22.6.19

Eleição, debate, cidadania e democracia

A eleição de diretor escolar, que ocorre, geralmente a cada três anos, é uma boa oportunidade para a comunidade, especialmente os alunos, exercitar a cidadania e compreender o funcionamento de uma democracia.

O período que antecede a escolha do diretor é um momento para reflexão coletiva sobre a gestão e os rumos da escola pública e é marcado pelo debate de ideias e de propostas para o futuro. Bom, pelo menos é assim que deveria ser...

Não houve debate na escola, sequer foi possível fazer perguntas para os candidatos após a apresentação de seus planos. Tudo se resumiu ao monólogo. O direito de estudantes e professores de inquirir os candidatos foi tolhido, o que revela uma concepção limitada, para ser bem educado, do que é uma democracia e de como funciona um processo democrático.

Não há democracia sem divergências, sem questionamentos, sem o contraditório e sem amplo debate público sobre ideias e propostas que dizem respeito à coletividade.

Quem tem medo de debater ou é despreparado ou desconhece a essência do que é um regime democrático. Infelizmente, muitos brasileiros, inclusive profissionais que trabalham na educação, acreditam que democracia se resume apenas ao ato de votar. Ledo engano, quem assim vê está equivocado, pois enxerga apenas parte do processo e não todos os elementos que o constituem - se inclui aí o salutar debate de ideias. Não é por acaso que o Brasil ocupa as últimas posições nos rankings internacionais de educação, as escolas estão cheias de maus profissionais, gente mal formada, sem qualificação e pessoas despreparadas para exercer a nobre função de educar, ensinar e formar o ser integral, preparado cognitivamente e com habilidades socioemocionais que lhe possibilitem a vida em uma sociedade plural.

Na Grécia Antiga, berço da democracia, os cidadãos eram livres para falar nas assembleias realizadas na ágora (espaço público - vide imagem abaixo). O debate era tão importante entre os gregos  que os homens de origem mais abastadas eram educados e aprendiam, dentre outras coisas,  a dominar a arte da oratória e da retórica. A capacidade de expor publicamente as ideias com clareza e conseguir convencer os demais acerca de sua importância eram fundamentais na pólis.
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Existe democracia sem debate? Onde?
Num país com governo republicano e democrático como o Brasil o debate continua sendo extremamente necessário,  principalmente porque os interesses dos grupos que compõe nossa sociedade são muito diversos e precisam ser considerados, evidentemente. Que outra forma temos de ouvir os outros, suas queixas, suas reivindicações e suas sugestões senão através de um bom debate, típico das melhores experiências democráticas? A falta de debate e de diálogo silenciam as pessoas e resultam num enfraquecimento das instituições democráticas, na medida em que restringem a participação dos vários segmentos da comunidade em um momento vital como é a eleição para diretor escolar. Sendo a escola uma instituição constitutiva da sociedade, com um projeto político e pedagógico, jamais se pode abrir mão do debate. O debate faz parte do espírito escolar, ou deveria fazer, para fomentar ideias, projetos e encaminhamentos para a transformação social. Sem debate não há, pois, aprendizagem.

Então, nos resta lamentar por termos passado por um processo eleitoral sem ter experimentado um debate, sem ter a possibilidade, sequer, de fazer perguntas para aqueles que concorriam ao cargo.  Todos perdem, especialmente os estudantes que não tiveram  a valiosa chance de exercitar a cidadania. Imagine o quanto a escola não ganharia se, num contexto de reflexão coletiva, alunos, servidores e professores tivessem voz ativa e pudessem se expressar?
Deixemos a imaginação trabalhar e vamos cobrar, a todo custo, mais organização,  competência e oportunidades de debates prévios antes da tomada de decisões que dizem respeito ao futuro e à vida de centenas de pessoas. Eu fiz isso e continuarei fazendo, pois reconheço a relevância de tal ação na construção da coisa pública. 

Em tempo, anoto algumas das questões que pretendia suscitar, caso tivesse sido oportunizado um momento de debate:

1. Por que não há capina frequente na escola?
2. Por que não tem sabão de coco em barra no banheiro masculino dos alunos?
3. Por que a iluminação artificial de alguns espaços escolares é deficiente?
4. Por que não se cultiva uma horta na escola, apesar da escola contar com mais de uma dezena de funcionários?
5. Por que o parquinho encontra-se abandonado, como já foi registrado aqui no Blog?
6. Por que a sala dos professores permanece desorganizada? 
7. Por que há amontoados de mobília com defeito em alguns cantos da escola?
8. O que se pode fazer para melhorar a gestão de projetos?
9. Quais medidas serão tomadas para aperfeiçoar o desenvolvimento profissional?
10.Como se pretende efetivar uma gestão democrática, colegiada, inclusiva e participativa na escola, de fato?

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