entre metafísica, distopia e mecenato), e houve vários outros desdobramentos. Entre eles, a publicação da tradução de O presidente negro para o inglês, feita pela Ana Lessa, que faz parte do nosso grupo de pesquisa e contou com o financiamento da Fundação Biblioteca Nacional. Há também várias palestras, tanto minhas quanto de integrantes do grupo sobre Monteiro Lobato. Enfim, acabou se formando um movimento muito grande e os projetos atuais que nós temos são todos relacionados a Monteiro Lobato. Pretendemos continuar analisando a obra de Lobato e publicando estas análises, tanto por meio de artigos e livros quanto por meio de palestras e mesas-redondas que nós organizamos. Também estamos no momento organizando a V Jornada Monteiro Lobato e todos os integrantes do grupo "Observatório Lobato" têm projetos relacionados ao autor.

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AC - Qual a importância deste autor e de sua obra no panteão literário e cultural nacional?

 

Vanete - Monteiro Lobato é um dos principais agentes culturais do Brasil. A importância de Lobato se deve não apenas ao que ele publicou de sua própria autoria, mas também à criação de editoras e à publicação dos principais escritores de sua época, todos os modernistas, por exemplo, foram publicados por Monteiro Lobato. A própria Anita Malfatti era uma das responsáveis pelas capas dos livros publicados pelas editoras do Monteiro Lobato. E Lobato também é importante porque dentro daquele projeto de construção de uma identidade nacional brasileira, uma identidade culturalmente rica, ele achou importante trazer para o Brasil o que existe de melhor na Literatura Universal. Então Lobato traduziu muito e também contratou muitos tradutores e publicou muitas traduções. O que de melhor existe na Literatura Universal, o cânone da Literatura Universal, que foi publicado no Brasil até a primeira metade do século XX foi publicado pelo Monteiro Lobato.

Além disso, Monteiro Lobato, que era um visionário, tinha interesses em outras áreas dessa construção da identidade nacional brasileira. Ele também almejava a construção de um Brasil moderno. Desses dois projetos, faziam parte não só a disseminação do cânone literário Universal – e da sua própria produção e dos brasileiros –, mas também o desenvolvimento econômico do Brasil. Então o Monteiro Lobato foi pioneiro na exploração de petróleo e minérios e também pioneiro em iniciativas que visavam a utilização de produtos naturais brasileiros na indústria.

O Monteiro Lobato é um dos principais nomes não só na Literatura, mas também fora dela... quando se pensa em inovação, em construção de um projeto de nação... e daí a importância imensa de Lobato para o Brasil.

"O Monteiro Lobato é um dos principais nomes não só na Literatura, mas também fora dela... quando se pensa em inovação, em construção de um projeto de nação... e daí a importância imensa de Lobato para o Brasil".  


AC - Quando você entrou em contato pela primeira vez com alguma produção cultural assinada ou inspirada pelo autor?

 

Vanete - Eu já respondi essa pergunta em parte, mas agora vou falar mais especificamente dela. Quando eu era criança eu vi a propaganda do "Sítio do picapau amarelo" na televisão – e eu achei que fosse um filme, porque eu era muito criança e, então, eu não tinha muita noção das coisas... eu era muito pequena, eu não tinha noção que de seria algo em capítulos e que estaria presente na minha vida todos os dias da semana por três ou quatro anos.... – quando eu vi a propaganda, eu disse: “Ah, eu vou assistir!”, meio que já reservando a televisão para mim naquele dia e naquele horário, avisando ao pessoal de casa que eu iria assistir ao "Sítio do picapau amarelo". E daí, quando começou e era uma série, eu achei aquilo fantástico.,. porque eu passei a conviver com aqueles personagens – ainda que fossem adaptados, de alguma forma pasteurizados ou modificados para o público infantil daquela época e que estava assistindo às histórias, e não lendo –  eu caminhei ali junto com o Pedrinho, a Narizinho, a Emília, o Visconde de Sabugosa, o Saci, a Cuca por uns três ou quatro anos... até que o primeiro elenco foi mudado, os atores que faziam Narizinho e Pedrinho foram trocados e eu não me identifiquei mais com os novos atores e, além disso, eu já estava passando para uma outra fase da vida. Os atores estavam deixando a série porque tinham crescido e eu também tinha crescido e os meus interesses por astronomia se intesificavam e eu mergulhei mais nesse mundo da ciência e deixei o mundo da ficção. As obras literárias que eu lia, nessa fase dos 13-14 anos, foram de ficção científica.

Eu só voltei a ter contato com a obra do Lobato – para adultos – na Universidade. E eu li as “estórias” infantis do Lobato depois de adulta, para fazer análises literárias. Então as análises que eu faço, normalmente, são muito objetivas. As minhas análises não são permeadas pelo lado emotivo, porque eu não tive contato com esta obra quando eu era criança. A minha leitura da obra infantil de Lobato só se dá depois que eu já sou adulta, depois que já sou formada em Teoria Literária, depois que eu já estou acostumada a ler livros para fazer análises. Então o meu interesse na obra é muito mais profissional do que recreativo – o que não quer dizer que não seja agradável e uma forma de recreação ler a obra do Lobato. Eu me divirto, claro, com os personagens e a obra para adultos é fascinante! Revela um conhecimento da sociedade da época em que ele vivia e também um descompasso com aquela sociedade. Lobato foi, sem dúvida nenhuma, um homem muito à frente do seu tempo. Então é muito interessante ver a crítica social, as análises que o Lobato faz do Brasil da primeira metade do século passado por meio da sua obra literária. Vale ressaltar que o Lobato escreveu a primeira distopia que foi publicada como livro de que se tem notícia. E distopia normalmente é uma ficção científica e é uma “estória” em que tudo parece perfeito, porém, quando você analisa mais profundamente, você percebe que aquela perfeição é extremamente nociva. E a distopia é sempre uma crítica social e o Lobato faz exatamente isto em O presidente negro, que é a primeira distopia publicada no Ocidente de que se tem notícia e é uma das primeiras distopias que foi escrita. Na verdade, até onde eu sei, a primeira distopia escrita foi We ("Nós"), por um russo que havia fugido da União Soviética e vivia em Nova Iorque. Essa “estória” foi publicada entre 1922-1923 em um jornal de operários russos nos EUA. E a segunda distopia já é O choque das raças ou o presidente negro, do Monteiro Lobato, de 1926, que foi a primeira a ser publicada como livro. Então, imaginem a importância do Monteiro Lobato não só para a Literatura brasileira como para a Literatura Ocidental!



AC - O que você pensa a respeito da questão racial envolvendo a obra de Lobato? Considera o autor racista e acha justas as críticas que ele recebe de alguns segmentos da sociedade?

 

Vanete - Creditar racismo à obra do Monteiro Lobato é algo que só pode vir de pessoas muito mal informadas, inclusive mal informadas sobre a própria obra do Monteiro Lobato. Dentre os principais críticos, dentre os principais detratores de Monteiro Lobato e de sua obra se encontram pessoas que já escreveram, inclusive, declarações como "não li e é racista". Quer dizer... isto é de um preconceito tremendo, né? Emitir um conceito concebido antes de se ler a obra e ainda manter esse conceito concebido antes da leitura e não se dar ao trabalho de ler pra ver se esse conceito se confirma ou se altera... A primeira observação que eu tenho a fazer com relação às pessoas que acusam Lobato e sua obra de serem racistas é que estas pessoas são extremamente preconceituosas. Então, o conselho para quem acha que há racismo na obra de Lobato é que comece a ler a obra, comece a procurar no dicionário as coisas que não conhece, as palavras que não entende, converse com seus ancestrais, as pessoas mais velhas da família sobre qual era a linguagem de cem anos atrás, sobre a gírias ou modo popular de falar, principalmente do caipira... para que comece a entender a linguagem do Lobato. Há pessoas, por exemplo, que não têm a mínima noção do que seja – aliás eu acho que 90% da população brasileira atual não sabe o que é – uma "macaca de carvão". Então, por exemplo, quando elas leem lá em "A caçada da onça" que “Tia Nastácia trepou no mastro de São Pedro como uma macaca de carvão”, estas pessoas fazem mil ilações sobre o que é uma macaca de carvão, relacionando isto a racismo, quando macaca de carvão é um muriqui, ou buriqui, entre outras variações de origem tupi-guarani: um macaco de pelo alaranjado, ruivo. Há uma característica das fêmeas desta espécie: enquanto os machos são esguios e, portanto, são capazes de subir em um mastro com muita destreza, as fêmeas têm o ventre avantajado. Então, mesmo quando estão tentando subir rapidamente o mastro, uma árvore, não conseguem subir tão rápido quanto os muriquis machos... e elas têm um certo movimento de corpo característico de um corpo que tem ventre avantajado.  Então, quando Monteiro Lobato escreve esta frase, em primeiro lugar, ele não está dizendo que tia Nastácia é uma macaca de carvão ou que tia Nastácia é como uma macaca de carvão. Ele está descrevendo o movimento que ela fez para subir no mastro: ela subiu como uma macaca de carvão. Então, isso é uma descrição do movimento; não é uma descrição da própria tia Nastácia. Indiretamente, este movimento feito quando ela sobe o mastro acaba descrevendo a própria personagem... acaba gerando uma característica física da personagem que não tem relação com a cor da pele dela, porque, como eu já disse, o buriqui tem a pelagem alaranjada. A descrição que é feita sobre a característica física da personagem se concentra no corpo dela: provavelmente a tia Nastácia concebida pelo autor era um pouco gorda... tinha o ventre avantajado e, por isso, ela subia o mastro como uma macaca de carvão. É muito comum nos livros do Monteiro Lobato a comparação com o macaco quando ele quer descrever que determinado personagem salta ou sobe em alguma coisa com muita destreza. Porque isto também era algo comum na época na linguagem popular e eu me lembro de quando eu era criança a minha mãe dizer:_"Para de pular! Tá parecendo uma macaquinha!". Esse negócio de ficar sempre em movimento, de ficar pulando, de ficar se mexendo... de não ter parada – que é característica de muitas crianças, né? – era visto como um comportamento de macaco, era comparado... e daí os pais, os adultos, diziam para as crianças: "Parece uma macaca! Tá subindo aí no muro... tá em cima dessa árvore... Desça daí; parece uma macaca!". Isso era algo comum entre pelo menos os caipiras do interior de São Paulo, que é de onde eu venho. Então eu me lembro disto e as outras pessoas que são do interior de São Paulo e que têm raízes caipiras provavelmente também vão se lembrar. Macaco, na cultura caipira, nunca foi demérito, muito pelo contrário, era um elogio, porque sempre estava correlacionado a esta agitação, a essa destreza para saltar, para subir em coisas...  Então, as pessoas que acham que há racismo nesta passagem do Monteiro Lobato deveriam se informar mais sobre a cultura de que esta “estória” trata, que é a cultura caipira. Estas pessoas deveriam se informar mais sobre a linguagem que é utilizada ali, que é a linguagem caipira... é o dialeto caipira. E, principalmente, deveriam no mínimo pegar um dicionário e procurar o que é um macaco de carvão pra descobrir que isto é uma espécie de macaco, que isso não é um nome pejorativo, um xingamento... como a maioria das pessoas imagina que seja. Então, a quem tiver interesse em se aprofundar sobre este tema, eu recomendo a leitura do capítulo sobre a análise de "Caçadas de Pedrinho" escrito pelo Felipe Chamy.

Com relação a O Presidente negro, que tem sido agora apontado como uma obra racista, o livro é uma crítica à eugenia negativa. Isto é outra coisa que as pessoas precisam conseguir enxergar... a crítica que está presente no livro. Porém, eu também imagino que 90% da população brasileira não saiba que existem dois tipos de eugenia, duas linhas eugênicas, uma positiva e outra negativa. Então, se elas não conseguem saber nem isto, como é que elas vão conseguir enxergar ali a crítica à eugenia negativa? As pessoas precisam se instruir mais antes de falar tanto. Então, resumidamente, é isto que eu acho quando se tratam de acusações de que Lobato e sua obra sejam racistas... O que eu acho é que as pessoas têm que ler a obra, têm que entender o que está escrito lá, começando por entender o vocabulário que é utilizado... se instruírem mais e daí, sim, começar a emitir opinião.  Ainda sobre este tema, eu acho importantíssimo o trabalho que o professor Aluizio Alves Filho faz e recomendo fortemente a leitura do trabalho do professor. Quem sabe assim as pessoas consigam se instruir um pouco mais e manifestar menos preconceito.


 

Referências bibliográficas

Ferreira, Filipe Augusto Chamy Amorim. “Caçadas de Pedrinho ou a guerra de comandos e símbolos”. In: Santana-Dezmann, Vanete; Milton, John; D’Onofrio, Silvio T. (org.). Monteiro Lobato: novos estudos. Lünen: Oxalá Editora, 2022, p. 67-84.

Lobato, Monteiro. The Clash of the Races (trad.: Ana Lessa-Schmidt). Hanover-EUA: New London Librarium, 2022.

Santana-Dezmann, Vanete. Entre metafísica, distopia e mecenato. 1ª. ed. São Paulo: Os Caipiras, 2021. (Contém a primeira edição recuperada de O presidente negro ou choque das raças (1926), de Monteiro Lobato).

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