31.1.23

Ailton Krenak: uma voz a favor da natureza e dos povos originários

Krenak é um povo indígena que vive em Minas Gerais numa reserva na região do Rio Doce. Eles são descendentes dos botucudos do Leste, os quais eram combatidos pelas autoridades e colonos desde o período colonial.

Um dos principais representantes da etnia é Ailton Krenak, defensor do direito dos povos originários e da preservação da natureza.




Durante a Assembleia Constituinte de 1987, a qual aprovou a atual Constituição Federal e pôs fim à Ditadura Militar, Ailton Krenak teve um papel muito importante na defesa dos direitos indígenas. Enquanto Krenak fazia seu emblemático discurso no Congresso Nacional, pintava o rosto com jenipapo, num gesto da luta e da resistência dos indígenas. Assista à cena abaixo. 



Ailton é autor de vários livros e participa de diversas atividades na mídia, em eventos culturais e fóruns de debates sobre os direitos indígenas e a luta pela preservação do meio ambiente. 

Sua obra é uma contundente denúncia da voracidade do sistema capitalista. Seja através da derrubada das florestas nativas pelo agronegócio ou por meio poluição dos rios pela ação criminosa de mineradoras  a busca do lucro está comprometendo toda a vida no planeta. 

O escritor foi o eleito para a Academia Brasileira de Letras, sendo o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na academia. 

Eduardo Anizielli/Folha Press


Ele assume a cadeira de número 5 que pertenceu a José Murilo de Carvalho, o qual faleceu em agosto deste ano.

Leia um trecho de seu último livro "A vida não é útil" (2020)



"Quando falo de humanidade não estou falando só do Homo sapiens, me refiro a uma imensidão de seres que nós excluímos desde sempre: caçamos baleia, tiramos barbatana de tubarão, matamos leão e o penduramos na parede para mostrar que somos mais bravos que ele. Além da matança de todos os outros humanos que a gente achou que não tinham nada, que estavam aí só para nos suprir com roupa, comida, abrigo. Somos a praga do planeta, uma espécie de ameba gigante. Ao longo da história, os humanos, aliás, esse clube exclusivo da humanidade — que está na declaração universal dos direitos humanos e no protocolos das instituições —, foram devastando tudo ao seu redor. É como se tivessem elegido uma casta, a humanidade, e todos que estão fora dela são a sub-humanidade.  Não são só os caiçaras, quilombolas e povos indígenas, mas toda vida que deliberadamente largamos à margem do caminho. E o caminho é o progresso: essa ideia prospectiva de que estamos indo para algum lugar. Há um horizonte, estamos indo para lá, e vamos largando no percurso tudo que não interessa, o que sobra, a sub-humanidade — alguns de nós fazemos parte dela. É incrível que esse vírus que está aí agora esteja atingindo só as pessoas. Foi uma manobra fantástica do organismo da Terra tirar a teta da nossa boca e dizer: “Respirem agora, quero ver”. Isso denuncia o artifício do tipo de vida que nós criamos, porque chega uma hora que você precisa de uma máscara, de um aparelho para respirar, mas, em algum lugar, o aparelho precisa de uma usina hidrelétrica, nuclear ou de um gerador de energia qualquer. E o gerador também pode apagar, independentemente do nosso decreto, da nossa disposição. Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. Não é preciso nenhum sistema bélico complexo para apagar essa tal de humanidade: se extingue com a mesma facilidade que os mosquitos de uma sala depois de aplicado um aerossol. Nós não estamos com nada: essa é a declaração da Terra". 

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