18.6.13

A Revolução brasileira (2013-2014)

Estamos vivendo um momento histórico no Brasil.

Não por estarmos recebendo a Copa das Confederações, evento que antecede a atração principal - a Copa do Mundo, mas sim pelas sucessivas manifestações populares que têm ocorrido em todo o território Nacional.

Os manifestos estão, inteligentemente, aproveitando o poder da internet e o momento em que os olhos do Mundo estão voltados para o Brasil, para descerrar as cortinas e mostrar a todos as desigualdades  e o  abandono das questões sociais por parte dos governos. 
Cerca de 50 mil manifestantes protestando no centro de São Paulo (18/06/13)
Engana-se quem acredita que os protestos populares estão restritos às capitais brasileiras. A revolta do povo é geral, está se espalhando rapidamente pelo interior do país. Aqui mesmo, no interior de Minas Gerais, na pequena e calorosa Leopoldina, estudantes, trabalhadores e lideranças políticas estão organizando manifestações populares, a princípio sem cunho partidário. O clima de revolta já pode ser sentido em todas as partes.

Hoje (18/06) pela manhã, enquanto estava lecionando para uma turma do 9º ano do Ensino Fundamental - o conteúdo era a Revolução Russa - fui surpreendido pelos estudantes, que interromperam minha aula com intervenções revoltadas sobre os altos impostos que pagamos, a saúde precária no município e a Educação sem boas condições materiais e estruturais.
Eles começaram a debater sobre a insatisfação popular, a qual está manifesta nos noticiários, do povo contra os governos, contra a desigualdade, contra a opressão, contra a corrupção política e empresarial e, claro, contra a falta de prioridades dos dirigentes do Brasil, que preferiram gastar bilhões na Copa, em modernos estádios, a investir na Educação, Saúde e Segurança públicas. Revoltante, de fato...

Fiquei surpreso e ouvi atentamente as intervenções dos estudantes. Uma de nossas alunas disse que irá preparar um cartaz e o levará na manifestação local (prevista para o dia 22/06, no centro da cidade), com os seguintes dizeres:

"Quando seu filho ficar doente, leve-o para um estádio de futebol."

O que dizer a respeito disso? Senão dar os parabéns a estes alunos de 14 anos, que começam a despertar a consciência de vida coletiva e a perceber o quanto são fundamentais os direitos sociais!

Os estudantes também não deixaram de destacar as vaias que a Presidenta, Dilma Rousseff, recebeu durante a abertura da Copa das Confederações. Analisamos o caso e chegamos à conclusão de que aquelas vaias não foram para a Dilma ou para o PT, mas sim para todos os políticos brasileiros de modo geral, representados, naquela ocasião, pela Presidenta da República. 
A Presidenta em breve discurso, no dia 15/06/2013, em Brasília.
Aproveitei a aula e a empolgação dos estudantes para falar da importância dessa luta, que começou com reivindicações pontuais contra o aumento do valor das passagens no transporte público, mas está adquirindo proporções maiores. A luta agora não é só por preços baixos no transporte, essa luta coincidiu com outras, como a busca pelos direitos à educação, saúde, segurança, os direitos indígenas sobre a terra, a cidadania e a Liberdade.

Apresentamos aos alunos alguns dados de nossa História recente acerca de manifestações populares e percebemos que algo parecido com o que ocorre agora não acontecia no Brasil desde 1992.
Em 1984, vivíamos numa Ditadura Militar e o povo foi às ruas na campanha "Diretas já", exigindo eleições diretas para a Presidência da República e o fim do regime militar.
O povo foi às ruas exigir eleições para presidente e o fim da ditadura militar (1984).

Em 1992, tivemos outro movimento de massas, o protesto popular a favor do impeachment do presidente Fernando Collor de Mello, que naquela época estava envolto num esquema de corrupção.
Estudantes - chamados de caras-pintadas por usarem as cores verde e amarelo nos rostos - fazem passeatas exigindo  o fim do governo Collor (1992).

No debate em nossa sala de aula, os alunos levantaram questionamentos importantes, a saber: "Estamos vivendo um momento histórico?" e "Esses protestos vão constar nos próximos livros de História?"

Minha resposta para essas brilhantes perguntas foi um "sim", pois estamos assistindo a um momento histórico que, sem dúvida, deverá constar nos futuros livros didáticos da disciplina. Tais movimentos estão cobertos de legitimidade, afinal nos parece que os manifestantes estão clamando por dignidade. Essa população brasileira, sofrida, insatisfeita, cansada de esperar por melhoras, resolveu gritar, tomar as ruas e falar alto, mais alto que os cassetetes, o trotar da cavalaria e os sons dos disparos dos fuzis e das escopetas utilizadas por uma truculenta Polícia, que tenta desesperadamente silenciar a voz do povo.  Os milhões de cidadãos que ocupam as vias públicas estão desconstruindo a ideia de que o povo brasileiro é pacífico, que aceita tudo que "vem de cima" de forma cordial. A população acordou, se cansou dos problemas sociais, há anos mal resolvidos, e decidiu lutar.
Manifestações populares na História recente do Brasil.

Há um ditado popular que apregoa que a voz do povo é a voz de Deus. Não tem como estes governos, seus órgãos de imprensa e seus policiais silenciarem o povo, tampouco conseguirão reprimir sua vontade.
A paciência do povo brasileiro atingiu o limite. Será que a panela social,  repleta de contradições, irá explodir?

Estamos vivendo, quem sabe, uma Revolução... Uma revolução que, historicamente, tanto nos fez falta. Tivemos inúmeros exemplos na História mundial de lutas contra a opressão, do povo se rebelando contra seus opressores (as elites, os governantes), como a Revolução Francesa, em 1789, e a Revolução Russa em 1917. Contudo, essas lutas também são marcadas pela intolerância e pela violência. Nelas, as mudanças políticas e sociais foram conquistadas sob o custo de muito derramamento de sangue.
Liberdade, Igualdade e Fraternidade era o lema do povo que lutou na Revolução Francesa (1789).

Portanto, lembramos a todos que essa Revolução Brasileira (iniciada em 2013 e que vai, provavelmente, se estender até o ano de 2014) deve ser pacífica, em conformidade com o direito previsto na Constituição Federal:

XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

Por fim, uma estudante da classe disse que os resultados desses protestos têm que refletir nas próximas eleições, para provocar mudanças na sociedade. Tomara que ela esteja certa. Acreditamos nisso. Esperamos melhoras, esperamos que os dirigentes ouçam e assimilem atentamente o recado que o povo está transmitindo para o país e para o Mundo.

Concluímos com uma reflexão de que a melhor opção é votar em candidatos comprometidos com os direitos sociais e com a transformação necessária de nosso pais. Os alunos alegaram ser difícil descobrir quem é o político bom ou ruim. Por isso devemos escolher com cautela, conhecer a biografia do candidato, saber se ele tem efetivo envolvimento com o bem-estar da população ou se é apenas um aproveitador, que caminha ao lado do povo para sair bem na foto, ganhar votos, se eleger e depois governar contra os interesses de seus próprios eleitores.

Todo cuidado é pouco. Mas o recado está dado, está aí em todos os jornais, está nas principais ruas das capitais e das demais cidades brasileiras. Resta agora para os atuais dirigentes políticos e também para aqueles que aspiram aos cargos de administradores públicos ouvirem o clamor das ruas, mudarem suas posturas e tomarem as medidas que atendam aos anseios da maioria. Isso é Democracia. 

2 comentários:

  1. Ótimo texto Professor! Também espero que essa Revolução reflita nas próximas eleições e que nossa juventude atue mais e mais... O aumento das tarifas no transporte público foi só a última gota, para que a população mostrasse toda sua indignação... Parabéns à sua turma e a todos os manisfestantes pacíficos!

    ResponderExcluir

Obrigado pelo comentário.