19.3.20

Propaganda, cultura e saúde


A imagem acima, uma propaganda publicada na Gazeta de Leopoldina (12/11/1933), anuncia um fortificante para raquíticos, pessoas esgotadas etc.

O tônico promete força e a revitalização do organismo. A ilustração que acompanha o texto é bem interessante, traz um homem musculoso lutando contra um felino selvagem. O homem saudável estrangulando a fera deveria ser uma imagem atraente, especialmente para aqueles que eram diagnosticados como doentes e inertes, caso da população rural brasileira nos anos 1920.

A propaganda poderia estar retomando uma ideia exposta na obra "Jéca Tatuzinho" (1924), de Monteiro Lobato (1882-1948)?

No conto, o escritor paulista retoma a figura do Jeca Tatu e narra sua redenção, após o caboclo ser medicalizado.


Depois de ser tratado pelo profissional da saúde,  Jeca deixou de ser preguiçoso, opilado e fraco. Revigorado, o caboclo enfrentou, certa vez, uma onça e a pôs para correr.

Jeca tornou-se um novo homem,  trabalhador, corajoso,  valente e, ao final, um empreendedor rural de sucesso!

A enorme popularidade de Monteiro Lobato e do seu personagem Jeca Tatu junto ao público chamaram a atenção da indústria farmacêutica. 

O farmacêutico Cândido Fontoura (1885-1974), em parceria com Lobato,  anunciava seu remédio - Ankilostomina Fontoura - por meio da publicação do conto "Jéca Tatuzinho" em versão adaptada, com pequenas alterações em relação ao texto original.

"Jéca Tatuzinho" tornou-se um manual de higiene e, ao longo de várias décadas, milhões de exemplares foram impressos e distribuídos nas escolas de todo o Brasil. Tanto Lobato quanto o Jeca cristalizaram-se ainda mais na cultura e no imaginário popular,  tamanha a divulgação de sua obra.
Além da questão comercial,  o objetivo do texto era modificar costumes da população, como, por exemplo, o hábito de caminhar sem calçados, fato que favorecia o contágio por verminoses. Nos jornais da década 1930, multiplicavam-se anúncios de tônicos e complexos vitamínicos para combater verminoses, anemia e outras doenças parasitárias, as quais grassavam entre a população.

A educação higiênica, a adoção de medidas sanitárias e a medicalização representavam, naquele contexto,  a chance de reverter o quadro febril e mórbido que afligia o povo brasileiro. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário.