A prática do bacharelismo remonta ao período colonial no Brasil, quando a cultura ibérica impôs ao território colonial uma administração baseada em um vasto corpo burocrático, orquestrado pelas elites diplomadas, que se alimentava do Estado. Verdadeiros parasitas.
O Historiador francês René Rémond afirma que o bacharelado "é uma instituição essencial da sociedade liberal", por meio dele o indivíduo obtinha diploma, dinheiro e prestígio. Entretanto, tal cultura tinha lá seus inconvenientes, pois a sociedade liberal "abre possibilidades de promoção, mas apenas a um pequeno grupo, e aos que não ostentam os sacramentos universitários são reservadas as funções subalternas da sociedade". (Rémond, 1976, p. 47)
Pois o bacharelismo permanece intocável em nossa sociedade até os dias de hoje. Os maiores exemplos recentes do parasitismo de um pequeno grupo, o qual tira proveito de suas funções para servir-se do Estado, são de dois juízes federais quixotescos: Bretas e Moro. Os mesmos que vivem posando de heróis, como figuras com grau de idoneidade no nível máximo!
Mas a imprensa tem denunciado que ambos possuem residência na cidade onde trabalham e acumulam um farto benefício - auxílio-moradia, dentre outros adicionais pecuniários. Isso é apenas a ponta do iceberg, imagine quantos casos semelhantes a esses não há pelo país afora?
O escandaloso auxílio é legal, está na lei e no plano de cargos dos juízes, os quais já recebem altíssimos salários e não precisam de tais penduricalhos em seus contracheques. Mas tal regalia é imoral, sem dúvida alguma e questionável, ainda mais se levarmos em consideração a situação miserável e de dificuldades vividas por boa parte da população brasileira.
Bretas e Moro são liberais, defendem, implicitamente, o Estado mínimo e sua menor intervenção na sociedade e na economia, entretanto, não abrem mão, de jeito algum, e lutam pela ampliação das vantagens estatais no sentido de assegurar maior remuneração. Não causa incômodo nesses juízes o fato de o Estado conceder à sua categoria tudo o que lhe é exigido, nesse ponto não são liberais, ao contrário, se tornam corporativistas. É evidente a contradição entre o acreditar e o agir dos magistrados.
Se esses juízes liberais defendem a desestatização econômica, por que não lutam também por uma ampla reforma administrativa que contribua para acabar com o inchaço provocado no Estado pelos super-salários e super-aposentadorias percebidas por um pequeno grupo de privilegiados? Servidores militares, do judiciário, executivo e legislativo no alto-escalão são um problema, ele são os causadores do desequilíbrio nas contas públicas e não os programas sociais promovidos pela ação estatal.
O grande escritor e intelectual Brasileiro, Monteiro Lobato (1882-1948) afirmou em 1918 que o "bacharel do Brasil faliu".
Faliu porque tal grupo estava:
"Dominando sem peias na política e na administração, não conseguiu organizar sequer a justiça. Vive a lamuriar de juizes, tribunais e leis, da justiça em suma, uma coisa criada por ele, para uso, goso e proveito dele - e no entanto positivamente falida." (LOBATO, Monteiro, 1951, p. 243).
Infelizmente o modelo falido ainda persiste, é um mal congênito da nação. Como se vê, o bacharelismo age de forma corporativista, os "doutores" se defendem mutuamente, não irão "largar o osso" e continuarão recebendo salários acima do teto constitucional e ninguém poderá fazer nada para impedi-los, pois são intocáveis. O que fazer? É melhor suscitar um debate que do que tentar encontrar uma resposta pra um problema histórico do Brasil. Mas um caminho é certo, quando uma erva-daninha tenta espremer uma árvore e assim evitar que ela cresça, floresça e gere frutos o que se faz? Arranca-se a erva-daninha e joga-se ela no fogo, extirpando o mal de vez.
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