29.6.13

A Copa e os anos de chumbo no Brasil


Em 1969 o Brasil era governado pelo general Emílio Garrastazu Médici, cujo mandato durou até 1974.

Vivíamos sob a ditadura implantada pelo regime militar desde o golpe de Estado em 1964, mas o período de governo do general Médici é apontado, por grande parte dos historiadores, como o período de maior repressão policial contra os opositores do regime.
Protestos e  manifestações eram duramente reprimidas pela polícia do governo.
O general Médici pertencia ao setor mais radical dos militares, que defendiam o enrijecimento do governo ditatorial. Portanto, não toleravam a atuação da oposição, prendendo e torturando as pessoas que se opunham ao governo.

Sob o governo Médici a economia brasileira crescia mais de 10% ao ano, acompanhando o processo de crescimento da economia mundial. O "milagre econômico brasileiro", como ficou conhecido aquele momento histórico, foi possível devido aos investimentos estrangeiros no país, aumento das exportações, principalmente de produtos agrícolas, e ampliação da oferta de empregos.
O crescimento econômico gerou bem-estar e assegurou o poder aquisitivo da classe média, criando um cenário favorável à ditadura. Enquanto as pessoas usufruíam do milagre econômico, o governo esmagava a oposição e exercia forte controle sobre a imprensa, manipulando a opinião pública a seu favor.

Com os auspícios do Ato Institucional número 5, decretado em 1968, um instrumento legal que concedeu poderes ilimitados ao Presidente da República, foi possível silenciar a oposição, promovendo prisões ilegais, torturas e censura à imprensa nacional.





Em 1970, a seleção brasileira de futebol conquistou o tricampeonato mundial, na Copa realizada no México. O presidente Médici dizia ser um apaixonado por futebol, frequentava estádios e chegava até a opinar sobre a escalação ideal da seleção.
A seleção tricampeã mundial em 1970 contava com astros, como Pelé, Rivelino, Tostão, Gérson etc. 

O governo Médici, sabendo o quanto era forte a influência do futebol sobre as massas populares, aproveitou aquele momento de celebração da conquista mundial para divulgar uma intensa propaganda do Regime Militar.
Carlos Alberto Torres (capitão da seleção) e o General Médici seguram a taça  Jules Rimet
A euforia com a conquista da Copa e com o futebol espetacular apresentado pelo time de Pelé e Cia foram tão grandes que a massa popular "esqueceu", temporariamente, do terror de viver numa ditadura militar.

Embalados pelo som do hino composto para a seleção, que foi amplamente difundido pela imprensa, rádio e canais de televisão, o povo cantarolava: 


Noventa milhões em ação
Pra frente Brasil
Do meu coração

Todos juntos vamos
Pra frente Brasil
Salve a Seleção

De repente é aquela corrente pra frente
Parece que todo o Brasil deu a mão
Todos ligados na mesma emoção
Tudo é um só coração! (Pra frente Brasil (Miguel Gustavo, copa de 1970)


A música-tema da Seleção brasileira exaltava o patriotismo e a união em prol do futebol. A letra e a melodia, de maneira simples, alegre e cativante, era um retrato do contexto otimista do país, fruto do crescimento econômico e da esperança de assistir a um belo espetáculo de futebol. Os publicitários a serviço do governo queriam transmitir ao povo que o Brasil era invencível, tanto no futebol quanto nos aspectos político e econômico. Desse modo, o governo militar procurava legitimar sua existência perante a população. (RIBEIRO apud MARIUZZO. Disponível em http://www.univesp.ensinosuperior.sp.gov.br/preunivesp/116/pra-frente-brasil-copa-do-mundo-e-ditadura-no-brasil.html acesso em 29 jun. 2013).

A propaganda oficial relacionava a vitória da seleção brasileira à conjuntura da política e da economia brasileira. Tamanha publicidade rendeu grande popularidade ao general Médici, apesar de seu governo ter sido marcado por grande violência e supressão dos direitos individuais, coletivos e políticos dos cidadãos brasileiros.
Um período terrível de nossa História, no qual o governo tentou escamotear suas mazelas e práticas truculentas atrás da exuberância do futebol brasileiro, que atingiu seu ápice com a conquista Mundial em 1970.
Pelé comemora a vitória com Jairzinho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário.