8.10.16

Brasil: uma causa perdida?

Quando Monteiro Lobato (1882-1948) mudou-se para os EUA, em 1927, para trabalhar como adido comercial junto à embaixada brasileira em Nova Iorque, encantou-se pela dinâmica social e econômica da América.
Ao observar o elevado grau de desenvolvimento alcançado pelos norte-americanos, comparou-o com o do Brasil, que naquela época vivia de cócoras, mergulhado em práticas políticas arcaicas, como o coronelismo, e  a economia nacional se resumia a exportação de gêneros agrícolas e a uma incipiente e pouco competitiva produção industrial. Em carta enviada por Lobato ao amigo Arthur Neiva, médico sanitarista, dizia que o Brasil não tinha jeito, era "um caso perdido que já supunha aí."

Apesar de achar que o Brasil era uma causa perdida, por conta das mazelas nacionais - falta de riquezas, infraestrutura deficiente, políticos incapazes e as doenças que impediam o povo de prosperar - Lobato, posteriormente, passou a acreditar que o país poderia ser arrebatado de seu estado letárgico se houvesse investimento naquilo que ele chamou de "binômio salvador". Tratava-se do ferro e do petróleo, recursos que ajudavam a sustentar o crescimento econômico norte-americano na década de 1920.
O ferro servia para construir as máquinas para as indústrias, o petróleo era utilizado como o combustível para movê-las e aumentar a produção.

Com a produção industrial, haveria riqueza e ela solucionaria todos os problemas, traria saúde para o povo, estabilidade política, colocando fim nos protestos e conflitos que marcaram as primeiras décadas da república no Brasil e asseguraria a independência financeira do país frente às demais potências capitalistas.

Quando o criador da turma do Sítio do Picapau amarelo retornou para o Brasil em 1931, ele trouxe consigo o sonho de tornar o Brasil rico por meio do "binômio salvador", porém ele nunca se realizou, pelo menos não da maneira idealizada por ele. Na tentativa de emplacar suas ideias, Lobato encabeçou duas grandes campanhas, a do Ferro e depois a do Petróleo, utilizou amplamente a imprensa, publicou livros, fundou empresas, fez conferências por todo o Brasil para tentar convencer as pessoas e o governo sobre a viabilidade de suas ideias econômicas. Não teve sucesso, pagou caro por isso, faliu, viu seus sonhos ruírem e até foi preso por contrariar interesses de grupos econômicos estrangeiros poderosos e afrontar a política do governo Varguista na exploração petrolífera. 


Lobato perseguido e preso pela ditadura Varguista.

Em tempos atuais, no século XXI, o Brasil ocupa os primeiros lugares na produção de ferro e está na lista dos 20 maiores produtores mundiais de petróleo, apesar do crescimento econômico, o país ainda não atingiu patamares de desenvolvimento e progresso a ponto de erradicar a miséria do povo, reduzir as desigualdades e promover a cidadania e a estabilidade política e social. E por que ainda não conseguiu fazer isso? Pois as velhas práticas políticas permanecem intocadas, porém travestidas de modernidade, readaptadas às exigências da nova conjuntura. 

É nossa política perniciosa que impede o desenvolvimento do povo, é ela que desvia caudalosos recursos públicos da saúde, da educação e da infraestrutura para os bolsos de grupos organizados parasitários, os quais sobrevivem às custas da manutenção da ignorância do povo. Por isso, sempre faltam investimentos nas áreas fundamentais, o que impede nossa nação de almejar a grandeza.

A permanecer assim, não há "binômino salvador" que dê jeito neste país! Ou mudamos o fazer político dessa república, ou continuaremos a sentir o sabor amargo da criminalidade, da injustiça, da impunidade, da proliferação da pobreza e da ineficiência de um governo que não se importa com o bem comum.

A grande pergunta é: Como fazer tal mudança? Quisera eu ter a resposta e uma receita pronta para solucionar esse enigma! A resposta para esse problema oferecida por Monteiro Lobato em sua época, que até aqui ajudou a nortear essa reflexão, mostrou-se insuficiente para colocar o Brasil e o seu povo nos trilhos. Não é nossa intenção esgotar um tema de tamanha complexidade, pelo contrário, entendemos que ele continua em aberto aguardando por aprimoramentos, ajustes e contribuições que tragam algum alento e esperança para todos os brasileiros. 

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