17.11.15

Abastecimento de água em Carmo (RJ): um problema histórico

Nos dias atuais, o Brasil está vivendo uma acentuada crise hídrica. A escassez de chuvas e o mau uso dos recursos hídricos está colocando em xeque a disponibilidade de água para as pessoas.


Reservatório Cantareira (SP).

Aqui no Carmo (RJ) não é diferente, as autoridades municipais já alertaram a todos de que, se a chuva não vier, teremos racionamento de água, o que acarretará inúmeros transtornos para a sociedade.

A questão hídrica em nosso município não é coisa recente, desde o final do século XIX Carmo sofria devido à inadequação do abastecimento de água, o "fluido vital por excellencia..." (p. 132).

Analisando o Almanach do Carmense (1888) do periódico Carmense, fundado e editado por Domingos Mendes da Piedade em 1887, o qual circulava na Villa do Carmo, encontramos algumas referências sobre a questão da água na localidade.




Na página 83 do referido documento, destacamos o seguinte:

"Existe na Villa do Carmo um encannamento de agua e um chafariz com quatro torneiras, na Praça da Matriz, cujo encannamento não é sufficiente hoje para a população e tem alem d'isso seus materiaes estragados". (p. 83).

Naquela época, conforme revela a publicação, viviam na vila 10564 pessoas (p. 80). O trecho acima nos permite imaginar as dificuldades que todos enfrentavam para conseguir água com apenas um chafariz e quatro torneiras. 

Mais adiante, o Almanach denuncia a precariedade em que se encontrava a tubulação responsável pela captação da água.

"... encannamento, já muito deteriorado, por sua pouca profundidade no seio da terra, unico elemento que mal o resguarda contra os instrumentos aratorios, e tambem do vandalismo..." (p. 131). 

Note que o cano ficava enterrado numa pequena profundidade que lhe deixava exposto às ferramentas de arar a terra (enxadas e arados de ferro), tendo em vista que ele deveria cruzar propriedades e campos agrícolas, e também estava sujeito à ação dos vândalos.

Como consequência dessa instalação imprópria, o encanamento vivia danificado e resultava em "falta d'agua, que faz o martyrio dos povos." (p. 131). A falta de água prejudicava o desenvolvimento econômico e social e, distribuída sem qualidade por conta dos canos danificados, afetava a saúde das pessoas, provocando surtos de doenças e, certamente, queda da produtividade no trabalho.

A publicação exalta, com alívio, que a situação melhoraria quando o projeto de um novo aqueduto se concretizasse e mais torneiras fossem instaladas em vários pontos da vila. A obra prometia "a accumulação de mais algumas fontes do elevado manancial, ..." (p. 131) disponível nas terras carmenses.
Perceba que o problema não era a falta de água em si, mas sim de captação e de investimentos públicos necessários para solucionarem a limitação da distribuição do precioso líquido.

O editor prossegue, e sustenta que a instalação de novos equipamentos para captar e distribuir água na Vila "vae collocar a povoação superior aos lugares mais recommendados da Provincia" (p. 133) do Rio de Janeiro, afinal todos teriam mais qualidade de vida, saúde e disposição para o trabalho.


A edição de 1891 do Almanach destaca a localização da nascente d'água que abastece a cidade, a qual estava situada a 130 metros acima dos bambus da fazenda da Conceição, e também do reservatório municipal, instalado a 40 metros acima da praça da matriz (p. 157-158).   

Considerando o exposto, a exemplo do que ocorreu no passado, quando nossos predecessores enfrentaram dificuldades de abastecimento, hoje, em meio a uma crise ambiental, devemos nos preparar para enfrentar a escassez de água e nos conscientizarmos de que o recurso não é inesgotável, por isso precisa ser utilizado racionalmente.

O uso racional da água passa por uma série de mudanças de atitudes, tais como o fim do desperdício, melhor planejamento das políticas públicas para o setor e redução da agressão ambiental, pois o rápido crescimento populacional e a urbanização poluem os rios e mananciais, comprometendo o acesso à água e, consequentemente, o futuro da vida.



Fontes primárias consultadas

Almack do Carmense, ano de 1888 e de 1891.

Disponível on-line em: http://bndigital.bn.br/hemeroteca-digital/

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