Desde a chegada dos portugueses no Brasil, em 22 de abril de 1500, houve um estranhamento em relação aos hábitos e costumes dos nativos. Tal surpresa em relação às diferenças e à cultura do outro fica bastante evidente na documentação produzida no período colonial.
Vejamos alguns exemplos:
"A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros, de comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador.
[...]
Eles não lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimária, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse inhame, que aqui há muito, e dessa semente e frutos, que a terra e as árvores de si lançam. E com isto andam tais e tão rijos e tão nédios, que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes comemos".
(Trecho da carta de achamento do Brasil, Pero de Vaz de Caminha, 1500).
"A língua deste gentio toda pela costa é, uma: carece de três letras – scilicet, não se acha nela F, nem L, nem R, cousa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei; e desta maneira vivem sem Justiça e desordenadamente".
(Relato de Pero de Magalhães Gandavo, 1576).
Nos registros acima ficam evidentes alguns pontos importantes, como a valorização da cultura europeia e a inferiorização da cultura dos povos indígenas, refletindo a visão eurocêntrica de suposta superioridade.
Note que não há preocupação, por parte dos cronistas europeus, em compreender o modo de vida e a cultura dos povos nativos. Esses registros vão servir para construir uma visão estereotipada do índio como um ser selvagem, que precisa ser catequizado, colonizado e submetido ao trabalho escravo.
Tal processo de colonização, como sabemos, resultou na destruição do modo de vida do povo indígena e no extermínio de milhares de índios, os quais eram vítimas das doenças, dos maus tratos recebidos e das "guerras justas" travadas pelos colonizadores.
Atualmente
Nos dias atuais as diferenças étnicas ainda provocam conflitos e violência, como ocorreu no passado. Observe nos exemplos a seguir:
"O índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, 45, teve 95% do corpo queimado depois de ter sido incendiado anteontem em Brasília.Um grupo de cinco estudantes jogou sobre ele uma substância líquida, provavelmente álcool. Os jovens teriam, então, ateado fogo. Segundo os médicos, Santos não tem chance de sobreviver.Os estudantes confessaram a seu advogado ter jogado ``algo'' sobre Santos, mas negam que tenham ateado fogo na sequência.O crime aconteceu em um ponto de ônibus, quando Santos dormia em um banco, depois de uma comemoração do Dia do Índio, na sede da Funai".
(Notícia de 21 de abril de 1997. Folha de São Paulo on-line).
No primeiro um grupo de jovens ateou fogo num índio, o qual morreu devido às queimaduras.
"Uma menina de 11 anos foi ferida por uma pedra na cabeça ao deixar um culto de candomblé na Penha, zona norte do Rio de Janeiro. Segundo testemunhas, a menina foi atacada por evangélicos e foi vítima de intolerância religiosa. Com a pedrada, a jovem chegou a desmaiar e perder momentaneamente a memóriaOs autores da pedrada, que seriam dois homens, conseguiram fugir. Pouco antes da agressão, eles teriam xingado e provocado os adeptos do candomblé que estavam com a menina".
(Notícia on-line, 16 mai. 2015. uol.com).
No último exemplo temos o registro da intolerância religiosa persistente e do fanatismo, que leva extremistas a agredirem uma criança que pratica o candomblé, uma religião afro-brasileira, com raízes históricas coloniais do passado escravocrata do país.
Em suma, as tensões e os conflitos entre os diferentes grupos étnicos que compõem a sociedade brasileira persistem desde os tempos coloniais. Cabe a cada indivíduo e ao poder público a iniciativa para adotar medidas que favoreçam o bom convívio entre os diferentes, pautado na inclusão, no respeito, tolerância e na igualdade de oportunidades para todos.
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