30.9.13

O Império colonial da Espanha na América

  • 1492: Cristóvão Colombo chega à América, navegando sobre o patrocínio do Estado espanhol.
Colombo em contato com os nativos. Gravura de Theodor de Bry
  • O interesse dos espanhóis nas terras do "Novo Mundo" se resumia em encontrar metais preciosos - ouro e prata.
  • Nas ilhas caribenhas, os espanhóis obtiveram, junto aos nativos, informações da existência de  metais preciosos no continente.
  • Durante a conquista do território americano pelos espanhóis, destaca-se a atuação de Hernán Cortez (1485-1547) e Francisco Pizarro (1476-1541). Cortez chegou ao México em 1519 e tomou a capital do Império Asteca - Tenochitlán - em 1521. Para vencer ele contou com o apoio de intérpretes e com o auxílio de povos nativos inimigos dos Astecas. Pizarro liderou a expedição espanhola em direção a região do Peru, em 1532, tomando a capital do Império Inca em 1533. 
Civilizações pré-colombianas. FRANCO JR., Hilário; ANDRADE F., Ruy de. Atlas: história geral. São Paulo: Scipione, 1997. p. 38.
  • Embora os espanhóis fossem numericamente inferiores aos índios, o uso de armas de fogo, como arcabuzes e canhões, além dos cavalos ajudaram os europeus a conseguirem uma rápida vitória. As doenças trazidas da Europa, como por exemplo a varíola, a tuberculose e a gripe, também contribuíram para devastar os povos indígenas.
  • A conquista dos territórios indígenas assegurou à Espanha a posse de muitas terras, mão de obra e o acesso as minas de ouro e prata, no México, na Bolívia e no Peru.
  • Para colonizar o a América, a Coroa Espanhola dividiu seus territórios em vice-reinados, indicando vice-reis para aplicar a justiça, cuidar de assuntos administrativos, militares e religiosos. Fazia parte da Administração da América Espanhola: 
  • As audiências: os vice-reis exerciam a autoridade judicial. 
  • Os Cabildos: espécie de conselho municipal, tratava de assuntos policiais e do comércio.
  • Casa de Contratação: criada em 1503, estava sediada em Sevilha. Fiscalizava os negócios coloniais, a cobrança dos impostos (quinto) sobre o ouro e o comércio colonial.
  • Conselho das Índias: criado em 1524, nomeava os funcionários para os altos cargos da Administração colonial.
Economia e trabalho na América Espanhola
  • Os espanhóis encontraram minas de prata em Potosí, na atual Bolívia, em 1545. Acharam prata no México em 1546. Os metais preciosos deixavam as minas nos lombos de mulas, seguiam para os portos, onde eram embarcados nos navios autorizados pela Metrópole.
  • Outras atividades econômicas desenvolvidas: criação de gado, cultivo de produtos tropicais para exportação (cana de açúcar, tabaco, algodão, anil e cacau).
  • O milho, o cacau e a batata, alimentos nativos da América, continuaram a ser cultivados para  garantir a subsistência e abastecer o mercado interno.
Milho - foi a base da alimentação indígena e continuou sendo cultivado pelos colonos europeus.
  • Na América espanhola também houve a presença de escravos africanos, mas a maior parte do trabalho era realizada pelos indígenas, através de duas formas principais:
  • Mita: originalmente era utilizada pelos incas e foi modificada pelos espanhóis. Os chefes indígenas sorteavam em suas comunidades os indivíduos que iriam trabalhar para os espanhóis por certo período. Os sorteados trabalhavam principalmente nas minas. Recebiam baixos salários e sofriam abusos dos colonizadores.
Exploração de mina de prata em Potosí, na Bolívia. Gravura de Theodor de Bry.
  • Encomienda: O colono recebia o direito de explorar o trabalho de uma ou mais comunidades indígenas, podia cobrar impostos, exigir que os índios trabalhassem na agricultura ou nas minas. Em contrapartida, o colono deveria promover a catequização das comunidades nativas.
Sociedade na América Espanhola


  • Espanhóis: Eram conhecidos como chapetones. Ocupavam os cargos públicos mais importantes e tinham privilégios nos negócios coloniais.
  • Criollos: Descendentes dos espanhóis nascidos na América. Possuíam grandes propriedades de terras e atuavam no comércio ou nos cabildos.
  • Mestiços: Filhos de espanhóis com índias. Trabalhavam como pequenos comerciantes ou no campo, além de prestarem serviços domésticos.
  • Índios: Em geral não possuíam propriedades, trabalhavam nas minas, nas fazendas e nas obras públicas.
  • Escravos africanos: Não eram numericamente expressivos, assim como os indígenas tinham poucos direitos e executavam todos os tipos de tarefas urbanas e rurais.
O papel da Igreja Católica

  • A colonização esteve associada à expansão do catolicismo para os povos indígenas.
  • Os missionários, como por exemplo os Jesuítas, tiveram uma atuação destacada na catequização dos índios. Fundavam Missões ou Reduções, construíam escolas onde reuniam os índios para lhes ensinar o catolicismo, através da música e do teatro. 
  • Frei Bartolomeu de Las Casas (1474-1566): criticou o comportamento violento e abusivo dos colonos espanhóis em relações aos povos indígenas. Seus relatos foram reunidos em um livro "O paraíso destruído - a sangrenta história da conquista da América."
  • Hibridismo: apesar de serem forçados a abandonar suas crenças, os índios resistiam e tentavam manter vivas algumas de suas práticas e ritos religiosos. Assim, foi comum a associação de elementos culturais indígenas com os elementos europeus. Exemplo: Entre os incas a comemoração de Corpus Christi foi associada à celebração do deus Sol.  
Saiba mais sobre a América Espanhola e Inglesa pelos slides:


25.9.13

Resumo: Colonização da América

Colonização inglesa
  • Os ingleses começaram a colonização da América do Norte no século XVII, em 1620, limitando-se, inicialmente, em ocupar a parte da costa leste do atual território dos E.U.A. (Observe o mapa abaixo)
As treze colônias inglesas na América do Norte.
  • Naquela época, diversos imigrantes ingleses deixaram a Inglaterra devido às perseguições políticas e religiosas que ocorriam no país. Então muitas pessoas, principalmente os puritanos (protestantes) decidiram seguir para a América para reconstruírem suas vidas.
  • O custo das viagens da Europa para a América eram elevados. A Coroa inglesa ou as Companhias de Comércio patrocinavam a viagem dos imigrantes. esperando ter retorno do investimento através da exploração das riquezas do continente americano pelos colonos.
Desembarque de imigrantes ingleses na América do Norte.
  • Os ingleses formaram 13 colônias inglesas na América do Norte, que se dividiam, basicamente, em colônias do Sul e colônias do Norte. Além de ingleses, as colônias receberam outros imigrantes, tais como irlandeses, franceses e holandeses. 
KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007. p. 44.
  • As colônias do Norte: São chamadas de colônias de povoamento, pois nelas predominavam o trabalho livre, assalariado e a pequena propriedade rural trabalhada, geralmente, pela própria família. O clima era temperado, semelhante ao europeu. A economia baseava-se no comércio, na manufatura e na agricultura de diversos gêneros agrícolas. 
  • As colônias do Sul: eram colônias de exploração, com a finalidade de fornecer à Metrópole (A Inglaterra) produtos subtropicais, tais como tabaco, arroz, algodão etc. Nas colônias do sul havia grandes propriedades rurais (os latifúndios), a mão de obra era escrava (cativos africanos) e monocultura (cultivo de apenas um gênero agrícola) para exportação. Esse modelo é denominado de plantation
Escravos de origem africana trabalhando em uma fazenda de algodão, do Mississippi.
  • As Treze colônias inglesas na América do Norte gozavam de relativa autonomia para fazer comércio entre si e tomar decisões políticas, porém ainda deviam obediência à Coroa Inglesa.
  • Evolução da população das Treze colônias:
Ano
Habitantes
1620
2.500
1670
114.000
1720
300.000
1775
2.500.000
RODRIGUES, J. E. D. História em documento: imagem e texto, 8º ano. São Paulo: FTD, 2009. p. 39. 

  • A ocupação das terras americanas pelos colonos representou um desastre para os índios que viviam na região. Milhares de nativos foram mortos pelas doenças, para os quais não tinham proteções naturais, como a tuberculose, a gripe, dentre outras. Muitos foram mortos nas guerras contra os colonos ou em virtude do trabalho escravo, que iria durar até 1863, quando a abolição da escravatura foi oficializada nos EUA.
O comércio triangular
  • Trata-se das práticas comerciais praticadas pelas colônias inglesas da América do Norte com a América Central e a África. (Observe o mapa abaixo).





  • As colônias inglesas do Norte obtinham o melaço nas Antilhas (América Central) para produzir o rum. Depois trocavam essa bebida por escravos na África, os quais eram vendidos para as Antilhas e para as colônias inglesas do Sul. 

  • O melaço é uma das matérias-primas usadas para se fabricar o Rum, bebida alcoólica, que servia como moeda de troca por escravos africanos.
  • Os lucros desse comércio triangular favoreceram o desenvolvimento das manufaturas nas colônias do Norte e o surgimento de uma rica burguesia mercantil na América.

17.9.13

Novo artigo no site do Tribuna do Povo

Acessem nossa coluna no site Tribuna do Povo e leiam o novo artigo:

Conheça alguns benefícios da Leitura:


Segundo o Ministério da Educação (MEC) e outros órgãos ligados à Educação, a leitura: 

Desenvolve o repertório: ler é um ato valioso para o nosso desenvolvimento pessoal e profissional. É uma forma de ter acesso às informações e, com elas, buscar melhorias para você e para o mundo. 

Liga o senso crítico na tomada: livros, inclusive os romances, nos ajudam a entender o mundo e nós mesmos. 

Amplia o nosso conhecimento geral: além de ser envolvente, a leitura expande nossas referências e nossa capacidade de comunicação. 

Aumenta o vocabulário: graças aos livros, descobrimos novas palavras e novos usos para as que já conhecemos

Estimula a criatividade: ler é fundamental para soltar a imaginação. Por meio dos livros, criamos lugares, personagens, histórias… 

Emociona e causa impacto: quem já se sentiu triste (ou feliz) ao fim de um romance sabe o poder que um bom livro tem. 

Muda sua vida: quem lê desde cedo está muito mais preparado para os estudos, para o trabalho e para a vida. 

Facilita a escrita: ler é um hábito que se reflete no domínio da escrita. Ou seja, quem lê mais escreve melhor.

11.9.13

A arte e o elogio ao mundo caipira (séculos XIX-XX)

O universo sertanejo sempre despertou grande interesse nas pessoas. O sertão ou o interior é visto por alguns como um recanto para descanso e o berço das raízes nacionais, para outros é associado, erroneamente, ao  atraso e à ignorância.
O tema é tão fascinante que a Arte não se cansa de representá-lo, seja em filmes, mini-séries, novelas ou letras musicais.

Antes de ganhar vida nos televisores ou no rádio, os sertões e sua gente permeavam o imaginário de artistas da pintura e da literatura nacionais no século XIX e XX. Nossa ideia é perceber a influência da cultura sertanista sobre a produção artística e literária de três vultos da cultura brasileira, que viveram em épocas distintas, mas que tinham uma fonte de inspiração comum. 

Comecemos por Almeida Júnior (1850-1899), que nasceu no interior do estado de São Paulo. Estudou na tradicional Academia Imperial de Belas Artes, no Rio de Janeiro, onde aprendeu sua técnica de pintura realista primorosa. Por essa escola passaram nomes como Victor Meirelles, Pedro Américo dentre outros grandes artistas brasileiros entre a metade e o final do século XIX.

Boa parte dos artistas formados na Academia Imperial dedicavam seus trabalhos, pesquisas e produção artística à História. Muitos deles retratavam em suas telas temas históricos, fatos do passado, exaltando uma identidade nacional que o Estado brasileiro, a cada pincelada, tentava construir com base no heroísmo e na união das diferentes etnias que formavam o seu povo.

Mas Almeida Júnior, apesar de sua formação clássica, contrariou os ditames da arte acadêmica, voltando suas atenções também para os fatos cotidianos, típicos do interior paulista, onde crescera e, possivelmente, vivera deliciosos momentos. Muitas de suas obras são,  portanto, marcadas por um caráter regional, fruto de seu olhar nostálgico sobre o seu passado e o dia a dia das pessoas comuns que desfrutavam de uma vida tranquila no sertão paulista.
Pescando, 1894. Almeida Júnior.
As palavras do historiador Jorge Coli reforçam a proposta inovadora da arte de Almeida Júnior, quando afirma: "deve-se, então, sublinhar o seu caráter a tal ponto singular que o faz destoar de seus contemporâneos. Não existe, no pintor, nenhum apelo a uma qualquer eloqüência heróica, retratando o trabalhador diante de uma natureza épica, como o fazia, nos Estados Unidos, seu contemporâneo Homer. Nenhum efeito de exaltação retórica." (COLI, Jorge. A violência e o Caipira. disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/reh/article/view/2172/1311)

Um personagem marcante nas telas de Almeida Júnior é o caipira, como se vê, por exemplo, na reprodução abaixo.  
Caipira picando fumo, 1893.
Com expressões severas e um ar despreocupado com o tempo, o caipira prepara o fumo, cortando-o com sua faca, para envolvê-lo numa palha de milho, cujos exemplares estão espalhados pelo chão de terra batida.
Assentado num banco improvisado de madeira, com os pés descalços e trajes simples, o sertanejo está à frente de sua casa de pau a pique, um tipo de construção rudimentar muito comum do período colonial e imperial do Brasil, principalmente nas áreas rurais.

A beleza e a perfeição da obra saltam aos olhos. A iluminação, a perspectiva, o volume e as cores dão vida à tela e explicitam a genialidade do artista.


O caipira pintado por Almeida Júnior distanciava-se bastante de outro sertanejo bastante conhecido -  o Jeca Tatu - personagem criado e descrito no início do século XX, pela pena de Monteiro Lobato (1882-1948), também natural do interior paulista.
"...a vegetar de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna, nada a põe de pé."
O Jeca Tatu de Lobato, de forma pessimista e caricatural, denunciava o abandono das populações sertanejas pelo poder público. Ele representava indivíduos que viviam isolados nas áreas rurais, sem saneamento básico, adoecidos, agindo como predadores do solo e da natureza.  
A respeito do Jeca, seu criador diz: "Porque a verdade nua manda dizer que entre as raças de variado matiz, formadoras da nacionalidade e metidas entre o estrangeiro recente e o aborígene de tabuinha no beiço, uma existe a vegetar de cócoras, incapaz de evolução, impenetrável ao progresso. Feia e sorna, nada a põe de pé." (LOBATO, Monteiro. Urupês, São Paulo: Globo, 2009. p. 166).

Em suma, o Jeca era um entrave ao progresso nacional devido ao seu estado físico e social.

No final da história original do Jeca, porém, ele tem acesso a tratamento médico, se regenera e conclui seu caminho, tornando-se uma pessoa saudável, produtiva e um rico fazendeiro.

Na segunda metade do século XX, outro personagem interiorano tomou conta do imaginário coletivo de diversas gerações brasileiras.

Chico Bento, desenhado pela primeira vez em 1961 por Maurício de Sousa (1935-), cuja terra natal também é o estado de São Paulo, fez sucesso nas HQs (histórias em quadrinhos).


Chico bento, inspirado em um parente de seu criador que residia na zona rural no vale do Paraíba, a exemplo dos personagens citados anteriormente, anda descalço, veste roupas simples e usa chapéu de palha. Chico tem uma linguagem marcada pelo regionalismo, o que provocou certa polêmica entre estudiosos de ciências humanas e sociais. O idealizador do personagem foi acusado de criar estereótipos acerca da população sertaneja, como o falar errado, algo que a maioria dos linguistas atuais aceita como parte diversificada da língua pátria e as suas variações. 

O fato é que o caipirinha, divertido e simpático, conquistou o público infanto-juvenil devido às suas peripécias, pescarias, colheita de frutas no pomar do vizinho sem autorização e de sua dedicação em proteger a natureza e os animais.

O Caipira de Almeida Júnior, o Jeca de Monteiro Lobato e o Chico Bento de Maurício de Sousa são representações artísticas que possuem certas semelhanças e variam no tempo e no espaço. Elas nasceram das variadas experiências de seus criadores com parte do Universo sertanejo. Essas representações por vezes são generalizadas, tornam-se caricaturas e alimentam visões mais ou menos idealizadas do cotidiano dos habitantes dos sertões do Brasil. Em alguns casos serviram como argumentos para justificar pré-conceitos e visões distorcidas sobre o campo e sua população, que passaram a ser associados ao atraso, ao conservadorismo e a ignorância.

Contudo, tais associações são, no mínimo, equivocadas, pois a cultura não pode ser julgada, tampouco rotulada de "atrasada" ou "avançada". Mesmo identificando a permanência de tais equívocos em parte da opinião pública atual, a cultura sertaneja continua a exercer forte influência e interesse do público. 

Quem não se interessa pela vida simples do caipira, por sua rotina no campo, do contato e da relação que ele mantém com uma exuberante natureza, que lhe agracia com seus frutos e lhe ameaça com sua hostilidade? Quem não se derrete pela culinária da roça? Só de imaginar o frango caipira com quiabo, a broa de fubá e o aroma do café produzido in loco, o paladar, por mais exigente e sofisticado que seja, acaba se rendendo à simplicidade da comida preparada no fogão à lenha. Qual alma não encontra a paz na sinfonia orquestrada pela viola ou pelo doce gemido do carro de boi?

Jeca, Caipira ou Chico... seja qual for o personagem relacionado ao contexto interiorano e regional, seu mundo continuará seduzindo velhos e novos espectadores e leitores. Afinal, a cultura sertanista faz parte da cultura nacional. Na cidade grande, pequena ou no campo, o DNA do brasileiro carrega em sua essência o sertão. Rotular ou negar tal característica apenas reforça o óbvio - que, em pleno século XXI, somos caipiras por natureza.