Está circulando nas redes sociais uma tabela comparando o exorbitante salário pago a um senador da república e o irrisório ordenado pago a um professor da rede pública de ensino. Os dados que ela revela não apresentam nenhuma novidade, mas sua sistematização tem escandalizado os internautas, cada vez mais revoltados com a classe política do país.
Além do salário, a tabela enumera os benefícios, que são inúmeros para o cargo de senador, dentre eles destacamos: auxílio habitação, possibilidade de aposentadoria após 8 anos de contribuição, plano de saúde ilimitado dentre outros.
É uma vergonha, um país pagar quase 150 mil mensais para um senador (muitos dos quais são corruptos, sujos, cínicos, hipócritas, envolvidos direta ou indiretamente em esquemas de propinas e negociatas, como, por exemplo, o nobilíssimo presidente do senado, sr. Renan Calheiros e muitos outros mais...), ao passo que paga apenas 2 mil reais para os educadores, cuja função é iniciar as crianças nas primeiras letras e prepará-las para o mundo social, para o trabalho e para o exercício da cidadania.
É evidente que o papel desempenhado pelos representantes legislativos é primordial e relevante para um regime democrático. Contudo, o custo parlamentar do Brasil é um dos maiores do mundo, isto significa que pagamos (sim, nós, os contribuintes sustentamos as mordomias da corja que se apoderou de Brasília) caro demais para deputados e senadores. É ético ou moral que os filhos de trabalhadores fiquem amontoados em salas superlotadas das precárias escolas públicas enquanto os filhos dos políticos frequentam as melhores e mais caras escolas do país cujas mensalidades são pagas com o dinheiro dos contribuintes? Tudo bem que os senadores e senadoras acreditam que são pessoas distintas, especiais, de visão apurada e de espírito superior, atributos que a plebe não possui. Mas será que há justificativa plausível, aceitável ou minimamente racional que justifique a diferença brutal de salário entre as duas categorias analisadas na planilha? Para constar, não acho que os professores devem receber uma fortuna, mas apenas uma quantia o justa e também não acho que os senadores mereçam enriquecer com o exercício de mandato legislativo. Ademais, os educadores educam, ensinam, formam vidas, correm de uma escola para outra para sobreviver, trabalham em três turnos e os senadores, o que têm feito além de ocuparem o noticiário policial? A tabela não deixa dúvidas sobre quem está servindo ao Estado e que grupo está servindo-se dele para obter benesses.
Os salários e os benefícios, as regalias e as mordomias pagas e garantidas para os deputados e para os senadores são por demais atraentes, prova disso é que não faltam candidatos que pretendem fazer carreira às expensas do erário. Por isso, há tanta safadeza e disputa partidária por propinas e caixa 2, visando, dentre outras razões, eleger um número cada vez maior de paladinos. Em nosso sistema político-eleitoreiro o que manda é o dinheiro, dinheiro é poder, infelizmente. Pouco importa se o candidato é ficha limpa, se é capaz de usar o cargo para o bem comum, se tem compromisso social ou se é uma liderança positiva, com dinheiro ele pode ser eleito. A preocupação central aqui é tirar proveito do Estado e das oportunidades que ele oferece e não em servir à nação e ao povo brasileiro, por mais que o discurso dos figurões diga exatamente o contrário...
Essa ideia de servir-se do Estado, obter benefícios e privilégios, remonta aos tempos coloniais, quando os bacharéis, filhos de senhores de escravos e proprietários de terras e de minas, eram formados e treinados em Direito na Universidade de Coimbra (Portugal) e, após se formarem, ingressavam na Administração Pública para fazer carreira como governador, deputado ou ministro. O Estado era assim um mecanismo de conservar o poder de uma elite, que governava e conduzia a coisa pública em próprio benefício ou em favor de um grupo restrito, geralmente um círculo próximo ao ocupante do cargo público. Dessa forma, o grupo do poder pouco se importava com os índios, com os escravos africanos ou com os brancos pobres. Tal prática clientelista persistiu no Império e adentrou a República chegando até aos dias atuais, lamentavelmente.
É desalentador constatar que não conseguimos reformar o Estado brasileiro, pelo menos não de maneira efetiva e justa, e nem conseguiremos, pois quem está no poder não tem interesse algum em acabar com as vantagens que lhes são concedidas. Afinal, para preservar o status quo da classe política e de outras categorias funcionais que vivem às custas do Estado não é necessário fazer economia alguma, para essa casta parasitária não falta dinheiro. Quando as contas públicas entram no vermelho, como está ocorrendo agora de forma mais acentuada, basta fazer cortes nas áreas sociais, reduzir verbas da Educação, da Saúde e da Habitação, ou reformar a previdência, aumentando o valor da contribuição e o tempo para o trabalhador se aposentar, que dá pra manter os super-salários daquele bando que vive a modorrar de cócoras e a engordar suas finanças com os recursos dos cofres públicos.
Enquanto alguns poucos enchem os bolsos com o dinheiro público, o povo fica transitando por estradas esburacadas, agonizando por atendimento nas filas dos hospitais e se escondendo da violência urbana para sobreviver. Como reverter tal quadro? Se continuarmos a aceitar o papel servil de gado, que aceita ser tocado de um lado para o outro nada mudará. Os poderosos continuarão no poder, usando a mídia para nos manipular e nos convencer de que não há necessidade de fazer as verdadeiras reformas para que tudo permaneça como está.
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