26.12.14

Dilema indígena no Brasil contemporâneo: um olho no passado outro no futuro

Em Brasília (DF), no dia 16 de dezembro de 2014, tive um encontro surpreendente com representantes indígenas das seguintes nações: Terena (Mato Grosso do Sul), Krikati (Maranhão) e Xavante (Mato Grosso).

Estávamos hospedados no mesmo hotel e me aproximei deles para tentar conversar, conhecê-los e saber onde moravam e como viviam. Como estou fazendo a Pós-graduação em Cultura e História indígena da Universidade Federal de Juiz de Fora, não podia deixar passar esta oportunidade de dialogar com os índios e ouvir o que eles tinham a dizer sobre a situação atual de seu povo.


João Nonoy Krikati, Eu, Cacique Valcélio Terena e Januário Teresarol Xavante. (Esquerda para direita) Saguão do Hotel Saint Peter, em Brasília - DF.

Durante o café da manhã, pude conhecê-los um pouco mais e conversamos sobre a questão fundiária e as dificuldades que os povos indígenas enfrentam para ter o seu direito reconhecido sobre as terras que seus ancestrais ocupavam antes da chegada dos colonos europeus no Brasil, no século XV. A esse respeito, eles se mostraram bastante preocupados com a discussão da PEC 215, a qual pode trazer um recrudescimento dos direitos indígenas em relação à terra.

Hoje, eles vivem em reservas, algumas demarcadas, outras em processo de demarcação. Relataram que são atendidos por missionários, os quais até os dias atuais tentam convertê-los ao cristianismo. Nas aldeias, há escolas indígenas e até índios que cursam o Ensino Superior, caso de João Nonoy, bacharel em Direito. Eles se vestem como nós, possuem redes sociais e utilizam celulares de última geração.

Engana-se quem acredita que só porque os índios utilizam roupas e tecnologias do "homem branco" deixaram de ser índios. 

"Ao se apropriar das novas mídias e colocá-las a serviço de seus interesses, os povos indígenas dão um grande passo. Preservar essas informações [sua cultura] na internet, por exemplo, pode ser importante. Mas eles sabem que o desafio maior continua sendo manter suas culturas vivas e em transformação no interior de suas próprias comunidades." (História e cultura dos povos indígenas no Brasil. São Paulo: Barsa Planeta. 2009.  p. 129.)

Portanto, em suas aldeias, eles tentam preservar seus costumes, alguns ainda cultuam suas divindades, realizam seus ritos tradicionais e lutam para manter viva sua língua pátria, que é diferente do português, a língua oficial do Brasil. 

Não é só porque são índios eles são obrigados a viver na mata, como viviam seus antepassados. É possível manter sua cultura e seus costumes e mesmo assim usar jeans, acessar a internet por um smartphone ou assistir TV a cabo. Aliás, as tecnologias são ferramentas que auxiliam os índios a se mobilizarem para reivindicar seus direitos e divulgar suas estórias e visão de mundo.
O que faz  desses indivíduos índios é o seu sangue, sua ascendência, o reconhecimento próprio e social de sua identidade.

A cultura, que marca essa identidade, é plural e maleável, ela está sempre mudando, se adaptando e, com o passar do tempo e com a interação entre diferentes povos, incorpora novos elementos ao seu conjunto de valores. 
Nesse sentido, "... esses povos e suas culturas não são entidades fechadas e estáticas; na verdade, estão em constante transformação. Saber até que ponto e em que medida vão incorporar à sua cultura os idiomas, os recursos, os traços e os costumes não indígenas é uma decisão que diz respeito a cada povo..." (op cit. p. 137).

Apesar dessa metamorfose cultural, o índio continua sendo índio, numericamente inexpressivo no total da população brasileira atual (0,2% da população do país). Embora sejam minoria, as mais de 232 etnias indígenas que vivem espalhadas pelo território nacional merecem todo cuidado, amparo e o nosso respeito, pois a identidade cultural brasileira, historicamente, deve muito à cultura dos primeiros nativos desta terra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário.