A falta de educação ou a educação sem qualidade é apontada como a grande vilã das mazelas políticas e sociais em nosso país.
A educação escolar vai mal, é verdade, os últimos resultados do ENEM apontam uma queda na qualidade do Ensino Médio em muitos estados do Brasil, e isso é algo que não surpreende ninguém. Mas não iremos discutir aqui os inúmeros e complexos fatores que, certamente, influenciaram o declínio do desempenho escolar no Ensino Médio. Nosso assunto é outro: a decadência de outro tipo de Educação, a familiar e suas implicações na vida coletiva.
Pretendemos lançar algumas indagações sobre a forma de Educação mais importante que podemos receber, aquela que não se aprende nos bancos escolares, aquela que vem de casa, e começa a partir do momento em que somos amamentados.
A educação familiar é a base da sociedade e da vida coletiva. Sem bons valores, os quais são construídos e transmitidos em casa, que tipo de sociedade teremos?
O abandono da educação familiar e de alguns valores fundamentais, como o respeito, a ética e a responsabilidade, contribui para a formação de uma sociedade despreparada, violenta, corrupta e caótica, onde há intolerância e preconceito (racial e principalmente social).
Através do simples método da observação cotidiana, não é difícil perceber o quanto a falta de educação se manifesta nas relações entre os indivíduos, seja no trabalho, em casa, com conhecidos e desconhecidos.
No comércio, por exemplo, é muito comum reclamarmos quando somos mal atendidos pelos varejistas, que nos recebem em sua loja com a expressão fechada, insatisfeita, parecendo fazer-nos um favor ao vender o seu produto. Nem um "bom dia" e/ou um "muito obrigado" são mencionados nesta relação atendente-consumidor.
Mesmo entre os prestadores de serviço altamente qualificados, portadores de Educação em nível Superior, como advogados, médicos, engenheiros e professores, há também falta de educação elementar. Não é incomum a deselegância e a pouca educação na atitude e nos discursos de médicos e advogados.
As pessoas estão sempre se queixando do mau tratamento recebido em escritórios, consultórios, bancos e órgãos públicos.
Claro que as empresas e os gestores públicos não investem, suficientemente, na formação, preparo e qualificação de seus recursos humanos para lidar adequadamente com o público. Sabemos também que os salários pagos por eles estão sempre aquém do pretendido pelos trabalhadores e que esse fato gera insatisfação e provoca desmotivação, mas isso não justifica o mau tratamento que tem sido dispensado aos clientes e ao público em geral, senão a falta de educação que não foi recebida no lar, na mais tenra idade. Todos temos problemas, frustrações e variações de humor, no entanto não é certo deixar esses sentimentos nos dominarem a ponto de prejudicar a qualidade de nossas relações com o próximo, principalmente no trabalho.
Aristóteles (384 - 322 a. C.), filósofo grego, alerta que os costumes são o melhor fundamento de um governo, e podemos inferir que também o são em uma sociedade. Se nossa educação vai mal, se as pessoas perderam o respeito, a gentileza e a ética, o que podemos esperar de nossa organização social e de nosso governo?
Em síntese, imagine um país onde o povo optou por esquecer os princípios e valores familiares, onde os pais não se preocupam em educar os seus filhos, limitando-se a "jogá-los", algumas horas por dia, em escolas. Estas instituições, por sua vez, estão sucateadas e abandonadas pelo Poder Público, portanto não conseguem realizar plenamente seu trabalho, que é de instruir e formar cidadãos com habilidades e competências para o trabalho, pesquisa e participação na vida política de seu país. Qual é o resultado de tudo isso?
Temos um país com a 6ª maior economia do Mundo, mas ocupamos a 4ª posição dentre as nações com a maior desigualdade social na América Latina, segundo dados da ONU (2012). Temos uma justiça servindo aos interesses de poucos, protegendo criminosos e políticos corruptos, punindo o povo. Convivemos com contrastes sociais gritantes, má distribuição de renda, violência exacerbada, elevados índices de consumo de bebidas alcoólicas e drogas entre os jovens, destruição ambiental etc.
E o pior, nós mantemos este país das aparências pagando elevadíssimos impostos com trabalho e suor, para viver em uma sociedade sem educação, com precário serviço de saúde, falta de saneamento básico e de segurança, enquanto os governos gastam bilhões de reais em estádios e aeroportos para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Dois eventos caríssimos, que nós financiamos para divertir os ricos e os turistas. Não obstante contribuímos para encher ainda mais os bolsos dos políticos, das grandes construtoras e dos bancos.
Enfim, enquanto houver ignorância entre o povo, a elite econômica e dirigente de nosso país permanecerá manipulando o poder de acordo com os seus próprios interesses, cerceando os direitos básicos da população. Cabe aqui citar as palavras de um revolucionário venezuelano, Simón Bolívar (1783 - 1830), para quem "um povo ignorante é um instrumento cego de sua própria destruição."