No dia 17 de abril de 2016, data enfadonha que desferiu mais um golpe na cambaleante democracia brasileira, assistimos, na Câmara dos Deputados em Brasília, a um show de hipocrisia em nome de Deus e da Família.
Dentre tantos absurdos ocorridos nesse dia, destacamos o discurso do deputado federal, eleito pelo Rio de Janeiro, Jair Bolsonaro (PSC). No momento de declarar o seu voto favorável ao impeachment, ele fez questão de deixar claro, novamente, sua posição favorável à Ditadura Militar e aos crimes perpetrados por esse regime.
"Nesse dia de glória para o povo brasileiro tem um nome que entrará para a história nessa data, pela forma como conduziu os trabalhos nessa casa. Parabéns, presidente Eduardo Cunha. Perderam em 1964. Perderam agora em 2016. Pela família e pela inocência das crianças em sala de aula que o PT nunca teve, contra o comunismo, pela nossa liberdade, contra o Foro de São Paulo, pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo Exército de Caxias, pelas nossas Forças Armadas, por um Brasil acima de tudo e por Deus acima de todos, o meu voto é sim."
Além de parabenizar o sr. Eduardo Cunha, que possui contas "secretas" na Suíça, recheadas com milhões de dólares oriundos de propina, exalta o ano de 1964, quando os militares depuseram, através de um Golpe de Estado, o presidente - João Goulart, e se apropriaram do poder por 20 anos. Exalta a "vitória" de 1964 e a de 2016, estabelecendo um paralelo entre o golpe, que os militares chamaram de revolução, e o processo de impeachment em curso, cujo objetivo foi e, é, afastar governantes eleitos com apoios em bases populares de seus mandatos no governo.
Ainda em seu discurso, o deputado mencionou o coronel Brilhante Ustra (1932-2015), qualificando-o como o "pavor de Dilma", a qual foi presa pelo exército por sua associação com o movimento estudantil e com o comunismo no período dos governos militares. Ustra foi comandante do Destacamento de Operações Internas (DOI-Codi) de São Paulo.
Coronel Alberto Brilhante Ustra na Comissão Nacional da Verdade em 2013. |
Em 2008, o coronel Ustra foi acusado pelo Ministério Público de ter cometido diversos crimes durante a ditadura, como sequestro, assassinato e torturas.
Dilma Roussef presta depoimento no exército (1970). |
Uma das vítimas desse carrasco foi o vereador paulista, Gilberto Natalini, que lembrou esse terrível momento, quando foi preso em 1972:
"Tiraram a minha roupa e me obrigaram a subir em duas latas. Conectaram fios ao meu corpo e me jogaram água com sal. Enquanto me dava choques, Ustra me batia com um cipó e gritava me pedindo informações"
Quem também sofreu nas mãos de Ustra, foi Amelinha Teles, que atualmente integra a Comissão de familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e é assessora da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva. Em seu depoimento ela registrou:
“Eu fui espancada por ele [coronel Ustra] ainda no pátio do DOI-Codi. Ele me deu um safanão com as costas da mão, me jogando no chão, e gritando 'sua terrorista'. E gritou de uma forma a chamar todos os demais agentes, também torturadores, a me agarrarem e me arrastarem para uma sala de tortura”.
Enfim, foi esse o "papelão" feito pelo deputado federal ao defender uma vez mais o ódio, a intolerância e o cabal desrespeito aos direitos humanos e às vítimas da Ditadura, as quais foram torturadas e mortas pela repressão e truculência do regime militar. No curto espaço de tempo usado para declarar o sue voto, o deputado vociferou elementos que apenas reforçam o caráter autoritário e ofensivo de suas ideias políticas e sociais.
Devemos nos lembrar que Jair Bolsonaro representa um grupo de eleitores que o mantém no poder e, portanto, aprovam seus posicionamentos políticos e pactuam com ele. Nas redes sociais o político faz o maior sucesso entre milhares de internautas, que compartilham imagens dele com a expressão "Bolsomito" ou "Bolsonaro Presidente".
Atacar homossexuais e comunistas faz parte dos bons costumes? |
São pessoas que não estudaram a História, que não compreendem os processos políticos e sociais brasileiros, ou apenas ignoram os crimes cometidos pelo regime militar, desconsiderando todo o horror e o sofrimento causado aos brasileiros.
O Estado e a justiça brasileira também tem culpa nisso, afinal nunca puniram exemplarmente os militares pelas violações cometidas no passado. Isso contribui para que a chama da impunidade continue acesa e impulsione o surgimento de mais pessoas como Bolsonaro, levantando bandeiras em nome da intolerância e da violência política.
Esse deputado deveria ser repreendido com todo o rigor da Lei por defender a ditadura no parlamento brasileiro, que deve ser a casa do povo e da democracia. Acreditamos que a maioria da população repudia um governo militar. Dessa forma, não aceitará que a tirania suplante novamente o Estado democrático de Direito, pois sabe que a liberdade foi conquistada a partir de muitas lutas e derramamento de sangue.
Sinto nojo ao saber que meu povo colocou um cara como Bolsonaro para nos representar.
ResponderExcluirNossos direitos devem ser respeitados, e esse homofóbico racista precisa ser caçado. Lastimável!
Também me sinto assim, Laura. Infelizmente, tem muita gente que se deixa iludir pelo discurso moralista de Bolsonaro e finge não perceber seu caráter autoritário.
ExcluirTomara que nas próximas eleições o povo abra os olhos e consiga escolher um pouco melhor os seus representantes.