11.1.19

Conheça o empreendedorismo, o novo norte da Educação

Empreendedorismo é um conceito ligado ao mundo dos negócios,  entretanto,  nos últimos anos a palavra está cada vez mais presente nas escolas públicas.

Redes públicas de ensino têm adotado a bandeira da educação empreendedora. Com isso, o objetivo da escola passa a ser o de formar jovens empreendedores.

Mas, afinal, o que significa empreendedorismo?

A origem etimológica da palavra é antiga, no século XII sua tradução no inglês - intrepre-neur - associava-se às pessoas de negócios e também poderia se referir a quem incentivava brigas. No século XVII, o empreendedor tomava decisões militares. No início do século seguinte, a palavra designava criadores e executores de projetos. O economista austríaco Joseph Schumpeter (1883-1950), denominou de empreendedor o indivíduo que promove a inovação e o desenvolvimento econômico. Fernando Dolabela, escritor brasileiro, vai além, vê o empreendedorismo não só no campo econômico, mas também no social. Para ele, o indivíduo é naturalmente um empreendedor, porém tal habilidade precisa ser ensinada seguindo uma metodologia distinta do modelo tradicional de Educação. (Leia mais clicando aqui).   

O ensino do empreendedorismo não é uma invenção brasileira. Desde o início do século XXI, órgãos internacionais têm proposto a educação empreendedora para enfrentar problemas ligados à empregabilidade. A UNESCO apresentou em 2004 um quinto pilar para a Educação: "aprender a empreender".

Segundo o SEBRAE, o  empreendedorismo é "a habilidade de se conceber e estabelecer algo partindo de muito pouco ou quase nada".  

Nesse sentido, a escola empreendedora deve formar alunos com a capacidade de criar negócios criativos e rentáveis, mesmo contando com poucos recursos, falta de apoio ou capitais escassos. O empreendedor é um visionário, corre riscos, aposta e investe na criatividade e na inovação para superar as adversidades econômicas e sociais.

O neoliberalismo introduzido no Brasil nos anos 1990 repercutiu nas políticas educacionais, permitindo a existência de parcerias entre o setor público e o privado. O melhor exemplo de tal repercussão é o caso do Instituto Ayrton Senna, o qual tem firmado acordos com diversas redes educacionais de estados e municípios. O Instituto defende a reforma da educação, oferta materiais, treina gestores e professores, sobretudo, sob uma orientação com uma perspectiva mercadológica, desconsiderando os interesses e as identidades das comunidades (Sobre o papel do Instituto Ayrton Senna na Educação ver o excelente artigo de pesquisadores da USP, disponível aqui).   

Esse novo paradigma educacional vem no bojo de uma onda conservadora, que defende o abandono de uma escola crítica e cidadã. O projeto "Escola sem partido" é bastante ilustrativo do atual contexto, ao defender uma educação que restringe o ensino e o debate de certos assuntos religiosos, culturais e políticos nas salas de aula, sob o pretexto de se priorizar um ensino neutro.

Acrescente a esse panorama a crise econômica do país,  o índice alarmante de desemprego e o aumento da informalidade, além disso existem as reformas políticas que estão em curso, cujo objetivo é reduzir o papel do Estado, em setores como a Previdência e a flexibilização de direitos e garantias trabalhistas.

A educação empreendedora é voltada para às massas populares, as camadas mais baixas da sociedade. Justamente o segmento que mais necessita do amparo estatal para ter acesso à saúde, à educação, à segurança e ao emprego. 

Diversos pesquisadores e acadêmicos apontam que a educação empreendedora, dentro do sistema Capitalista, seria uma maneira de atender às classes populares, formando mão de obra sem qualificação, voltada  à informalidade ou para o preenchimento de vagas no mercado de trabalho com baixa remuneração. Aqueles que ficam sem espaço no mercado de trabalho, muitos jovens e famílias, recorrem à informalidade, vide a expansão de pequenos negócios, serviços e comércios, instalados nas ruas ou nas próprias residências, como salões de beleza, lanchonetes, restaurantes entre outros. 


Reginaldo, de 41 anos, encontrou na informalidade a saída para driblar o desemprego. — Foto: Marcelo Brandt/G1
Informais ganham 40% menos. Leia a matéria completa clicando aqui.

Segundo o PNAD, a informalidade no Brasil têm crescido à medida em que o ritmo do crescimento econômico segue lento, assim o emprego formal cai. No país, atualmente, temos 37,3 milhões de pessoas na informalidade, são cidadãos que recebem 40% menos do que aqueles que possuem carteira assinada (Ver gráfico abaixo). No grupo dos trabalhadores informais estão pessoas sem registros, sem carteira assinada, empreendedores, pessoas que fazem "bico" comercializando produtos na rua ou por meio da internet. 



Enquanto nas escolas particulares e educandários de elite o foco do ensino médio é o ENEM e os vestibulares, as escolas públicas empobrecem seus currículos, subtraindo matérias consideradas menos importantes, como a Filosofia, a História e a Sociologia. Elas são substituídas por disciplinas "técnicas", que ensinam o aluno a se inserir no mercado ou criar seus próprios negócios. Tornou-se comum em algumas escolas, as quais adotaram o empreendedorismo a realização de feiras, com alunos fazendo doces, salgados, pizzas e afins para vender. Ora, será que é isso o fim último da escola? É essa educação que os pais almejam para seus filhos, os quais após obterem o certificado escolar estarão aptos à abrir um negócio em casa com rentabilidade incerta e sem nenhum tipo de amparo do Estado e proteção social? São questões para reflexão e debate na comunidade escolar. 

O fato é que as vagas de bons empregos e de concursos públicos com maiores remunerações destinam-se a uma classe privilegiada, com algumas exceções, que teve acesso à boas escolas e depois ao ensino superior. São esses indivíduos que ocuparão os melhores cargos no mercado ou nas diversas funções públicas do Estado brasileiro.

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