19.3.20

A varíola nas páginas da Gazeta de Leopoldina (1933)

Oficialmente, a varíola foi erradicada na década de 1980.

Antes disso, a doença matou milhões de pessoas em várias partes do mundo. No Brasil, ela fez incontáveis vítimas.

Em 1904, o médico-sanitarista Oswaldo Cruz tentou implementar a vacinação obrigatória contra a varíola. O fato revoltou a população do Rio de Janeiro e desencadeou um levante popular contra as autoridades - a Revolta da Vacina.

Nos anos 1930, a doença atingiu as populações de várias cidades da Zona da Mata mineira. O jornal "Gazeta de Leopoldina", de propriedade da família Monteiro Ribeiro Junqueira, acompanhou o drama da região e noticiou o problema, em várias edições de julho e outubro de 1933.
Dr. José Monteiro Ribeiro Junqueira, político e diretor da Gazeta de Leopoldina.

O periódico alertava os leitores sobre o risco da doença, descrevia seus terríveis sintomas e defendia a vacinação da população para prevenir que a moléstia atingisse Leopoldina.

O contágio se propagava rapidamente, Muriaé,  Caratinga e Ubá foram atingidas e a "Gazeta" cobrava atenção aos distritos próximos do ramal de Carangola. Quando havia surtos de epidemias, como os de cólera e a varíola,  o transporte ferroviário era interrompido, mesmo que trouxesse prejuízos para o comércio e problemas de abastecimento.

Quando o município de Caratinga foi atingido pela varíola, a publicação da Gazeta destacou o fato e cobrou urgência para conter a epidemia: 

"Urge que para ali, num esforço pertinaz, se volvam as vistas das autoridades sanitarias do Estado, afim de evitar que o mal se propague a outras regiões". 

O jornal, por fim, advogava a urgência de aumentar a disponibilidade dos tubos de linfas, para que mais pessoas pudessem ser imunizadas pelas autoridades do Posto de Higiene de Leopoldina. Exortava a todos que se vacinassem para evitar a propagação do mal e atacava aqueles os críticos da vacina: 

"São tolos, prejudiciais, desprovidos de fundamentos e até antipatrioticos os boatos que certas pessoas ignorantes se aprazem em espalhar sobre os perigos da vacinação.
Esta, feita com técnica, não oferece o menor perigo e constitue garantia segura e duradoura contra a variola".

A vacinação, para o Dr. Domingos Justino Ribeiro, chefe do Posto de Higiene de Leopoldina em 1933, era um dever e um ato patriótico. O médico argumentava que a doença "céga, depaupera, mata e deforma", por isso os pais deveriam vacinar seus filhos a partir dos três meses de idade, sob risco de vê-los sucumbir ante o terrível morbus.

Por fim, o jornal não deixou de cobrar do diretor geral de saúde pública que zelasse pela manutenção do estoque de vacinas nos postos e subpostos de saúde, espalhados por Leopoldina e cidades vizinhas. A falta de linfas era uma realidade, não havia vacinas suficientes para imunizar toda a população. Por isso, a Gazeta endossava e reforçava o pedido do chefe do posto local ao diretor geral: "Nesse sentido fazemos a s. s. caloroso apêlo, esperando que não seja procrastinado o expediente da remessa para o posto local das doses pedidas pelo ilustre chefe do serviço".  

O fato é que o veículo de comunicação procurava sensibilizar seus leitores acerca da importância da vacinação. Esforçava-se para conscientizar a todos e, assim, evitar uma epidemia em Leopoldina. A autoridade médica local também tinha uma postura pedagógica, fazendo visitas às escolas, fábricas e publicando notas na imprensa. A violenta Revolta da Vacina em 1904 mostrou às autoridades sanitárias que a obrigatoriedade da vacinação e a truculência com a qual os agentes de saúde tratavam o povo deveria ser substituída por medidas de conscientização, as quais passavam pelo aumento do diálogo e do poder do convencimento.  





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