Em 1852, foi construído,num terreno próximo à bela baía de Botafogo, no Rio de Janeiro, o Hospício de Alienados Pedro II, um asilo para loucos e pessoas que sofriam com delírios e perturbações mentais. "O palácio dos loucos", apelido recebido pelo prédio, era administrado pela Santa Casa de Misericórdia.
O prédio, em estilo neoclássico, foi o primeiro hospital para doentes mentais no Brasil e seguia as tradições dos alienistas franceses da segunda metade e final do século XIX. Nessa essa linha de atuação, os alienados deveriam ser isolados, afim de ficarem longe das causas que lhes provocavam o desequilíbrio e a loucura. Tinha capacidade para 300 internos, de ambos os sexos, e já em 1862 estava com seu limite extrapolado.
Muitos dos internos eram pobres e negros, alcoólatras e vadios que perambulavam pelas vielas do Rio de Janeiro, onde promoviam distúrbios e baderna. Recolhidos pela polícia, eram colocados em camisas de força e levados para o Hospício, onde eram tratados com ducha de água fria e outros métodos que visavam restaurar a razão dos pacientes.
O talentoso romancista carioca, Lima Barreto (1881-1922) foi um ilustre paciente do Hospício Pedro II. Alcoólatra, Lima passou pela instituição em 1914 e 1919. À essa época, o hospício estava sob o controle do Governo federal e recebeu nome: Hospital Nacional dos Alienados.
Lima Barreto fora internado, pela última vez, no dia 25 de dezembro de 1919, após ter um delírio e quebrar as vidraças de sua casa. Seu irmão entregou-o à polícia, e o escritor foi levado ao hospício. Lá, Lima fez anotações à lápis sobre as instalações, seu cotidiano, os pacientes e os funcionários. Seu relato resultou em duas obras, "Diário do hospício", no qual documentou sua experiência durante o tempo em que permaneceu internado, e "O cemitério dos vivos", um romance inacabado, uma versão ficcional da mesma experiência do escritor no hospital.
Numa passagem, Lima registra situações em que passou por dificuldades e comparou seus constrangimentos com Cervantes e Dostoiévski, autores admirados pelo brasileiro, os quais também passaram por experiência no cárcere.
"Voltei para o pátio, meu Deus! Estava ali que nem um peru, no meio de muitos outros, pastoreado por um bom português, que tinha um ar rude, mas doce e compassivo, de camponês transmontano. Ele já me conhecia da outra vez. Chamava-me você e me deu cigarros. Da outra vez, fui para a casa-forte e ele me fez baldear a varanda, lavar o banheiro, onde me deu um excelente banho de ducha de chicote. Todos nós estávamos nus, as portas abertas, e eu tive muito pudor. Eu me lembrei do banho de vapor de Dostoiévski, na Casa dos Mortos. Quando baldeei, chorei; mas lembrei de Cervantes, do próprio Dostoiévski, que pior deviam ter sofrido em Argel e na Sibéria".
Pelo Hospital dos Alienados passaram grandes nomes da medicina brasileira, como Juliano Moreira, baiano e mulato, que se tornou um pioneiro da psiquiatria no Brasil.
Juliano Moreira também ficou reconhecido por se opor a ideia defendida por Nina Rodrigues, para quem a mestiçagem teve impacto inconveniente na formação do povo brasileiro.
Na década de 1940, sem condições adequadas de funcionamento, os internos foram transferidos do Hospital dos Alienados para outro local. O prédio foi doado à Universidade do Brasil, atual UFRJ, passou por restauração e hoje funciona como Instituto de Psiquiatria da Universidade.
Ótimo !!
ResponderExcluir:)
ExcluirTem uma obra literária muito boa que fala sobre, "O Alienista" de Machado de Assis, recomendo😊
ResponderExcluirObrigado, sugestão anotada!!
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