Nas primeiras décadas do século XX, houve no Brasil uma grande preocupação entre as elites dirigentes do país e, sobretudo entre os médicos, com as questões sanitárias e a saúde pública.
No campo e nas cidades, a falta de saneamento básico era um problema gritante, o que provocava a proliferação das doenças. Assim, inúmeras moléstias grassavam entre a população, principalmente a febre amarela, a malária, a doença de Chagas, a varíola, a tuberculose, a influenza etc.
As elites e as autoridades públicas creditavam a falta de desenvolvimento e o atraso nacional ao estado mórbido em que se encontrava grande parte da população brasileira, por isso o médico-sanitarista Miguel Pereira afirmou, em 1916, sem exagero, que o país era "um imenso hospital".
É durante esse momento histórico que a classe médica, principalmente os sanitaristas, obtém destaque, pois cabia a eles a regeneração do povo e quiçá o progresso da nação. A partir daí que os médicos começaram a ocupar cargos públicos e a orientar as ações estatais para sanear os problemas do Brasil.
Então, a intervenção médica na sociedade ocorria por meio de políticas públicas, tais como a conscientização através da educação sanitária, campanhas de vacinação, reformas urbanas e construção de obras sanitárias no campo, como aterros, fossas e drenagens de pântanos.
Um dos principais nomes do movimento sanitário nacional foi o médico Belisário Pena (1868-1939), natural de Barbacena. Pena ocupou cargos nas esferas públicas estadual e federal. Ele ajudou a fundar a Liga Pró-Saneamento do Brasil, em 1918, cujo objetivo era atuar em prol do saneamento e do higienismo das cidades e áreas rurais do país.
A Liga tinha uma forte atuação pedagógica, através da panfletagem, cursos e conferências, e também política, estimulando os governos a construírem hospitais, casas higiênicas, postos de combate e prevenção a doenças, obras de saneamento básico e a abraçarem a causa do saneamento, que era enxergado como uma "luta patriótica".
Efeitos locais da campanha nacional do sanitarismo
Em Leopoldina, cidade da zona da mata mineira, as deficiências sanitárias não eram muito diferentes do restante do país. No fim do século XIX, o Correio de Leopoldina noticiava a necessidade do poder público higienizar o município:
O saneamento se impõe como uma medida de salvação publica".
A cidade crescia e os problemas sanitários também aumentavam, seja na zona urbana ou na zona rural. As epidemias eram um empecilho para o crescimento econômico, por isso a publicação sugeria que os recursos financeiros disponíveis no município deveriam ser investidos em obras de canalização e esgoto. Somente com o saneamento Leopoldina seria arrebatada da degeneração e ficaria livre das doenças.
O expoente do movimento médico-sanitarista em Leopoldina foi o senhor Irineu Lisbôa (1894-1987). O médico foi nomeado, em 1918, para exercer suas funções no Posto de Profilaxia Rural, na cidade.
Essas unidades de saúde tinham como objetivo combater as endemias rurais, como a malária e ancilostomíase, prestar atendimento médico, além de promover, junto a população do campo, campanhas educativas, de higiene e de práticas sanitárias para prevenção de doenças.
Na fotografia acima, autoridades e médicos posam durante a inauguração de um hospital no sul de Minas Gerais. Destacamos Belisário Pena e Irineu Lisbôa, reunidos em virtude da ocasião, e, certamente, pelo ideal comum que partilhavam em prol do saneamento das cidades e dos sertões do país.
Provavelmente muito do pensamento e da obra executada por Belisário Pena, enquanto médico e liderança do movimento sanitarista brasileiro, influenciaram Irineu Lisbôa e todo o trabalho que ele desenvolveu em Leopoldina e, posteriormente, em outras regiões do estado de Minas Gerais.
O doutor Lisbôa, em sua atuação profissional, investiu bastante na conscientização, como indica a fotografia a seguir, na qual o médico apresentava, durante um evento público, um carro alegórico com a representação do inspetor sanitário, em pé vestindo roupa branca, de um esqueleto, simbolizando a morte, e do inimigo do povo: o mosquito.
A alegoria do mosquito e a comemoração do carnaval na cidade, uma festa de grande apelo popular, eram muito favoráveis para a promoção da educação sanitária e a divulgação a toda a população da necessidade de se combater o mosquito e seus criadouros, a fim de evitar a proliferação de doenças.
Sem dúvidas, o movimento sanitário contribuiu para amenizar os problemas básicos e estruturais das cidades e áreas rurais do Brasil, embora não os tenha solucionado em definitivo. Médicos-sanitaristas organizavam expedições de estudo e combate às doenças em todos os rincões do país.
O protagonismo médico alçou esses profissionais a um patamar social destacado, e muitos passaram a ocupar elevados cargos na administração pública, orientando as políticas sanitárias e higienistas.
Contudo, nem sempre as políticas sanitárias serviram aos ideais democráticos ou foram implementadas pela via do diálogo. As reformas urbanistas no Rio de Janeiro, seguida por uma campanha de vacinação obrigatória conduzida pelo médico Oswaldo Cruz, em 1903, são exemplos da arbitrariedade do Estado, que invariavelmente recorria a violência para intervir na sociedade.
No campo e nas cidades, a falta de saneamento básico era um problema gritante, o que provocava a proliferação das doenças. Assim, inúmeras moléstias grassavam entre a população, principalmente a febre amarela, a malária, a doença de Chagas, a varíola, a tuberculose, a influenza etc.
As elites e as autoridades públicas creditavam a falta de desenvolvimento e o atraso nacional ao estado mórbido em que se encontrava grande parte da população brasileira, por isso o médico-sanitarista Miguel Pereira afirmou, em 1916, sem exagero, que o país era "um imenso hospital".
O personagem Jeca Tatu de Monteiro Lobato simbolizava o sertanejo abandonado, doente e improdutivo. |
É durante esse momento histórico que a classe médica, principalmente os sanitaristas, obtém destaque, pois cabia a eles a regeneração do povo e quiçá o progresso da nação. A partir daí que os médicos começaram a ocupar cargos públicos e a orientar as ações estatais para sanear os problemas do Brasil.
Então, a intervenção médica na sociedade ocorria por meio de políticas públicas, tais como a conscientização através da educação sanitária, campanhas de vacinação, reformas urbanas e construção de obras sanitárias no campo, como aterros, fossas e drenagens de pântanos.
Um dos principais nomes do movimento sanitário nacional foi o médico Belisário Pena (1868-1939), natural de Barbacena. Pena ocupou cargos nas esferas públicas estadual e federal. Ele ajudou a fundar a Liga Pró-Saneamento do Brasil, em 1918, cujo objetivo era atuar em prol do saneamento e do higienismo das cidades e áreas rurais do país.
A Liga tinha uma forte atuação pedagógica, através da panfletagem, cursos e conferências, e também política, estimulando os governos a construírem hospitais, casas higiênicas, postos de combate e prevenção a doenças, obras de saneamento básico e a abraçarem a causa do saneamento, que era enxergado como uma "luta patriótica".
Efeitos locais da campanha nacional do sanitarismo
Em Leopoldina, cidade da zona da mata mineira, as deficiências sanitárias não eram muito diferentes do restante do país. No fim do século XIX, o Correio de Leopoldina noticiava a necessidade do poder público higienizar o município:
"As arcas da Camara estão cheias de ouro: o emprestimo de 500:000$, todo coberto já, deve ser applicado quanto antes, intelligentemente, em cannalisação e esgotos.
Transformemos a bella Leopoldina em uma cidade moderna, com todas as condições de vida fácil e garantida.
O saneamento se impõe como uma medida de salvação publica".
(Correio de Leopoldina. Edição n. 1, 3 de janeiro de 1895. p. 5).
A cidade crescia e os problemas sanitários também aumentavam, seja na zona urbana ou na zona rural. As epidemias eram um empecilho para o crescimento econômico, por isso a publicação sugeria que os recursos financeiros disponíveis no município deveriam ser investidos em obras de canalização e esgoto. Somente com o saneamento Leopoldina seria arrebatada da degeneração e ficaria livre das doenças.
O expoente do movimento médico-sanitarista em Leopoldina foi o senhor Irineu Lisbôa (1894-1987). O médico foi nomeado, em 1918, para exercer suas funções no Posto de Profilaxia Rural, na cidade.
Posto de Hygiene de Leopoldina em 1929. Jornal Leopoldinense. |
Essas unidades de saúde tinham como objetivo combater as endemias rurais, como a malária e ancilostomíase, prestar atendimento médico, além de promover, junto a população do campo, campanhas educativas, de higiene e de práticas sanitárias para prevenção de doenças.
Irineu Lisbôa (2) ao lado de Belisário Pena (1), em Pouso Alegre, na inauguração de um Hospital (1920-1921). |
Na fotografia acima, autoridades e médicos posam durante a inauguração de um hospital no sul de Minas Gerais. Destacamos Belisário Pena e Irineu Lisbôa, reunidos em virtude da ocasião, e, certamente, pelo ideal comum que partilhavam em prol do saneamento das cidades e dos sertões do país.
Provavelmente muito do pensamento e da obra executada por Belisário Pena, enquanto médico e liderança do movimento sanitarista brasileiro, influenciaram Irineu Lisbôa e todo o trabalho que ele desenvolveu em Leopoldina e, posteriormente, em outras regiões do estado de Minas Gerais.
Cortejo carnavalesco, década de 1930: "Guerra ao Mosquito" - Educação para a Saúde. Jornal Leopoldinense.
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Sem dúvidas, o movimento sanitário contribuiu para amenizar os problemas básicos e estruturais das cidades e áreas rurais do Brasil, embora não os tenha solucionado em definitivo. Médicos-sanitaristas organizavam expedições de estudo e combate às doenças em todos os rincões do país.
O protagonismo médico alçou esses profissionais a um patamar social destacado, e muitos passaram a ocupar elevados cargos na administração pública, orientando as políticas sanitárias e higienistas.
Charge revela a revolta da população contra o médico Oswaldo Cruz e a vacina obrigatória. |
Contudo, nem sempre as políticas sanitárias serviram aos ideais democráticos ou foram implementadas pela via do diálogo. As reformas urbanistas no Rio de Janeiro, seguida por uma campanha de vacinação obrigatória conduzida pelo médico Oswaldo Cruz, em 1903, são exemplos da arbitrariedade do Estado, que invariavelmente recorria a violência para intervir na sociedade.
Avaliação
1. ENEM, 2022