Em minhas andanças pelo interior, pouco ou quase nada vi de investimentos e inovação no campo das ciências, letras e artes. Como já dito, as escolas públicas regionais são precárias e em se falando de ciências mal contavam com alguns tubos de ensaios amontoados numa sala apertada, a qual chamavam de laboratório. Faltavam especialistas, químicos, biólogos e físicos para promover trabalhos de pesquisa e de experimentação científicas em escolas ou em instituições acadêmicas.
Os investimentos públicos e privados no setor científico eram inexistentes, pois entre as autoridades governamentais e homens de negócios não havia a consciência de que a ciência era um caminho para se alcançar o desenvolvimento, a médio ou longo prazo. Portanto, não era prioridade dos esforços das elites daquelas sociedades. Que pena! Pobres almas ignorantes, preferem se agarrar a mitos e alegorias religiosas, as quais conservam a humanidade no obscurantismo da ignorância a depreender um grande esforço libertador em nome da racionalidade, a única faculdade capaz de catapultar a humanidade para o cume. Como efeito da defasagem nas ciências, a agricultura definha, as terras ficam empobrecidas, a produtividade decaí, a indústria se torna incipiente e acaba por estagnar o nosso crescimento econômico e a produção das riquezas.
Infelizmente, as artes e as letras são tão mal tratadas quanto a ciência. Mesmo não sendo natural desta terra, aprendi a amá-la, me sinto brasileiro e reconheço o valor da língua mater. "Não pisoteiem a última flor do lácio", bradava um linguista tupiniquim que se posicionava contra as reformas ortográficas que dilapidavam o idioma. Advogava que tais reformas colocavam amarras na língua na vã tentativa de uniformizar o que, por força da natureza, da geografia e das condições históricas e culturais é singular, quesito no qual reside a beleza do idioma.
Aquarelas, afrescos, murais, esculturas, conjuntos arquitetônicos, bibliotecas, museus, enciclopédias, biografias, revistas, jornais, obras de valor acadêmico, científico ou de caráter cultural? Nenhuma! Não havia entre nós, lamentavelmente, mecenas para fomentarem as artes e as letras locais, como houve os Médici e os Sforza na Itália, os quais patrocinaram os gênios da renascença naquele país. Logo, não tínhamos e nem teremos por aqui um da Vinci nem um Boccaccio, pois estamos tão atrofiados culturalmente que os prejuízos poderão ser contabilizados por séculos, resultando numa população insossa, sem criatividade, sem o mínimo de sofisticação cultural e refém de seus próprios preconceitos. Nem o poder público, nem o setor privado investiam nos talentos locais, não publicavam livros e nem incentivam os artistas. Se tínhamos grandes vultos nos maiores centros urbanos, como um Machado de Assis ou um Euclides da Cunha, no interior vivíamos num deserto literário e artístico. As brochuras eram tão raras e escassas quanto pepitas de ouro, desta feita sua posse era prerrogativa de uma minoria letrada e podia se contar nos dedos aqueles que eram alfabetizados.
Se a literatura é o sorriso de uma sociedade, o sorriso do interior do Rio e de Minas é amarelo, quase apagado, sem brilho e lhe faltam muitos dentes, pois que não há incentivo algum para a arte da escrita. Ser escritor ou artista por aqui é ser condenado a passar fome.
Afinal, qual o valor pragmático das letras e das artes? Por que os nossos homens nobres, letrados e poderosos não as valorizam? É certo que alguns deles possuem bibliotecas e coleções particulares, entretanto, por que não estendem o direito à arte para toda a sociedade? Primeiro porque arte é privilégio e símbolo de distinção e de poder, segundo porque a arte em si é libertadora, por isso, manter o povo alijado das manifestações culturais faz parte de um processo de dominação econômica, cujo tecido se inicia pela dominação cultural. Por que as elites e nossos dirigentes não abandonam sua mesquinharia e não veem as letras e as artes como um meio de inclusão, e de promoção do desenvolvimento humano, o que antecede, obrigatoriamente, o progresso econômico? Todos ganhariam, o povo se manifestaria, representando seus valores, seu folclore, sua história, enfim, sua identidade e com isso teríamos uma nação mais feliz. Ademais, há um valor intangível, inominável e que não pode ser mensurado em contos de réis, pois arte é vida e, sem arte, talvez, a vida não vale a pena ser vivida.
Y. B.
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