15.2.14

A Revolta da Vacina (1904)

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No final do século XIX e início do século XX, começaram a surgir no Rio de Janeiro inúmeros cortiços - que depois originaram as favelas - onde as pessoas mais pobres viviam, com condições pouco dignas. O escritor brasileiro - Aluísio de Azevedo - publicou, em 1890, o romance "O Cortiço", na qual expôs o cotidiano das pessoas pobres que viviam nesses lugares.

“Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam ao trabalho de lá ir, despachavam-se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás da estalagem ou no recanto das hortas.”  (trecho da obra - O Cortiço. Retirado do site:  http://guiadoestudante.abril.com.br/literatura/materia_415647.shtml 

Como se pode perceber, não havia naqueles locais água encanada, rede de esgoto e coleta de lixo. Além disso, naqueles locais as ruas eram estreitas, pouco iluminadas e as casas construídas uma junto às outras, reduzindo a  ventilação e a circulação de ar puro. Acrescente a isso o fato de as pessoas não terem hábitos de higiene, acesso à saúde e um cotidiano árduo. Esse era um ambiente muito favorável a proliferação de doenças, tais como a febre amarela, a varíola e a tuberculose. Como consequência, milhares de pessoas morreram em virtude de tal situação. O fato impressionava tanto que os estrangeiros apelidaram o Rio de Janeiro de "cidade da morte."


Um cortiço carioca.

A ocupação desordenada, inclusive de áreas centrais da cidade do Rio de Janeiro, preocupava as autoridades públicas no início do século XX. 

Nesse sentido, o governo decidiu sanear a cidade e adotar medidas para evitar o surto de doenças.


O prefeito da cidade - Pereira Passos - deu início, a partir de 1903, à modernização da cidade, desalojando as pessoas, derrubando os cortiços e abrindo avenidas espaçosas no centro da cidade. O argumento era higienizar a cidade, expulsando a população pobre do centro, a qual acabou indo se alojar nos morros vizinhos.

Em 1903, o médico sanitarista Oswaldo Cruz foi nomeado, pelo presidente Rodrigues Alves,  diretor geral de Saúde Pública. Ele  teve importante participação na elaboração do regulamento que estabelecia a vacinação obrigatória contra a varíola.

O comprovante de vacinação passou a ser exigido nas matrículas de escolas, admissões em empresas e etc. Logo, quem não fosse vacinado passaria por dificuldades. Os agentes de saúde podiam entrar nas casas para vacinar as pessoas, mesmo sem o consentimento dos moradores. A falta de uma campanha de conscientização do governo só serviu para causar medo e revolta na população.  


A política modernizadora e autoritária dos governos gerou inúmeros protestos populares. A insatisfação do povo era tamanha a ponto de provocar violentos confrontos.
As ruas da cidade foram o palco de confrontos entre populares e a polícia. 

Algumas ruas viraram zonas de guerra. A polícia tentava conter os manifestantes, enquanto bondes eram virados, para servir como barricada, e as pedras do calçamento foram utilizadas como munição pelos cidadãos que enfrentaram as forças policiais. 
A oposição ao governo de Rodrigues Alves aproveitou o momento de insatisfação popular para tentar tirá-lo do poder. Esperavam que os militares voltassem para a presidência, como fora no início da República. Mas o plano não deu certo e o presidente cumpriu o seu mandato até o fim.   


No dia 16 de novembro de 1904, a revolta foi contida pela polícia deixando um saldo de dezenas de mortos, feridos, presos e deportados. A vacina obrigatória foi suspensa.


Embora a vacinação tenha sido importante para a saúde pública, a abordagem autoritária do governo e o mau tratamento que fora dado aos pobres provocou grande insatisfação e uma revolta generalizada nas classes menos favorecidas da cidade. 


Teste-se:

(Questão do Enem-2011)
Charge capa da revista “O Malho”, de 1904. Disponível em: http://1.bp.blogspot.com   

A imagem representa as manifestações nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, na primeira década do século XX, que integraram a Revolta da Vacina. Considerando o contexto político-social da época, essa revolta revela 

a) a insatisfação da população com os benefícios de uma modernização urbana autoritária.
b) a consciência da população pobre sobre a necessidade de vacinação para a erradicação das epidemias.
c) a garantia do processo democrático instaurado com a República, atrabés da defesa da liberdade de expressão da população.
d) o planejamento do governo republicano na área de saúde, que abrangia a população em geral.
e) o apoio ao governo republicano pela atitude de vacinar toda a população em vez de privilegiar a elite. 

(Questão do ENEM-2019)

2 comentários:

  1. DE ACORDO COM MEUS ENTENDIMENTOS DA MATÉRIA, A ALTERNATIVA CORRETA SERIA A LETRA "A". POIS A INTENÇÃO DO GOVERNO ERA "BOA", PREVINIR E PROTEGER A POPULAÇÃO DE DOENÇAS. PORÉM COMO A POPULAÇÃO NÃO FOI CONSCIENTIZADA, RESISTIU E TEVE MEDO DE ACEITAR A VACINAÇÃO, QUE POR SER OBRIGATÓRIA, POR UM DETERMINADO PERÍODO ATÉ SER SUSPENSA, ERA REALIZADA A FORÇA PELOS AGENTES SANITÁRIOS E OFICIAIS DO EXÉRCITO.

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    1. Parabéns, Matheus!
      Você está certíssimo.
      Continue lendo, pesquisando e adquirindo conhecimento.

      Um abraço.

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Obrigado pelo comentário.