20.9.12

Comer ou não comer? Eis a questão!


Você conhece o símbolo acima? Já notou que ele está presente nas embalagens de diversos alimentos e de ração para animais domésticos?
Você sabe o que esse símbolo representa?

Ele indica que o produto da embalagem contém organismos que foram alterados geneticamente (OGMs), isto é, quando eles recebem genes de outros organismos para determinado fim. Por exemplo, quando sementes de alimentos recebem em laboratórios genes (material genético) de  bactérias, vírus ou fungos para se tornarem mais resistentes ás pragas e às alterações climáticas.

Por que tal modificação genética é feita? Segundo os defensores da alteração genética dos alimentos a ação resulta no fortalecimento dos organismos aos fungos e bactérias, e o seu cultivo exige menos o uso dos agrotóxicos. Outros benefícios também são agregados aos vegetais transgênicos, tais como o aumento de seu valor nutricional e de sua resistência ao tempo para estocagem. Eles também argumentam que a produção de transgênico é mais barata e pode ser a solução para acabar com a fome no mundo.

No site Canal Kids há uma explicação sobre o Alimentos Transgênicos, voltada para o público infantojuvenil. De forma acrítica e bastante parcial, o site classifica os alimentos geneticamente modificados como superalimentos, sendo mais saudáveis, fortes e menos gordurosos porque foram criados pela Ciência. (http://www.canalkids.com.br/cultura/ciencias/biologia/transgenicos.htm).
A publicação também conta com uma ilustração de vegetais fantasiados com roupas de conhecidos super-heróis de filmes, desenhos e games associando, desse modo, o poder do herói ao consumo de alimento transgênico.

Será que os alimentos transgênicos são tão benéficos assim? Em minha graduação, pelos idos de 2003-4, sempre escutei de um sábio e saudoso professor que os transgênicos representavam um risco para a saúde humana. Passados quase dez anos as incertezas sobre a segurança dos alimentos transgênicos para a saúde humana permanecem vivas na comunidade científica.
Não é incomum encontrarmos notícias em jornais e sites informando que pesquisas com alimentos transgênicos não tem obtido bons resultados.
Uma notícia  publicada na página de Ciência do portal Uol informa que um estudo estrangeiro demonstrou que ratos alimentados com milho geneticamente modificado morrem mais rápido que os demais. Eles também tem maior propensão de sofrerem com o câncer.  (http://noticias.uol.com.br/ciencia/ultimas-noticias/redacao/2012/09/19/transgenicos-matam-mais-cedo-e-causam-ate-tres-vezes-mais-cancer-em-ratos-diz-estudo.htm)

O resultado do estudo é extremamente preocupante e corrobora as restrições defendidas por parte da Comunidade científica com relação à produção e à comercialização de alimentos transgênicos.
No site do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor há um alerta para os riscos decorrentes dos alimentos transgênicos, tanto para os humanos quanto para o Meio Ambiente. Uma vez que a alteração genética dos organismos pode causar implicações na saúde,  provocando o surgimento de novas doenças, e prejudicar o meio ambiente, pois os insetos e ervas-daninhas, parasitas naturais das plantações, também desenvolverão resistência aos transgênicos, ao longo do tempo, e exigirão o uso de produtos agroquímicos para controlar sua atuação sobre a agricultura. Todos sabem o quanto isso é prejudicial para o solo e para os cursos d'água.  

Apesar dos riscos e das incertezas que envolvem a alteração genética dos alimentos, tornou-se comum encontrar alimentos nas prateleiras dos supermercados que possuem ingredientes transgênicos. Salgadinhos (Fandangos e Doritos, por exemplo, que são tão apreciados pelas crianças), óleo de soja e outros produtos à base de cereais.
Aquele rótulo que mostramos acima, no início do texto, vem estampado na embalagem dos produtos. As empresas são obrigadas a informarem ao consumidor se há presença de ingredientes transgênicos em seus produtos, de acordo com legislação específica(Decreto nº 4.680/2003). Algumas empresas sonegaram o direito de informar ao consumidor que seus produtos possuem ingredientes geneticamente modificados, mas devido às denúncias de ONGs e a apuração do Ministério Público federal, a rotulagem começou a ser realizada corretamente.

O uso de ingredientes transgênicos beneficia, certamente, os laboratórios de pesquisa e engenharia genética, as empresas de produtos agrotóxicos e o agronegócio de maneira geral. Esta grande indústria exerce forte pressão política sobre os parlamentares, para que esses adotem legislações mais flexíveis à livre produção e comercialização dos transgênicos. Alguns deputados e senadores trabalham para atender aos interesses das grandes empresas, dos produtores rurais e dos laboratórios de produtos agroquímicos e, portanto, pouco se importam com o bem estar da população, pela qual deveriam zelar.
Para esses setores da sociedade, que se beneficiam diretamente dos transgênicos, os resultados negativos das pesquisas, como o da mencionada nesse texto, não tem grande valor. O que é de fato relevante, para eles, é a eliminação das barreiras comerciais dos produtos transgênicos. Mesmo que isso custe a saúde das pessoas e a integridade ambiental, o negócio não pode parar. 



Qual é a sua opinião acerca dos produtos transgênicos? Eles devem ser comercializados livremente, sem restrições? Os transgênicos podem acabar com a fome no Mundo? Ou você prefere comer alimentos naturais, sem alterações genéticas e com o mínimo possível de agrotóxicos?
Vamos fazer uma enquete para descobrir sua opinião a respeito do tema!

Fique a vontade para discordar, concordar ou complementar o post, deixando seu comentário. Sua opinião é importante para nós. 

Ativistas do GreenPeace em ação:


11.9.12

A transferência da Família Real para o Brasil

Slides com informações do contexto histórico da mudança da família real portuguesa para o Brasil, em 1808 e as consequências que tal fato provocou na próspera colônia no trópico Sul.


Avaliação






8.9.12

O "esporte" da moda: MMA

Coliseu, construído entre os anos 70 e 80 d. C.
Os desafios de luta não são novidades na História. Desde a Antiguidade, combates são realizados para entreter o público e sempre fizeram grande sucesso. Na Roma Antiga, temos um exemplo Clássico. O grande e maravilhoso Coliseu de Roma era o palco das lutas dos Gladiadores, que enfrentavam animais selvagens e também se enfrentavam mutuamente, às vezes, até a morte.

Os combates eram divulgados em cartazes, espalhados pelas ruas de Roma. Em alguns eventos, a entrada era gratuita e a plebe (massa popular de Roma) ainda recebia pão enquanto assistia ao espetáculo. Esse fato ficou conhecido como a "política do pão e circo" (http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=171), uma estratégia dos políticos romanos para distrair o povo, fazendo-o se esquecer dos problemas sociais cotidianos, e conseguir apoio popular.

Os gladiadores, em muitos casos, eram escravos, alguns faziam fama e obtinham glória com suas vitórias. Eles eram assistidos por, aproximadamente, 50 mil romanos que vibravam e se divertiam com as batalhas.

Mas não iremos abordar aqui os gladiadores antigos. Trataremos do esporte dos "gladiadores do terceiro milênio", nas palavras de Galvão Bueno, em referência aos lutadores do passado. Os gladiadores de hoje são os praticantes do MMA.

MMA é a sigla para Mixed Martial Arts, que se traduz em Artes marciais mistas. Essa modalidade de luta reúne golpes e técnicas de diversas artes marciais, tais como Karatê, Judô, Jiu Jitsu, Boxe, dentre outras e também é conhecida como Vale Tudo.

Esse esporte tem sua origem ligada ao Brasil, na década de 1930. Nessa época, alguns membros da família Gracie, responsável por aperfeiçoar técnicas de jiu jitsu, desafiavam lutadores de capoeira, judô etc.

No início da década de 1990, os Gracie levaram a ideia para os EUA e criaram o UFC (Ultimate Fighting Championship), um torneio que reunia lutadores de diversas partes do Mundo. Havia poucas regras e os combates eram bastante violentos.

Logo um grupo de americanos comprou o UFC e, após uma década, o evento tornou-se o principal do Mundo na modalidade MMA. Aqui no Brasil, o Vale Tudo existe há alguns anos, porém não tinha tanta popularidade, pois os eventos oficiais eram transmitidos apenas na TV a cabo.
Contudo, a situação se inverteu a partir do momento que uma rede de TV aberta adquiriu os direitos para exibir um evento do UFC em sua grade de programação.

No dia 27 de agosto de 2011, a RedeTV exibiu o UFC RIO e faturou alto. Estima-se que tenha arrecado R$ 4,8 milhões de patrocínios, os quais foram exibidos durante a transmissão do evento. Naquela noite, a emissora também registrou a maior audiência de sua história e ficou atrás somente da Rede Globo. (http://uolesportevetv.blogosfera.uol.com.br/2011/08/31/audiencia-do-ufc-rio-chama-atencao-de-band-e-globo/)

O esporte, reconhecidamente violento, atrai cada vez mais o público e não para de crescer. Há alguns meses a TV Globo, uma das maiores emissoras do mundo, adquiriu os direitos para exibir alguns eventos do UFC, já transmitiu algumas lutas e até um reality show de MMA. Os efeitos da popularização do esporte pela TV aberta são sensíveis.
A procura por academias e por aulas de jiu jitsu e muay thai (boxe tailandês) aumentou bastante, dentre os jovens principalmente. Os adolescentes nas escolas só falam em lutar, em nocautear e treinar para ficar com o corpo igual ao do seu lutador preferido. Pensam que assim serão mais homens, adquirindo mais tamanho e força, algo tipicamente machista.

Junto com o UFC, com os seus carismáticos lutadores e com os programas de lutas na TV e na internet, estão os anunciantes de diversos produtos esportivos, como tatames, kimonos, luvas, suplementos alimentares etc.



O mercado de suplementos é um claro exemplo do impacto causado pelo MMA no mercado, na publicidade e no comportamento dos consumidores. Segundo dados colhidos na internet, ele movimenta cerca de $ 400 milhões de dólares no Brasil, muitas projeções apontam que o segmento terá um crescimento de 10% anual, e é um dos que lucra bastante com a "onda" do UFC.

Os suplementos alimentares são encontrados facilmente em qualquer esquina, nas farmácias e academias, e são vendidos sem a necessidade de prescrição médica ou nutricionista. Diversos atletas/lutadores de MMA são patrocinados por empresas fabricantes dos suplementos, tornando-se seus garotos-propaganda, e passam a ter suas imagens estampadas nos catálogos, sites, comerciais de televisão e pacotes dos tais produtos.
As embalagens dos suplementos sugerem que o consumo do produto deixará o corpo do usuário com músculos volumosos e definidos. 

Os aparentes benefícios dos suplementos camuflam os riscos intrínsecos ao consumo exagerado e sem orientação especializada. Diversos prejuízos podem ocorrer no corpo do usuário, como por exemplo, o comprometimento do funcionamento dos rins e do fígado. (http://saude.abril.com.br/edicoes/0309/corpo/conteudo_448564.shtml?pag=2)

$ 1 bilhão de dólares é o valor estimado do UFC.
Como podemos perceber o mundo das lutas é bastante lucrativo, as cifras que gravitam em torno dos ringues ou dos octógonos são astronômicas e crescentes. Anúncios em televisão, pagamento de atletas, patrocínios, apostas, bilheterias, marcas de roupas, e outros tantos negócios, compõe uma rede de milhões e milhões de dólares nos bolsos de empresários, executivos, redes de comunicação, atletas, agenciadores, fabricantes de produtos esportivos...

A que custo vem tanto dinheiro? Ou melhor, com quantos litros de sangue?

Apesar da carnificina e dos golpes contundentes e agressivos, a audiência das lutas cresce sem parar.
O nível de violência é elevado e muito sangue é derramado.
De acordo com dados levantados pelo jornalista Guga Noblat, a Rede Globo teve um aumento de 10% da audiência nos domingos à noite durante a exibição do reality show do UFC; o Canal Combate, especialista na cobertura de lutas, aumentou em  um ano 54% o número dos seus assinantes, que passam de 200 mil. Comunidades virtuais e as redes socais de Vale Tudo e UFC contam com milhares de seguidores, como a do Orkut, por exemplo, que tem mais de 230 mil membros.

Apesar da violência e dos riscos deste esporte, o número de jovens interessados em ingressar no mundo das lutas, seja como um profissional ou amador, parece mesmo acompanhar a tendência deste mercado - crescer.

Entretanto, os jovens e seus pais deveriam ter um pouco de cautela, pois o praticante de artes marciais está sujeito a inúmeras lesões, tais como fraturas, rupturas de músculos e articulações, tetraplegia e até morte, em casos mais graves. (http://www.efdeportes.com/efd83/jiu.htm)
A prática de artes marciais é recomendada por especialistas, sob monitoramento de fisioterapeutas, médicos e profissionais da educação física, mesmo em níveis amadores, para prevenir e tratar possíveis traumas.

Aqui no Blog mesmo postamos uma breve matéria com um vídeo que mostra o drama de um lutador norte-americano que perdeu os movimentos do corpo, após ter sofrido um golpe em uma luta de vale tudo no final de 2011. (Relembre clicando aqui)

Além disso, os responsáveis devem procurar conhecer a formação dos treinadores, tanto técnico-acadêmica, quanto social e moral, para saber se aquela pessoa está apta a transmitir o conhecimento, a filosofia e a disciplina das artes marciais para os jovens, ou  se servirá apenas como um instrutor que ensinará a distribuir pancadas.

Enfim, não estamos nos posicionando nem a favor nem contra esse novo esporte, mas é indiscutível que a violência do MMA ou de qualquer outro estilo de luta com contato livre entre os oponentes, amplamente permitido e feito sem proteções, traz sérios riscos para a saúde, tanto física, quanto mental. Haja crânio e cérebro para suportar tanta bordoada na cabeça e na têmpora (Atingindo essas regiões, o atacante consegue "apagar" o adversário, que caí nocauteado). As sequelas podem ser irreversíveis.
Estamos aqui apenas expondo algumas informações para fomentar um debate de ideias sobre esse esporte que está presente em todas as mídias e tem conquistado cada vez mais público e espaço na Televisão e na Internet. Essa modalidade esportiva também tem contribuído, acreditamos, para estimular a prática de artes marciais e de musculação, acompanhada pelo consumo indiscriminado de suplementos alimentares para obtenção de resultados rápidos.

Até onde isso é saudável? Pelo menos para os empresários envolvidos com a gestão do MMA, os publicitários, executivos de televisão, fabricantes de suplementos, casas e sites de apostas, treinadores de artes marciais, atletas profissionais e, recentemente, alguns políticos, as lutas são muito "saudáveis" e extremamente rentáveis.

Os praticantes de MMA defendem que o esporte não é violento e que regras foram criadas para preservar a integridade física dos atletas. Mas as tais regras só são acionadas quando o atleta fica incapaz de se defender ou está desacordado após ter recebido um golpe certeiro, portanto, já teve sua integridade danificada.  E qual será o futuro desse atleta? Até onde os gladiadores poderão prosseguir com suas carreiras, que são extremamente nocivas ao próprio corpo?
Antes do dinheiro e da sede do lucro, há seres humanos que estão colocando suas vidas em risco, derramando sangue por sonhos e "verdinhas", enquanto o grande público se extasia com o espetáculo da violência.

E aí? Vamos debater?
Deixe sua opinião.

5.9.12

Só os africanos eram escravizados?

A resposta é não! Além dos africanos, diversos povos, inclusive os europeus, vivenciaram a escravidão. Em praticamente todas as sociedades antigas, na América, Europa ou África, houve formas de escravidão e servidão, uma prática que subjugava alguns grupos sociais em benefício de outros. 

A escravidão também não foi uma invenção do Europeu na Idade Moderna, com o advento das Expansão Marítima e a colonização da África e da América, esse método de exploração do ser humano já existia na Antiguidade, no Egito, Mesopotâmia, na Grécia, em Roma etc.

Passaremos a estudar as características da escravidão ao longo da História, em diferentes épocas e sociedades, chegando até os dias atuais. Apertem os cintos e boa viagem!

Escravidão no Mundo Antigo

A Mesopotâmia, localizada no atual território do Iraque, é apontada como o berço da civilização, pois foi lá que os arqueólogos encontraram os vestígios mais antigos de cidades e de uma forma de escrita, chamada cuneiforme, atribuída aos sumérios, povo que ocupou a região por volta de 4000 a 1900 a.C.

Ao longo da História dessa região as guerras e as disputas entre as cidades-estado eram muito comuns, elas lutavam entre si pela posse de terras mais férteis. Os conflitos  geravam derrotados, os quais acabavam sendo escravizados pelos vencedores.  Estes escravos eram utilizados na agricultura e nas obras públicas, onde trabalhavam lado a lado com camponeses livres, que também era convocados para auxiliar na construção de barragens, muralhas e templos.

Passemos agora para outra civilização antiga, a egípcia.

Quem não conhece a passagem bíblica do Antigo Testamento, na qual Moisés - guiado por Deus - vai ao Egito para libertar seu povo e guiá-lo para a Terra Santa?

"Estabeleceram, pois, sobre eles chefes de trabalhos forçados, para os oprimir com tare­fas pesadas. E assim os israelitas construíram para o faraó as cidades-celeiros de Pitom e Ramessés. Todavia, quanto mais eram oprimi­dos, mais numerosos se tornavam e mais se espalhavam. Por isso os egípcios passaram a temer os israelitas,e os sujeitaram a cruel escravidão. Tornaram-lhes a vida amarga, impondo-lhes a árdua tarefa de preparar o barro e fazer tijolos, e executar todo tipo de trabalho agrícola; em tudo os egípcios os sujeitavam a cruel escravidão." (Êxodo, capítulo 1, 11-14.)

A passagem bíblica descreve como os egípcios tratavam os escravos, e obrigavam que estes trabalhassem nas grandes obras do Estado egípcio, tais como a construção das pirâmides, diques e barragens ao longo do Nilo, na produção de alimentos dentre outras.

Acredita-se que tal fato tenha ocorrido por volta de 1270 a. C. É importante ressaltar que a maior parte da mão de obra empregada na construção das pirâmides era formada por trabalhadores livres, que eram convocados e remunerados com gêneros pelo Estado.

Os escravos na Antiguidade, geralmente, eram prisioneiros de guerras, fruto das disputas e batalhas envolvendo povos vizinhos. Os derrotados acabavam sendo submetidos pelos vencedores à escravidão. Havia também alguns mercados onde escravos eram vendidos.

Como podemos perceber no trecho bíblico a vida do escravo não era fácil, o mesmo pode ser notado nas imagens ao lado. Os escravos eram forçados a trabalhar nas minas e pedreiras, atividades exaustivas e perigosas que consumiam as vidas dos indivíduos. Eles também sofriam com os castigos físicos.

O escravo não recebia nada pelo seu trabalho, exceto água e comida. O Historiador Jaime Pinsky (2000) destaca que tanto no Egito quanto na Mesopotâmia Antiga, diversos trabalhadores eram recrutados pelos governantes para construírem barragens e templos. Esses indivíduos tornavam-se propriedades dos governos enquanto durasse o tempo de execução da tarefa, mas não eram vendidos como escravos. Após o fim dos trabalhos, podiam retornar às suas atividades anteriores.

Claro que os escravos não aceitavam sua condição social de submissão e, em alguns casos, se rebelavam, fugiam e enfrentavam seus proprietários, como aconteceu na narrativa bíblica e os hebreus deixaram o Egito, liderados por Moisés.


Escravidão à moda Clássica

Muito bem, depois de conhecermos um pouquinho sobre a escravidão no Egito Antigo, navegaremos agora em direção ao norte, deixaremos a África, cruzaremos o Mar Mediterrâneo e desembarcaremos no sul da Europa. Assim chegamos na Península Balcânica, berço da civilização ocidental, onde viviam os gregos, depois iremos para a península itálica, a oeste, local onde surgiu a civilização romana.

Em Esparta, pólis da Grécia Antiga, por volta do século VIII a. C., havia uma forma de servidão semelhante ao regime escravo. Os guerreiros espartanos submeteram pela força de suas armas diversos povos vizinhos, estes eram chamados de hilotas, Os hilotas não tinham direitos e poderiam ser assassinados a qualquer momento, sem que nenhuma punição fosse aplicada ao assassino, e eram obrigados a trabalhar e a dar uma porcentagem dos gêneros cultivados aos espartanos.

Contudo, os hilotas não eram escravos, pois não eram propriedade dos espartanos, mas compunham uma comunidade a parte da sociedade espartana, sem exercer a cidadania.

Os hilotas não aceitavam pacificamente a submissão, sempre se revoltavam e enfrentavam os espartanos, mas acabavam derrotados pelo poderio militar de Esparta.

Em outra pólis muito conhecida, a cidade de Atenas, também havia a escravidão. Camponeses e artesãos empobrecidos perdiam o status de "livres", caso contraíssem dívidas que não pudessem pagar. Estes então tornavam-se escravos para pagar a dívida com seu trabalho. O sistema de escravidão por dívida só foi abolida por volta de 594 a. C., pelo arconte da cidade Sólon. Outra meio de se tornar escravo era por meio de guerras, quando os povos derrotados eram subjugados pelos vencedores e conduzidos aos mercados de escravos ou seguiam para propriedades do governo, para exercerem diversas tarefas.

Atenas, que foi o berço da democracia (governo do povo), não era lá tão democrática assim, pois a cidade mantinha escravos e, evidentemente, que esse grupo social ficava excluído dos processos decisórios e das discussões da políticas públicas na cidade. Esse direito só cabia aos homens atenienses, com 18 anos ou mais.

Segundo o historiador Pedro Paulo Funari (Grécia e Roma, 2002) havia em Atenas , no ano de 431 a. C., cerca 110 mil escravos, o que representava um terço (1/3) da população total.
Eles eram em sua maioria prisioneiros de guerra, gregos ou "bárbaros", como eram chamados os não-gregos. Os descendentes dos escravos eram considerados "instrumentos vivos".

Veja como a massa escrava estava distribuída, de acordo com as tarefas (valores aproximados):
Minas de prata: 30 mil
Trabalho rural: 25 mil
Trabalho urbano: 73 mil

Enquanto os cidadãos atenienses discutiam política na Ágora (local destinado às Assembleias), os escravos mantinham a democracia de Atenas com o suor de seu trabalho, com isso permitindo o ócio e o tempo livre de seus senhores, para que esses pudessem exercitar a sua cidadania e cuidar dos assuntos públicos. No Mundo Clássico -Grécia e Roma antigas - as atividades manuais e lucrativas, tais como o comércio, eram desprezadas e deveriam ser exercidas somente por pessoas pobres e escravos.

Apesar das dificuldades e da vida sofrida, os escravos conseguiam juntar algum dinheiro com o qual poderiam comprar de seus donos a sua liberdade. Entretanto, mesmo após receberem a alforria em uma cerimônia conhecida como manumissão, o escravo liberto ainda mantinha vínculo com o seu senhor, devendo-lhe alguns serviços quando fosse requisitado.

Agora chegamos em Roma, atual capital da Itália. Essa cidade, segundo a lenda teria sido fundada em 753 a. C., começou a crescer e viveu diferentes períodos políticos, tais como a República e o Império.
Roma cresceu tanto que deixou um grande legado cultural por toda a Europa e, por que não dizer, até na América, já que fomos colonizados pelos europeus.

A exemplo do que ocorria em Atenas, os romanos mais pobres também se tornavam escravos devido as dívidas que fossem contraídas. Somente com muita luta da plebe (massa popular romana) essa forma de escravidão foi abolida.

A maior parte dos escravos romanos era obtidos por meio da guerra. Os povos derrotados eram escravizados, vendidos ou empregados nas grandes fazendas do Estado romano, a partir de então o escravo tinha que aprender a língua e os costumes romanos, mas nem por isso eles deixavam suas crenças e valores. Muitos deles também eram utilizados na construção das inúmeras estradas de pedra, que interligavam Roma com as províncias conquistadas em todas as regiões da Europa e também poderiam ser gladiadores, lutando para divertir o público.

Os escravos podiam pertencer ao Estado ou a particulares, eles tornaram-se cruciais para a manutenção da economia romana. Os cidadãos romanos mais ricos contavam com centenas e até milhares de escravos, trabalhando em suas propriedades.

De acordo com Maria Beatriz B. Florenzano (O mundo Antigo: Economia e Sociedade, 1994), a condição do escravo variava muito de acordo com sua origem, seu dono, sua atividade ou se vivia no meio rural ou urbano.  Os escravos urbanos tinham uma vida menos sofrida, do que os escravos que trabalhavam no campo e nas perigosas minas.


Em Roma, os ex-escravos, que eram chamados de libertos, eles podiam comprar sua liberdade e até obter a cidadania, quando passavam a ser considerados romanos, portanto, adquiriam alguns direitos e deveres comuns aos demais cidadãos. Alguns libertos conseguiam obter ascensão social, através do comércio ou tornando-se funcionário público. Na República, o liberto mantinha uma relação com o seu senhor, devendo-lhe o obsequium, uma obrigação moral ou monetária. O senhor, por sua vez, cuidava do liberto como um filho adotivo e lhe garantia sua proteção.


Por causa dos maus tratos que os escravos recebiam, houve muitas rebeliões de escravos no império romano. A mais famosa delas é a revolta liderada Espártaco, entre 73 a 71 a. C., sob seu comando estiveram 92 mil escravos, que acabaram sendo derrotados pelos soldados de Roma.

Chegamos ao fim de nossa viagem pela História Antiga e as origens da escravidão. Como devem ter notado o conceito estudado varia bastante no tempo e no espaço, mas há algumas características gerais que o permeiam, tais como a cerceamento da liberdade e da cultura, a exploração do trabalho, a formação de mercados de escravos e a origem associada às guerras.

Esperamos que todos tenham gostado, qualquer sugestão ou crítica fiquem a vontade para registrar em Comentários!
Aguardem a segunda parte, na qual abordaremos a escravidão moderna.

2.9.12

Pizarro e Atahualpa




  • Francisco Pizarro (1476-1541) encontrava-se na América desde 1513.
  • Em 1522, ele ouviu que as terras ao sul da América Central abrigavam muitas riquezas e tesouros.
  • 1529: Pizarro recebeu autorização para conquistar as terras peruanas, que pertenciam aos Incas.

  • Três anos depois, ele partiu para o Peru, acompanhado por cerca de 180 homens.
  • O Império Inca, nessa época, passava por uma crise política. Huáscar e Atahualpa disputavam o trono.
  • Apesar de Atahualpa ter vencido a guerra de sucessão pelo trono, seu poder militar ficou enfraquecido.
  • Os espanhóis entraram em contato com o imperador inca, na cidade de Cajamarca, por meio de intérpretes obtidos na região. 
  • Um padre exigia que o Sapa Inca se convertesse ao catolicismo e aceitasse a autoridade da Coroa Espanhola.
  • Ao receber um livro de orações do padre espanhol, Atahualpa, sem entender o significado daquilo, lançou o livro ao chão.

  • Alguns soldados espanhóis estavam escondidos entre os prédios iniciaram uma batalha contra os incas e, apesar de estarem em menor número, conseguiram vencer e fazer o líder inca prisioneiro.
  • O Inca ofereceu a Pizarro algumas salas cheias de ouro, chamados de "suor do sol" pelos nativos, e prata em troca de sua liberdade.
  • Pizarro aceitou mas não libertou o Sapa Inca.
  • Da prisão, Atahualpa ordenou a morte de seu irmão, com receio de que ele tentasse assumir o trono.
  • Em 1533 Atahualpa foi condenado a morte por enforcamento  acusado de heresia, poligamia e de ter mandado assassinar seu irmão.
  • Sem o líder Inca, os espanhóis e suas armas de fogo conseguiram conquistar Cuzco, capital do Império. ("umbigo do mundo", na língua quíchua). 
  • Dessa forma, os espanhóis anexaram vastos territórios ao Império Colonial de Espanha e puderam explorar as minas de ouro e prata da América do Sul.
  • Pizarro também acabou assassinado por espanhóis que lhe faziam oposição, em Lima (Peru), no dia 26 de junho de 1541.

Estimativa de índios no Peru em 1520: 9 milhões
Índios no Peru em 1568-1570: 1,3 milhão






"A espada, a cruz e a fome iam dizimando a família selvagem."
Pablo Neruda (1904-1973), poeta chileno.