Ontem postamos um lindo desenho representando o povo Suyá (Kisêdjê).
Apresentamos um pouco da cultura dessa nação indígena para os alunos, para refletir sobre a importância de ter disciplina e saber ouvir, como forma de adquirir conhecimento e se expressar bem.
Hoje, vamos postar mais três desenhos maravilhosos, porém iremos analisá-los e identificar como os índios do Brasil atual estão representados na mentalidade de nossos alunos, recém ingressos no Ensino Fundamental II.
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Desenho da aluna Jeniffer Soares. Sala 3. |
O primeiro desenho, feito por Jeniffer Soares, mostra dois índios Kisêdjê. Destacamos o da esquerda, que está sendo destratado pelo índio da direita.
Ele veste preto e seus olhos foram realçados, o que demostra que ele é um Ani mtai kidi (“não ouvir-compreender-saber”), pois não aprendeu a ouvir, logo não fala bem. Assim, o índio de preto é visto como um feiticeiro e é uma figura anti-social, não sendo acolhido pela comunidade.
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Arte da aluna Ana Luíza. |
A segunda imagem é um belo trabalho de Ana Luíza. Ela pintou um cenário natural paradisíaco, com uma cachoeira, grama, árvore, pássaros e uma fogueira. Há também uma oca, que é a moradia dos índios.
O índio que ela desenhou possui adereços nas orelhas e nos lábios, portanto é um Ani mbai mbechi (que significa “ouvir-compreender-saber bem”).
Esse índio é sociável, é integrado à comunidade, trabalha, partilha seus bens e escuta os índios com mais experiência.
Na imagem, ele está sem camisa, segurando um arco e uma flecha, provavelmente, se preparando para caçar.
Aqui fica evidente a visão que a sociedade, de modo geral, tem cristalizada em sua mente a respeito dos índios. O índio está sempre carregando seu arco e flecha de madeira, vivendo dos recursos disponíveis na mata.
Será que todos os índios vivem assim? Será que sua alimentação ainda depende exclusivamente da caça? Eles só cozinham em fogueiras? Por que não podem possuir fogões a gás ou à eletricidade?
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Lápis de cor sobre o papel, por Jheniffer. |
A última obra de arte também é reveladora do imaginário coletivo acerca do índio.
No desenho de Jheniffer Rodrigues, temos um índio seminu, sobre uma canoa, pescando.
À sua direita, repousando em uma rede, está outro índio. Aliás, o costume de dormir em redes foi, de fato, um dos legados que os índios nos deixaram.
O desenho explicita novamente a dependência do índio em relação à natureza. Seu alimento provém da pesca. Será que o índio não pode ir comprar o seu peixe? Ou viverá sempre pescando?
A respeito da nudez, Jheniffer reproduz o índio, tal como Pero de Vaz de Caminha descreveu em 1500, na seguinte passagem de sua célebre carta.
"Andam
nus, sem cobertura alguma. Nem fazem mais caso de encobrir ou deixa de encobrir
suas vergonhas do que de mostrar a cara. Acerca disso são de grande inocência."
Essas representações dos índios permeiam o imaginário coletivo. As pessoas acham que todo índio anda nu, vive no mato da caça e da pesca, mas a realidade não é bem assim.
Muitos índios hoje vivem em Terras Indígenas (Tis), territórios que foram demarcados para que as nações indígenas possam usufruir das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas existentes. Nas terras indígenas, eles têm acesso à escola indígena, se dedicam a diversas atividades, como a agricultura e o artesanato, preservam alguns de seus costumes e tradições - rituais, danças, músicas e crenças, mas também possuem tecnologias, como celulares, computadores, acesso à internet, além de usarem roupas da "civilização branca".
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Crianças da etnia Xavante utilizando aparelhos eletrônicos. |
Há também índios que vivem nas cidades, frequentam a faculdade e exercem suas profissões.
Enfim, ao longo do tempo, os índios foram assimilando alguns elementos de nossa cultura urbana-industrial à sua cultura.
Afinal, cultura não é algo rígido e imutável, pelo contrário, ela está sempre mudando e se reinventando.
Então não se assuste se vir um índio de terno ou um índio usando o Wi-Fi do celular de última geração na fila do caixa eletrônico de um banco. Só porque eles assimilaram novos costumes à sua cultura não quer dizer que deixaram de ser o que são.
Concluindo, precisamos desconstruir alguns estereótipos a respeito dos povos indígenas do Brasil atual e trabalhar com nossos alunos que há múltiplas formas de se representar os índios do século XXI.