15.12.17

Notas: das águas e das condições sanitárias locaes

O mal de nossa década são as doenças parasitárias (parasitas biológicos e o pior de todas as espécies, o parasitus publicae) e infectocontagiosas, como ancilostomíase, o cólera, a peste, a febre amarela, a malária, a varíola etc.
Epidemias, de tempos em tempos, ceifam vidas, sobretudo nas cidades, onde os aglomerados urbanos padecem de condições adequadas para uma vida com salubridade.

É justamente nestas aglomerações de pardieiros desordenados, via de regra onde vivem os mais humildes e desprovidos de riqueza, que surgem as pestilências, pois a falta de hábitos de higiene, canalização dos esgotos e ausência de água potável provocam surtos de doenças, as quais rapidamente contaminam as populações.

Enquanto nossas autoridades, as quais julgo serem o pior dos males de nosso paiz, não resolverem promover uma revolução sanitária, canalizando as águas, zelando por sua pureza e potabilidade, assegurando a limpeza urbana e adequando o despejo dos esgotos o flagelo da morte permanecerá nos rondando, em busca de mais vidas para ceifar.

Canalhas vestidos de paletós, não sabem que as crianças são as principais vítimas da negligência sanitária que impacta diretamente no estado da saúde pública? Que alternativa tem o infante senão ingerir água de fontes contaminadas, cuja qualidade não basta nem para o trato das criações de animaes? O virgula morbus é letal no organismo infantil e o vibrião corre à plena liberdade nas fontes locaes, nos rios e nos riachos, os quais se encontram maculados pelo descaso e ineficiência dos administradores publicos. Não há obra alguma nos cursos d'água que ofereça qualquer resistência ou dificuldade à proliferação de micro-organismos que inviabilizam a vida humana. Assim, estamos fadados a ficar constantemente vulneráveis às epidemias, que enfileiram cadáveres, deixando filhos sem pais, viúvas e órfãos a mercê da caridade, da filantropia, da depressão e da degenerescência, como alcoolismo e outros descaminhos gerados pela tristeza profunda.  

A título de sugestão, o poder público deveria aproveitar melhor as águas pluviais ou canalizar adequadamente a água - desde a fonte até o chafariz ou os tanques de reserva. Algo tão simples, porém tão difícil para a mente provinciana do parasitus publicae. Esse tipo de ser parece não saber que a água é o fluído vital por excellencia e que a falta dela faz o martyrio dos povos.

Será que nossos governantes não compreendem que o saneamento é medida primeira e urgente para o desenvolvimento de qualquer civilização? Tomai Roma Antiga, como exemplo, onde a industriosidade erigiu pontes, aquedutos, termas e balneários que permitiram a edificação de um Império.

Sigamos os passos dos grandes, deixemos a política provinciana para trás, tentemos superar nossas limitações e interesses privados para agir pelo grêmio social, livrando-o  da calamidade e do terror das doenças evitáveis!   

Y. B. (1939)

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