29.12.15

Sanitarismo em Leopoldina (1895-1930)

Nas primeiras décadas do século XX, houve no Brasil uma grande preocupação entre as elites dirigentes do país e, sobretudo entre os médicos, com as questões sanitárias e a saúde pública.

No campo e nas cidades, a falta de saneamento básico era um problema gritante, o que provocava a proliferação das doenças. Assim, inúmeras moléstias grassavam entre a população, principalmente a febre amarela, a malária, a doença de Chagas, a varíola, a tuberculose, a influenza etc.

As elites e as autoridades públicas creditavam a falta de desenvolvimento e o atraso nacional ao estado mórbido em que se encontrava grande parte da população brasileira, por isso  o médico-sanitarista Miguel Pereira afirmou, em 1916, sem exagero, que o  país era "um imenso hospital".


O personagem Jeca Tatu de Monteiro Lobato simbolizava o sertanejo abandonado, doente e improdutivo.

É durante esse momento histórico que a classe médica, principalmente os sanitaristas, obtém destaque, pois cabia a eles a regeneração do povo e quiçá o progresso da nação. A partir daí que os médicos começaram a ocupar cargos públicos e a orientar as ações estatais para sanear os problemas do Brasil.

Então, a intervenção médica na sociedade ocorria por meio de políticas públicas, tais como a conscientização através da educação sanitária, campanhas de vacinação, reformas urbanas e construção de obras sanitárias no campo, como aterros, fossas e drenagens de pântanos.

Um dos principais nomes do movimento sanitário nacional foi o médico Belisário Pena (1868-1939), natural de Barbacena. Pena ocupou cargos nas esferas públicas estadual e federal. Ele ajudou a fundar a Liga Pró-Saneamento do Brasil, em 1918, cujo objetivo era atuar em prol do saneamento e do higienismo das cidades e áreas rurais do país. 

A Liga tinha uma forte atuação pedagógica, através da panfletagem, cursos e conferências, e também política, estimulando os governos a construírem hospitais, casas higiênicas, postos de combate e prevenção a doenças, obras de saneamento básico e a abraçarem a causa do saneamento, que era enxergado como uma "luta patriótica".

Efeitos locais da campanha nacional do sanitarismo

Em Leopoldina, cidade da zona da mata mineira, as deficiências sanitárias não eram muito diferentes do restante do país. No fim do século XIX, o Correio de Leopoldina noticiava a necessidade do poder público higienizar o município:


"As arcas da Camara estão cheias de ouro: o emprestimo de 500:000$, todo coberto já, deve ser applicado quanto antes, intelligentemente, em cannalisação e esgotos.

Transformemos a bella Leopoldina em uma cidade moderna, com todas as condições de vida fácil e garantida.

O saneamento se impõe como uma medida de salvação publica". 


(Correio de Leopoldina. Edição n. 1, 3 de janeiro de 1895. p. 5).

A cidade crescia e os problemas sanitários também aumentavam, seja na zona urbana ou na zona rural. As epidemias eram um empecilho para o crescimento econômico, por isso a publicação sugeria que os recursos financeiros disponíveis no município deveriam ser investidos em obras de canalização e esgoto. Somente com o saneamento Leopoldina seria arrebatada da degeneração e ficaria livre das doenças. 

O expoente do movimento médico-sanitarista em Leopoldina foi o senhor Irineu Lisbôa (1894-1987). O médico foi nomeado, em 1918,  para exercer suas funções  no Posto de Profilaxia Rural, na cidade.


Posto de Hygiene de Leopoldina em 1929. Jornal Leopoldinense.

Essas unidades de saúde tinham como objetivo combater as endemias rurais, como a malária e ancilostomíase, prestar atendimento médico, além de promover, junto a população do campo, campanhas educativas, de higiene e de práticas sanitárias para prevenção de doenças.


Irineu Lisbôa (2) ao lado de Belisário Pena (1), em Pouso Alegre, na inauguração de um Hospital (1920-1921).















Na fotografia acima, autoridades e médicos posam durante a inauguração de um hospital no sul de Minas Gerais. Destacamos Belisário Pena e Irineu Lisbôa, reunidos em virtude da ocasião, e, certamente, pelo ideal comum que partilhavam em prol do saneamento das cidades e dos sertões do país.

Provavelmente muito do pensamento e da obra executada por Belisário Pena, enquanto médico e liderança do movimento sanitarista brasileiro, influenciaram Irineu Lisbôa e todo o trabalho que ele desenvolveu em Leopoldina e, posteriormente, em outras regiões do estado de Minas Gerais.

O doutor Lisbôa, em sua atuação profissional, investiu bastante na conscientização, como indica a fotografia a seguir, na qual o médico apresentava, durante um evento público, um carro alegórico com a representação do inspetor sanitário, em pé vestindo roupa branca, de um esqueleto, simbolizando a morte, e do inimigo do povo: o mosquito.


Cortejo carnavalesco, década de 1930: "Guerra ao Mosquito" - Educação para a Saúde. Jornal Leopoldinense



A alegoria do mosquito e a comemoração do carnaval na cidade, uma festa de grande apelo popular, eram muito favoráveis para a promoção da educação sanitária e a divulgação a toda a população da necessidade de se combater o mosquito e seus criadouros, a fim de evitar a proliferação de doenças.   

Sem dúvidas, o movimento sanitário contribuiu para amenizar os problemas básicos e estruturais das cidades e áreas rurais do Brasil, embora não os tenha solucionado em definitivo. Médicos-sanitaristas organizavam expedições de estudo e combate às doenças em todos os rincões do país.
O protagonismo médico alçou esses profissionais a um patamar social destacado, e muitos passaram a ocupar elevados cargos na administração pública, orientando as políticas sanitárias e higienistas.


Charge revela a revolta da população contra o médico Oswaldo Cruz e a vacina obrigatória.

Contudo, nem sempre as políticas sanitárias serviram aos ideais democráticos ou foram implementadas pela via do diálogo. As reformas urbanistas no Rio de Janeiro, seguida por uma campanha de vacinação obrigatória conduzida pelo médico Oswaldo Cruz, em 1903, são exemplos da arbitrariedade do Estado, que invariavelmente recorria a violência para intervir na sociedade.

Avaliação 

1. ENEM, 2022



19.12.15

Calendário de pagamento para o ano de 2016

O governo do estado do Rio de Janeiro divulgou ontem (18/12/2015) o calendário com a previsão dos pagamentos dos servidores e pensionistas. 

A novidade fica por conta da alteração das datas do pagamento, que serão, a partir de janeiro de 2016, no 7º dia útil de cada mês. 

Confira as datas:


Mais informações no site da SEPLAG, clique aqui.

16.12.15

[Resenha] Estou lendo...

Uma ótima maneira de começar as férias é ler um bom livro!
E começarei a minha muito bem, com a leitura do romance O aprendiz do herege, escrito pela autora britânica Ellis Peters.



A história se passa na Inglaterra medieval, no século XII, onde um misterioso assassinato acaba com a rotina tranquila de uma abadia e da vila adjacente.

Um dos monges, o irmão Cadfael, é designado para investigar o ocorrido e descobrir quem é o assassino, enquanto um prisioneiro acusado de heresia aguarda a chegada do bispo para ter seu julgamento.

Dessa forma, Cadfael é obrigado a deixar os seus afazeres no jardim da abadia, onde cultivava flores, para seguir os vestígios de um criminoso escondido na comunidade. 

A narrativa do texto é envolvente e minuciosa, à medida que a história avança e o protagonista, com rara capacidade de observação, análise e inteligência, descobre novas pistas, a investigação se torna ainda mais instigante. 

Enfim, o leitor não tem vontade de parar de ler até que todos os mistérios sejam revelados e que o culpado pelo ato criminoso seja, enfim, conhecido. Paralelamente à trama, o livro descreve um universo histórico onde havia muita intolerância religiosa, mas também havia fé, compaixão e apreço por uma vida simples, na qual o tempo natural ditava o ritmo da vida das pessoas.

13.12.15

Recesso de fim de ano

Em 2015, tivemos muito trabalho e um recorde de postagens. Agora o Blog fará um recesso e retomará suas atividades em 2016, com o reinício do ano letivo.



Agradecemos o apoio de nossos leitores e desejamos a todos um feliz natal e um próspero ano novo!


30.11.15

Semana de Educação para a Vida = Show

A Semana de Educação para a vida teve início hoje e começou muito bem!

No turno da tarde, os alunos do 7º ano, turma 8, deram um show de conteúdo e de criatividade. Coordenados por mim e pela professora de Geografia, Catarina, os estudantes transformaram a sala de aula num espaço artístico e cultural abordando os temas: Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST's) e Gravidez na adolescência.

As demais turmas da escola (6º, 7º e 8º anos) foram convidadas para visitarem a sala, seguindo por um caminho cheio de pegadas, as quais continham palavras indicando o que eles encontrariam na sala 8: informação, saúde, alegria, prevenção e conhecimento.

Na sala de aula, as paredes foram decoradas por cartazes confeccionados coletivamente, contendo colagens, desenhos, pinturas e muitas mensagens de conscientização. Além da mostra de trabalhos artísticos, um grupo de alunos ficou responsável por uma palestra sobre o assunto.
Os alunos apresentaram estatísticas sobre as DST's e dicas para prevenir as doenças e evitar uma gravidez indesejada.


Depois da palestra, os visitantes eram conduzidos para o Quiz e tinham a oportunidade de testar o conhecimento adquirido respondendo às perguntas. Em caso de acerto, recebiam um prêmio, um pirulito e uma mensagem da turma 8.

O dia foi muito divertido e bastante produtivo.

Parabéns para todos!

Confiram as fotos:


O caminho da sabedoria.




Muita arte para embelezar a vida!


Conscientização e prevenção.


Um doce para quem acertar a pergunta.





Show!

28.11.15

A aventura que confirmou a esfericidade da Terra

As grandes navegações europeias, iniciadas no século XV, promoveram a ampliação do conhecimento geográfico sobre o Mundo.

Antes das expedições marítimas, os europeus acreditavam que o oceano era o limite da Terra e além dele estava um abismo que tragava os marinheiros que ousassem se aventurar pelo mar.

Em 1519, o navegador português Fernão de Magalhães (1480-1521), a serviço da coroa espanhola, liderou uma frota com cinco embarcações e 240 homens com o objetivo de chegar ao Oriente. Ele navegou pelo Oeste,  afim de explorar o mundo e se apossar de novas terras e levar especiarias para a Espanha.


Francisco de Magalhães.
Magalhães cruzou o Atlântico e, no extremo sul da América, encontrou uma passagem para o Oceano Pacífico - denominada de Estreito de Magalhães.

Ao longo da viagem, Magalhães enfrentou índios, tempestades e até a revolta de seus comandados, os quais, desesperados com as incertezas e o medo do desconhecido, queriam matar o capitão-geral.

Antonio de Pigafetta viajou na frota e relatou outra dificuldade enfrentada - a fome. Segundo ele, os viajantes só comiam "...velhos biscoitos transformados em poeira e cheios de vermes, fedendo a urina de rato"
Devido à escassez de alimentos, a tripulação ficava fraca e vulnerável às doenças, como o escorbuto, a qual dizimava os marujos. 

Magalhães morreu em 1521, depois de desembarcar nas Filipinas, onde enfrentou os nativos, e acabou sendo atingido por uma lança envenenada que o levou à morte.


Victoria foi o único navio que restou da frota de Magalhães. Dois naufragaram, um perdido e outro foi incendiado.

Em 1522, a viagem chegara após retornar à Europa, porém apenas um navio e 18 sobreviventes voltaram para casa. Ela ficou conhecida como viagem de circunavegação, pois o navio Victoria que chegou a Sevilha, além de trazer muitas especiarias, comprovou a esfericidade da Terra.

O escritor austríaco Stefan Zweig (1881-1942), publicou em 1938, a obra Fernão de Magalhães: o homem e sua façanha, na qual registra, com riqueza de detalhes, as aventuras e desventuras do navegador português.




Zweig, com talento raro, coloca o leitor dentro da caravela de Magalhães, conduzindo-o por uma viagem fascinante em busca de especiarias e de glória. 

Stefan Zweig deixou a Áustria por conta do nazismo. Viveu em Petrópolis (RJ) de 1941 a 1942, quando cometeu suicídio junto com sua esposa, Lotte.



Por tudo isso, a leitura é instigante e prende a atenção do leitor até a última página. Vale a pena conferir. 


Leia trechos do livro no Google Livros.


Leia mais sobre a viagem de circunavegação clicando aqui.

26.11.15

CineHistória: Mauá – o imperador e o rei



Mauá – o imperador e o rei - é uma produção cinematográfica brasileira, lançada em 1999.



O filme procura recriar o contexto histórico brasileiro do século XIX, sob o regime imperial. A sociedade daquela época era marcada pela exploração do trabalho escravo africano e a economia era baseada na agricultura destinada à exportação. 
Esse perído é marcado por embates, quando as ideias progressistas e liberais, vinculadas a burguesia entravam em conflito com as práticas conservadoras da elite aristocrática. 

A história acompanha a trajetória atribulada de Irineu Evangelista de Souza (1813 – 1889), desde sua infância como caixeiro até sua vida adulta, quando se tornou o maior empresário do Brasil Império. 


A ascensão social e econômica rendeu a Irineu muita influência política e títulos de nobreza, como o de visconde de Mauá, em 1874.
Como empresário Irineu investiu em transporte, comunicação, iluminação e atividades bancárias. Defendia o fim da escravidão, a propriedade privada, a livre concorrência e a industrialização, contrapondo-se às ideias dos atifundiários, os quais valorizavam a posse de grandes extensões de terras para cultivar gêneros para exportação e a manutenção do trabalho escravo.

Os projetos do visconde de Mauá que visavam modernizar a economia brasileira, em diversas vezes, esbarraram ora na burocracia estatal, ora no conservadorismo das elites, revelando as várias contradições inerentes a uma economia escravocrata.

 Algumas de suas realizações:

  • Fundação da Companhia de Navegação a Vapor do Amazonas (1852).
  • Fundação da Companhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro (1854).
  • Empreendeu a construção da primeira ferrovia brasileira. Construída no Estado do Rio de Janeiro ganhou o nome de Estrada de Ferro Mauá (1854).

Assista ao filme: 

25.11.15

Racismo virtual, as consequências são reais

A mídia pode mudar a cultura das pessoas? A permanência de práticas racistas e discriminatórias num país multicultural e, historicamente, marcado pela influência de vários povos, pode ser combatida por campanhas midiáticas?

Minha resposta para as duas perguntas é sim.

Na disciplina de Cultura e uso de mídias, no Ensino Médio PROEMI, estudamos a influência que a mídia exerce sobre as pessoas. Essa influência pode ser percebida nas atitudes e impulsos que levam um indivíduo a comprar certos produtos, se vestir com a roupa da moda ou adotar o corte de cabelo semelhante ao galã da TV. Enfim, a mídia pode modelar a cultura, por isso acreditamos que ela possui, e pode usar, seu potencial pedagógico para ajudar a sociedade a acabar com o racismo.

É nisso que a campanha "Racismo virtual, as consequências são reais", da ONG Criola, aposta, divulgando, em várias cidades brasileiras, outdoors com mensagens de manifestações racistas postadas nas redes sociais.


Outdoors com mensagens virtuais são instalados nos locais de origem da ofensa.


A ideia é demonstrar que a ofensa racial, mesmo aquela publicada na internet, terá consequências para o seu autor, pois ela afeta e machuca as pessoas no mundo real. 

Assista ao vídeo:

19.11.15

Independência ou morte?

Em 07 de setembro de 1822, D. Pedro proferiu o brado da independência, às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo.

O grito do Ipiranga. Pedro Américo, 1888. Acervo do Museu Paulista.

A partir daquele momento histórico, o Brasil cortou sua relação de submissão em relação a Portugal.
Parece simples, porém a independência não ocorreu de uma hora para outra, ela foi o resultado de um longo processo histórico, político e social. Vejamos seus antecedentes.

Antecedentes:
  • A família real portuguesa transferiu-se para o Brasil em 1808, fugindo do exército de Napoleão Bonaparte;
Embarque da família real portuguesa (1808).

  • Nesse mesmo ano, o príncipe regente - D. João (1767-1826) - decreta a abertura dos portos brasileiros às nações amigas de Portugal, beneficiando a Inglaterra;
  • Em 1815, eleva o Brasil a condição de Reino Unido a Portugal e Algarves;
  • Em 1821, D. João VI retorna a Portugal e as Cortes portuguesas pretendiam recolonizar o Brasil;
  • D. Pedro (1798-1834), filho de D. João VI, permanece no Brasil, como príncipe regente;

  • As Cortes exigem o regresso de D. Pedro a Portugal;
  • O Partido Brasileiro entrega ao príncipe um documento pedindo a ele que fique no Brasil. No dia 09/01/18222, D. Pedro decide ficar - Dia do Fico;
  • Posteriormente, D. Pedro estabeleceu que as ordens vindas das Cortes só seriam cumpridas mediante sua autorização ("Cumpra-se");
  • Sob ameaça das Cortes, D. Pedro, apoiado pela elite brasileira que não desejava voltar ao status de colônia, proclamou a independência no dia 07 de setembro de 1822, selando o rompimento de Brasil com Portugal.
Após a independência, ficou decidido, sob influência de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), o "patriarca da independência", que o regime de governo para o Brasil seria uma Monarquia Constitucional, diferente dos países vizinhos, os quais optaram pelo regime republicano. 

Coroação de D. Pedro I. Jean-Baptiste Debret, 1826. Acervo do Museu Paulista da Universidade de São Paulo

D. Pedro foi coroado imperador do Brasil, mas enfrentou resistência em algumas províncias, como na Bahia, Maranhão e Cisplatina, onde tropas portuguesas se mantinham leais a Portugal. Com o apoio de militares ingleses e franceses, além das milícias formadas pelos brasileiros, o imperador organizou um exército e conseguiu expulsar as tropas portuguesas do Brasil em 1824, conservando a unidade do império.

O primeiro país a reconhecer a independência brasileira foram os EUA, em 1824. Portugal só reconheceu a separação em 1825, depois de receber um pagamento em dinheiro como indenização.

Quem fez a independência brasileira?

Somos independentes, mas somos livres?


Devemos comemorar a independência?




17.11.15

Abastecimento de água em Carmo (RJ): um problema histórico

Nos dias atuais, o Brasil está vivendo uma acentuada crise hídrica. A escassez de chuvas e o mau uso dos recursos hídricos está colocando em xeque a disponibilidade de água para as pessoas.


Reservatório Cantareira (SP).

Aqui no Carmo (RJ) não é diferente, as autoridades municipais já alertaram a todos de que, se a chuva não vier, teremos racionamento de água, o que acarretará inúmeros transtornos para a sociedade.

A questão hídrica em nosso município não é coisa recente, desde o final do século XIX Carmo sofria devido à inadequação do abastecimento de água, o "fluido vital por excellencia..." (p. 132).

Analisando o Almanach do Carmense (1888) do periódico Carmense, fundado e editado por Domingos Mendes da Piedade em 1887, o qual circulava na Villa do Carmo, encontramos algumas referências sobre a questão da água na localidade.




Na página 83 do referido documento, destacamos o seguinte:

"Existe na Villa do Carmo um encannamento de agua e um chafariz com quatro torneiras, na Praça da Matriz, cujo encannamento não é sufficiente hoje para a população e tem alem d'isso seus materiaes estragados". (p. 83).

Naquela época, conforme revela a publicação, viviam na vila 10564 pessoas (p. 80). O trecho acima nos permite imaginar as dificuldades que todos enfrentavam para conseguir água com apenas um chafariz e quatro torneiras. 

Mais adiante, o Almanach denuncia a precariedade em que se encontrava a tubulação responsável pela captação da água.

"... encannamento, já muito deteriorado, por sua pouca profundidade no seio da terra, unico elemento que mal o resguarda contra os instrumentos aratorios, e tambem do vandalismo..." (p. 131). 

Note que o cano ficava enterrado numa pequena profundidade que lhe deixava exposto às ferramentas de arar a terra (enxadas e arados de ferro), tendo em vista que ele deveria cruzar propriedades e campos agrícolas, e também estava sujeito à ação dos vândalos.

Como consequência dessa instalação imprópria, o encanamento vivia danificado e resultava em "falta d'agua, que faz o martyrio dos povos." (p. 131). A falta de água prejudicava o desenvolvimento econômico e social e, distribuída sem qualidade por conta dos canos danificados, afetava a saúde das pessoas, provocando surtos de doenças e, certamente, queda da produtividade no trabalho.

A publicação exalta, com alívio, que a situação melhoraria quando o projeto de um novo aqueduto se concretizasse e mais torneiras fossem instaladas em vários pontos da vila. A obra prometia "a accumulação de mais algumas fontes do elevado manancial, ..." (p. 131) disponível nas terras carmenses.
Perceba que o problema não era a falta de água em si, mas sim de captação e de investimentos públicos necessários para solucionarem a limitação da distribuição do precioso líquido.

O editor prossegue, e sustenta que a instalação de novos equipamentos para captar e distribuir água na Vila "vae collocar a povoação superior aos lugares mais recommendados da Provincia" (p. 133) do Rio de Janeiro, afinal todos teriam mais qualidade de vida, saúde e disposição para o trabalho.


A edição de 1891 do Almanach destaca a localização da nascente d'água que abastece a cidade, a qual estava situada a 130 metros acima dos bambus da fazenda da Conceição, e também do reservatório municipal, instalado a 40 metros acima da praça da matriz (p. 157-158).   

Considerando o exposto, a exemplo do que ocorreu no passado, quando nossos predecessores enfrentaram dificuldades de abastecimento, hoje, em meio a uma crise ambiental, devemos nos preparar para enfrentar a escassez de água e nos conscientizarmos de que o recurso não é inesgotável, por isso precisa ser utilizado racionalmente.

O uso racional da água passa por uma série de mudanças de atitudes, tais como o fim do desperdício, melhor planejamento das políticas públicas para o setor e redução da agressão ambiental, pois o rápido crescimento populacional e a urbanização poluem os rios e mananciais, comprometendo o acesso à água e, consequentemente, o futuro da vida.



Fontes primárias consultadas

Almack do Carmense, ano de 1888 e de 1891.

Disponível on-line em: http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/