8.9.12

O "esporte" da moda: MMA

Coliseu, construído entre os anos 70 e 80 d. C.
Os desafios de luta não são novidades na História. Desde a Antiguidade, combates são realizados para entreter o público e sempre fizeram grande sucesso. Na Roma Antiga, temos um exemplo Clássico. O grande e maravilhoso Coliseu de Roma era o palco das lutas dos Gladiadores, que enfrentavam animais selvagens e também se enfrentavam mutuamente, às vezes, até a morte.

Os combates eram divulgados em cartazes, espalhados pelas ruas de Roma. Em alguns eventos, a entrada era gratuita e a plebe (massa popular de Roma) ainda recebia pão enquanto assistia ao espetáculo. Esse fato ficou conhecido como a "política do pão e circo" (http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=171), uma estratégia dos políticos romanos para distrair o povo, fazendo-o se esquecer dos problemas sociais cotidianos, e conseguir apoio popular.

Os gladiadores, em muitos casos, eram escravos, alguns faziam fama e obtinham glória com suas vitórias. Eles eram assistidos por, aproximadamente, 50 mil romanos que vibravam e se divertiam com as batalhas.

Mas não iremos abordar aqui os gladiadores antigos. Trataremos do esporte dos "gladiadores do terceiro milênio", nas palavras de Galvão Bueno, em referência aos lutadores do passado. Os gladiadores de hoje são os praticantes do MMA.

MMA é a sigla para Mixed Martial Arts, que se traduz em Artes marciais mistas. Essa modalidade de luta reúne golpes e técnicas de diversas artes marciais, tais como Karatê, Judô, Jiu Jitsu, Boxe, dentre outras e também é conhecida como Vale Tudo.

Esse esporte tem sua origem ligada ao Brasil, na década de 1930. Nessa época, alguns membros da família Gracie, responsável por aperfeiçoar técnicas de jiu jitsu, desafiavam lutadores de capoeira, judô etc.

No início da década de 1990, os Gracie levaram a ideia para os EUA e criaram o UFC (Ultimate Fighting Championship), um torneio que reunia lutadores de diversas partes do Mundo. Havia poucas regras e os combates eram bastante violentos.

Logo um grupo de americanos comprou o UFC e, após uma década, o evento tornou-se o principal do Mundo na modalidade MMA. Aqui no Brasil, o Vale Tudo existe há alguns anos, porém não tinha tanta popularidade, pois os eventos oficiais eram transmitidos apenas na TV a cabo.
Contudo, a situação se inverteu a partir do momento que uma rede de TV aberta adquiriu os direitos para exibir um evento do UFC em sua grade de programação.

No dia 27 de agosto de 2011, a RedeTV exibiu o UFC RIO e faturou alto. Estima-se que tenha arrecado R$ 4,8 milhões de patrocínios, os quais foram exibidos durante a transmissão do evento. Naquela noite, a emissora também registrou a maior audiência de sua história e ficou atrás somente da Rede Globo. (http://uolesportevetv.blogosfera.uol.com.br/2011/08/31/audiencia-do-ufc-rio-chama-atencao-de-band-e-globo/)

O esporte, reconhecidamente violento, atrai cada vez mais o público e não para de crescer. Há alguns meses a TV Globo, uma das maiores emissoras do mundo, adquiriu os direitos para exibir alguns eventos do UFC, já transmitiu algumas lutas e até um reality show de MMA. Os efeitos da popularização do esporte pela TV aberta são sensíveis.
A procura por academias e por aulas de jiu jitsu e muay thai (boxe tailandês) aumentou bastante, dentre os jovens principalmente. Os adolescentes nas escolas só falam em lutar, em nocautear e treinar para ficar com o corpo igual ao do seu lutador preferido. Pensam que assim serão mais homens, adquirindo mais tamanho e força, algo tipicamente machista.

Junto com o UFC, com os seus carismáticos lutadores e com os programas de lutas na TV e na internet, estão os anunciantes de diversos produtos esportivos, como tatames, kimonos, luvas, suplementos alimentares etc.



O mercado de suplementos é um claro exemplo do impacto causado pelo MMA no mercado, na publicidade e no comportamento dos consumidores. Segundo dados colhidos na internet, ele movimenta cerca de $ 400 milhões de dólares no Brasil, muitas projeções apontam que o segmento terá um crescimento de 10% anual, e é um dos que lucra bastante com a "onda" do UFC.

Os suplementos alimentares são encontrados facilmente em qualquer esquina, nas farmácias e academias, e são vendidos sem a necessidade de prescrição médica ou nutricionista. Diversos atletas/lutadores de MMA são patrocinados por empresas fabricantes dos suplementos, tornando-se seus garotos-propaganda, e passam a ter suas imagens estampadas nos catálogos, sites, comerciais de televisão e pacotes dos tais produtos.
As embalagens dos suplementos sugerem que o consumo do produto deixará o corpo do usuário com músculos volumosos e definidos. 

Os aparentes benefícios dos suplementos camuflam os riscos intrínsecos ao consumo exagerado e sem orientação especializada. Diversos prejuízos podem ocorrer no corpo do usuário, como por exemplo, o comprometimento do funcionamento dos rins e do fígado. (http://saude.abril.com.br/edicoes/0309/corpo/conteudo_448564.shtml?pag=2)

$ 1 bilhão de dólares é o valor estimado do UFC.
Como podemos perceber o mundo das lutas é bastante lucrativo, as cifras que gravitam em torno dos ringues ou dos octógonos são astronômicas e crescentes. Anúncios em televisão, pagamento de atletas, patrocínios, apostas, bilheterias, marcas de roupas, e outros tantos negócios, compõe uma rede de milhões e milhões de dólares nos bolsos de empresários, executivos, redes de comunicação, atletas, agenciadores, fabricantes de produtos esportivos...

A que custo vem tanto dinheiro? Ou melhor, com quantos litros de sangue?

Apesar da carnificina e dos golpes contundentes e agressivos, a audiência das lutas cresce sem parar.
O nível de violência é elevado e muito sangue é derramado.
De acordo com dados levantados pelo jornalista Guga Noblat, a Rede Globo teve um aumento de 10% da audiência nos domingos à noite durante a exibição do reality show do UFC; o Canal Combate, especialista na cobertura de lutas, aumentou em  um ano 54% o número dos seus assinantes, que passam de 200 mil. Comunidades virtuais e as redes socais de Vale Tudo e UFC contam com milhares de seguidores, como a do Orkut, por exemplo, que tem mais de 230 mil membros.

Apesar da violência e dos riscos deste esporte, o número de jovens interessados em ingressar no mundo das lutas, seja como um profissional ou amador, parece mesmo acompanhar a tendência deste mercado - crescer.

Entretanto, os jovens e seus pais deveriam ter um pouco de cautela, pois o praticante de artes marciais está sujeito a inúmeras lesões, tais como fraturas, rupturas de músculos e articulações, tetraplegia e até morte, em casos mais graves. (http://www.efdeportes.com/efd83/jiu.htm)
A prática de artes marciais é recomendada por especialistas, sob monitoramento de fisioterapeutas, médicos e profissionais da educação física, mesmo em níveis amadores, para prevenir e tratar possíveis traumas.

Aqui no Blog mesmo postamos uma breve matéria com um vídeo que mostra o drama de um lutador norte-americano que perdeu os movimentos do corpo, após ter sofrido um golpe em uma luta de vale tudo no final de 2011. (Relembre clicando aqui)

Além disso, os responsáveis devem procurar conhecer a formação dos treinadores, tanto técnico-acadêmica, quanto social e moral, para saber se aquela pessoa está apta a transmitir o conhecimento, a filosofia e a disciplina das artes marciais para os jovens, ou  se servirá apenas como um instrutor que ensinará a distribuir pancadas.

Enfim, não estamos nos posicionando nem a favor nem contra esse novo esporte, mas é indiscutível que a violência do MMA ou de qualquer outro estilo de luta com contato livre entre os oponentes, amplamente permitido e feito sem proteções, traz sérios riscos para a saúde, tanto física, quanto mental. Haja crânio e cérebro para suportar tanta bordoada na cabeça e na têmpora (Atingindo essas regiões, o atacante consegue "apagar" o adversário, que caí nocauteado). As sequelas podem ser irreversíveis.
Estamos aqui apenas expondo algumas informações para fomentar um debate de ideias sobre esse esporte que está presente em todas as mídias e tem conquistado cada vez mais público e espaço na Televisão e na Internet. Essa modalidade esportiva também tem contribuído, acreditamos, para estimular a prática de artes marciais e de musculação, acompanhada pelo consumo indiscriminado de suplementos alimentares para obtenção de resultados rápidos.

Até onde isso é saudável? Pelo menos para os empresários envolvidos com a gestão do MMA, os publicitários, executivos de televisão, fabricantes de suplementos, casas e sites de apostas, treinadores de artes marciais, atletas profissionais e, recentemente, alguns políticos, as lutas são muito "saudáveis" e extremamente rentáveis.

Os praticantes de MMA defendem que o esporte não é violento e que regras foram criadas para preservar a integridade física dos atletas. Mas as tais regras só são acionadas quando o atleta fica incapaz de se defender ou está desacordado após ter recebido um golpe certeiro, portanto, já teve sua integridade danificada.  E qual será o futuro desse atleta? Até onde os gladiadores poderão prosseguir com suas carreiras, que são extremamente nocivas ao próprio corpo?
Antes do dinheiro e da sede do lucro, há seres humanos que estão colocando suas vidas em risco, derramando sangue por sonhos e "verdinhas", enquanto o grande público se extasia com o espetáculo da violência.

E aí? Vamos debater?
Deixe sua opinião.

Um comentário:

  1. Igor Gama sa Silva04 outubro, 2012 21:10

    O esporte do momento , Brasil ai merece respeito total no mundo todo , Royce Gracie a Familia Gracie os caras sao muito show !

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Obrigado pelo comentário.