A partir da metade do século XVIII, a Zona da Mata mineira começava a ser devassada pelos colonos oriundos da decadente região mineradora, os quais buscavam abrir novos caminhos e trilhas ligando Minas ao porto do Rio de Janeiro.
Naquela época a região era conhecida como "Sertão Proibido", pois era habitada por índios selvagens e coberta por densa vegetação representando grandes obstáculos para os colonos, ao passo que evitava o contrabando e os desvios do ouro.
Mas apesar dos riscos - os índios e o perigo da mata - muitos se aventuraram na empreitada colonizadora, abrindo picadas na mata, buscando novas jazidas de ouro para explorar, e criando pousos e roças, afim de se estabelecerem na localidade.
De acordo com o historiador Fernando Lamas, há duas fases que precisam ser consideradas na ocupação da Zona da Mata, a saber: "Uma iniciada na primeira metade do século XVIII e ligada à abertura do Caminho Novo, na região sul da Mata e outra que se iniciou na segunda metade do mesmo século, a partir da penetração na área central da Mata, localizada às margens do rio Pomba. Ambas possuem ligação, pois, a partir da primeira área, o Caminho Novo, partiu a expedição que deu origem à colonização da segunda área, o vale do rio Pomba." (Povoamento e colonização da Zona da Mata Mineira no século XVIII. p. 2. Disponível on-line: http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/anteriores/edicao08/materia01/texto01.pdf acesso em 30 nov. 2013).
A ocupação da área compreendida por Leopoldina está inserida no segundo momento da Colonização da Zona da Mata, a partir da abertura do Caminho Novo - iniciada em 1699 e concluída em 1725 - os colonos desbravaram o vale do Pomba na segunda metade do século XVIII.
Muitos colonos que trabalharam na abertura do Caminho Novo permaneciam na localidade, onde recebiam sesmarias e cultivavam os gêneros agrícolas para oferecer aos transeuntes.
Já a ocupação da parte sul da Mata "iniciou efetivamente a partir de 1817, quando proprietários de lavras na região das minas migraram para o vale do rio Paraíba do Sul, para aí estabelecer a cafeicultura de base escravista."
(CARRARA, A. A. As Zonas da Mata de Minas Gerais. In: Seminário de História Econômica e Social da Zona da Mata mineira, I: 2005, Juiz de Fora (MG). Anais. CES 2005. (Disponível em CD-ROM).
Colonizar a região era fundamental para facilitar o escoamento de mercadorias entre as capitanias de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, formar novas áreas agrícolas, combater a formação de quilombos e catequizar os índios que habitavam a Zona da Mata. Com esse intuito que a região passou a ser habitada por famílias de agricultores, líderes religiosos e militares.
E é na parte sul da Mata que ficava o distrito de São Sebastião do Feijão Cru o qual, em 1831, pertencia à Vila de São Manuel do Pomba (Atual cidade de Rio Pomba).
Naquela época a região era conhecida como "Sertão Proibido", pois era habitada por índios selvagens e coberta por densa vegetação representando grandes obstáculos para os colonos, ao passo que evitava o contrabando e os desvios do ouro.
Mas apesar dos riscos - os índios e o perigo da mata - muitos se aventuraram na empreitada colonizadora, abrindo picadas na mata, buscando novas jazidas de ouro para explorar, e criando pousos e roças, afim de se estabelecerem na localidade.
Os colonos transportavam seus produtos no lombo das mulas. (Rugendas). |
A ocupação da área compreendida por Leopoldina está inserida no segundo momento da Colonização da Zona da Mata, a partir da abertura do Caminho Novo - iniciada em 1699 e concluída em 1725 - os colonos desbravaram o vale do Pomba na segunda metade do século XVIII.
Muitos colonos que trabalharam na abertura do Caminho Novo permaneciam na localidade, onde recebiam sesmarias e cultivavam os gêneros agrícolas para oferecer aos transeuntes.
Já a ocupação da parte sul da Mata "iniciou efetivamente a partir de 1817, quando proprietários de lavras na região das minas migraram para o vale do rio Paraíba do Sul, para aí estabelecer a cafeicultura de base escravista."
(CARRARA, A. A. As Zonas da Mata de Minas Gerais. In: Seminário de História Econômica e Social da Zona da Mata mineira, I: 2005, Juiz de Fora (MG). Anais. CES 2005. (Disponível em CD-ROM).
Colonizar a região era fundamental para facilitar o escoamento de mercadorias entre as capitanias de Minas Gerais e do Rio de Janeiro, formar novas áreas agrícolas, combater a formação de quilombos e catequizar os índios que habitavam a Zona da Mata. Com esse intuito que a região passou a ser habitada por famílias de agricultores, líderes religiosos e militares.
Os índios eram catequizados pelos missionários e reunidos em aldeias, onde aprendiam as técnicas agrícolas e artesanais. (Aldeia dos tapuias. Rugendas, 1820). |
Naquele ano, os fazendeiros Francisco Pinheiro de Lacerda e seu sogro Joaquim Ferreira de Brito doaram terras no local, onde foi construída uma capela dedicada à São Sebastião. Nesse lugar, próximo às margens do ribeirão feijão cru (afluente do Rio Pomba), surgiu o povoado que deu origem à Vila de Leopoldina, emancipada pela Lei Provincial nº 666 de 27 de abril de 1854, sendo separada de Mar de Espanha. No dia 20 de janeiro de 1855 foi instalado o município.
Em 16 de outubro de 1861, a Lei Provincial nº 1116, a Vila foi elevada à condição de cidade com o nome de Leopoldina, em homenagem à segunda filha do imperador D. Pedro II.
Em 16 de outubro de 1861, a Lei Provincial nº 1116, a Vila foi elevada à condição de cidade com o nome de Leopoldina, em homenagem à segunda filha do imperador D. Pedro II.
Antigamente, o território de Leopoldina era muito vasto, englobando muitas localidades, como Rio Pardo (depois Argirita), Piedade (Piacatuba) Tebas, Campo Limpo, Conceição da Boa Vista, Providência, Recreio, Santa Isabel, São Joaquim, freguesia de Santa Rita do Meia Pataca (atual Cataguases) dentre outras. Gradativamente alguns desses territórios foram sendo desmembrados, originando novas vilas e Leopoldina foi se aproximando de seu contorno geográfico atual.
Escravos derrubando a mata para a formação de roças e aldeias. (Rugendas) |
A agricultura foi a atividade econômica predominante da região, onde os colonos cultivavam roças com diversos gêneros agrícolas, tais como o milho, feijão, mandioca, cana de açúcar, tabaco e o café. Criavam bois, porcos e aves.
A produção tinha um caráter de subsistência, e o excedente era comercializado, abastecendo as demais regiões da província de Minas Gerais e a capital do Império - o Rio de Janeiro.
Por volta de 1840 houve uma expansão do desenvolvimento econômico da região, graças ao cultivo do café. O crescimento econômico continuou e em 1877, a cidade recebeu os trilhos da ferrovia Estrada de Ferro Leopoldina, construída por iniciativa de fazendeiros, comerciantes apoiados pelo governo provincial.
Colheita de café, Vale do Paraíba. 1882. |
A ferrovia transportava, de forma rápida, riquezas e pessoas, e ligava o interior de Minas ao Rio de Janeiro - capital do Império.
E. F. Leopoldina (1952). Os trilhos cortavam o centro da cidade. |
Inicialmente, a forma de trabalho predominante na região era a familiar e indígena (índios aldeados). Mas, "com o crescimento das lavouras, a implantação da ferrovia e exportação de produtos agrícolas; houve a necessidade de aumentar o número de braços para a agricultura, principalmente nas grandes fazendas após a década de 1870, a solução foi a adoção efetiva dos escravos." (FANNI, O. SIlvana. Cataguases no século XIX. In: Seminário de História Econômica e Social da Zona da Mata mineira, I: 2005, Juiz de Fora (MG). Anais. CES 2005. (Disponível em CD-ROM).)
Nesse sentido, a população escrava de Leopoldina tornou-se bastante significativa, uma das maiores da Zona da Mata Mineira, na segunda metade do século XIX. No ano de 1876 o número de escravos em Leopoldina era de 15.253, superior ao número de cativos em Mar de Espanha e Juiz de Fora, que eram, respectivamente, 12.658 e 14.368. (Tráfico interno e concentração de população escrava no principal município cafeeiro da Zona da Mata de Minas Gerais: Juiz de Fora (segunda metade do século XIX). p. 11. Disponível on-line: http://web.cedeplar.ufmg.br/cedeplar/site/diamantina2002/textos/D10.PDF acesso em 30 de nov. 2013.
Nesse sentido, a população escrava de Leopoldina tornou-se bastante significativa, uma das maiores da Zona da Mata Mineira, na segunda metade do século XIX. No ano de 1876 o número de escravos em Leopoldina era de 15.253, superior ao número de cativos em Mar de Espanha e Juiz de Fora, que eram, respectivamente, 12.658 e 14.368. (Tráfico interno e concentração de população escrava no principal município cafeeiro da Zona da Mata de Minas Gerais: Juiz de Fora (segunda metade do século XIX). p. 11. Disponível on-line: http://web.cedeplar.ufmg.br/cedeplar/site/diamantina2002/textos/D10.PDF acesso em 30 de nov. 2013.
Como o tráfico internacional de escravos para o Brasil estava proibido desde 1850, pela Lei Eusébio de Queirós, os fazendeiros locais recorriam ao tráfico interprovincial, adquirindo mão de obra escrava oriunda das províncias do Nordeste, antigas produtoras de cana de açúcar.
No ano de 1879 foi fundado o jornal O Leopoldinense, periódico que circulava na cidade, na segunda metade do século XIX.
Muitas edições do jornal O Leopoldinense estão disponíveis para consulta on-line na Hemeroteca da Biblioteca Nacional.
Muitas edições do jornal O Leopoldinense estão disponíveis para consulta on-line na Hemeroteca da Biblioteca Nacional.
Gostaríamos de registrar aqui alguns ANNUNCIOS que encontramos nesse jornal, os quais certamente chamarão a atenção dos estudantes de História.
Os anúncios dão conta da fuga de escravos de sítios e fazendas locais. Os proprietários procuravam reaver seu patrimônio - os cativos fugidos - por isso, recorriam ao jornal para tornar pública sua busca.
Vejamos alguns registros de 17 de fevereiro de 1881:
Escravos fugidos
"No dia 25 de Janeiro proximo passado, fugiu da fazenda do Morro Alto, perto da estação da Providencia, do tenente-coronel José Maria Manso da Costa Reis, o escravo Trajano, solteiro, creoulo, baixo, barbado, de bons dentes, fula, de 49 annos de idade mais ou menos, carpinteiro, pernas cambêtas, pisa como periquito, fallante e muito esperto."
Há outro anúncio na mesma edição do jornal, que reproduzimos na imagem abaixo:
O texto diz:
"Fugiu da fasenda de Santa Cruz, em Santa Barbara do Rio Novo[região próxima a São João Nepomuceno], pertencente a Araujo Maia & Irmão, o escravo João, com os signaes seguintes: pardo, escuro, estatura regular, cheio de corpo, pouca barba, bem feito, testa pequena, nariz grande, peitos largo e cabellos encarapinhados; levou roupas finas e botinas. Consta que seguiu o caminho da Leopoldina, com destino ao Rio Pardo [atualmente município de Argirita] ou Piedade, quer passar por livre e foi visto no rancho de Francisco Ferraz; quem o appanhar(?) e levar a referida fazenda ou á rua Municipal a. 17, será bem gratificado."
Na edição de 24 abril de 1881 encontramos mais um anúncio de fuga de cativo.
"Fugiu no dia 20 do corrente, o escrado João, crioulo, idade 23 annos mais ou menos, côr fula, altura regular, ligeiro no andar, esperto no serviço e bom carreiro; foi apadrinhar-se na fazenda do Sr. Josué de Vargas e d'ahi evadiu-se de novo, quem o aprehender e levar a estação do Recreio, sitio do Serrote, propriedade de Francisco Ferreira Netto, será gratificado com a quantia acima."
Os escravos, como vimos nos anúncios, não aceitavam passivamente sua condição de cativos, eles lutavam, fugiam e até formavam quilombos onde tentavam restabelecer suas vidas. Durante as fugas era fundamental levar artigos que tivessem alguma utilidade futura.
Sobre esse aspecto, a historiadora Marcia Amantino afirma que: "Além das roupas que poderiam ser usadas como facilitadoras de relações sociais e disfarce para a condição de cativo, os escravos fugiam levando também outros tipos de apetrechos: facas, cavalos, tecidos, etc. Todos estes elementos possuíam a função de facilitar a nova vida em outros locais." (AMANTINO, Márcia. O cotidiano escravo em Cataguases nas últimas décadas da escravidão. In: Seminário de História Econômica e Social da Zona da Mata mineira, I: 2005, Juiz de Fora (MG). Anais. CES 2005. (Disponível em CD-ROM).
É o caso do escravo João, descrito no segundo anúncio, ele fugiu e levou consigo roupas e calçados, acessórios que o ajudariam a se inserir na comunidade e a concretizar o seu desejo de ser livre.
A rebeldia dos cativos preocupava bastante tanto os seus senhores quanto as autoridades locais, que ficavam receosas de ocorrer uma rebelião de escravos. Afinal, a população escrava era bastante significativa. O recenseamento de 1872 revela que 24,39% de escravos da Província de Minas Gerais viviam na Zona da Mata. (CARRARA, A. A. 2005).
Nos livros de História fala-se muito em escravidão, e de sua presença nos engenhos de açúcar nordestinos, nas minas de ouro da região central de Minas Gerais e, depois, nas fazendas de café do vale do Paraíba. Porém, no interior do Brasil, em uma pacata cidade como Leopoldina há um passado fortemente marcado pelo trabalho compulsório e a presença de cativos afro-brasileiros que precisa ser conhecido e melhor estudado.
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