Por Alessandro Mendonça Reis
(Historiador e mestrando em História)
A
evolução da tecnologia é cada vez mais evidente e o mundo do trabalho não fica
fora deste processo. Tarefas que fazíamos há alguns anos como a própria
comunicação entre as pessoas enviando cartas, por exemplo, já teve o seu prazo
muito encurtado e agilizado com a utilização do e-mail. As barreiras foram
sendo quebradas e a globalização não só diminuiu as distâncias como criou
profissões novas. Os youtubers são a prova disso. E sobre uma possível Terceira
Revolução Industrial, ela existe? Se levarmos em consideração todo aparato
tecnológico aplicado na indústria e na automação do trabalho, eu digo que sim.
Estamos diante de uma nova era onde a robótica cada vez mais ocupará o espaço
do ser humano.
Depois
da mecanização do tempo, este nunca mais foi o mesmo. O homem utilizava o tempo
da natureza para conduzir a sua vida, agora o relógio com mecanismo moderno
controla suas ações no dia a dia. O filme “Tempos Modernos” (1936) de Charles
Chaplin[1] é
um exemplo clássico. O trabalhador migrou dos campos para as cidades em busca
de melhores condições de vida. Foi justamente nesta transformação da migração
da mão de obra agrária para as manufaturas que uma classe começa a se formar, a
do trabalhador urbano. Segundo o historiador Edward Thompson não é possível
quantificar a percepção do tempo de um trabalhador, nem de milhões de
trabalhadores[2].
Assim, máquinas surgem cada vez mais como trabalhadores perfeitos. Não reclamam
de trabalho excessivos, não recorrem à Justiça do Trabalho, não adoecem e tiram
licenças médicas e outros problemas referentes a natureza humana.
Diante
de questões que envolvem a eficiência do trabalho, as máquinas modernas através
do advento da computação seguem lógicas da programação, e quem está por trás
disto é o próprio homem. Nascem as ferramentas necessárias para o bom
cumprimento do trabalho. Eric Hobsbawm afirma que o trabalho manual coletivo
por tradição é ritualizado, entrelaça a vida dos indivíduos[3],
portanto, uma máquina afasta essa forma de aproximação e friamente, a um comando, executa as tarefas. Não há mais como fugir e devemos encarar uma nova realidade
que se impõe. Neste processo veremos cada vez mais profissões desaparecerem e
novas serem criadas, é preciso se adequar aos novos tempos.
No
vídeo apresentado vemos uma perfeita sincronização de todo secular processo do
trabalho aplicado por causa do desenvolvimento de novas tecnologias. Mesmo à
distância temos condições de realizar tarefas em uma fábrica que precisaria
provavelmente de mais de dez operários. O touch
é muito aplicado em nossas vidas. A fábrica em questão é de uma grande
montadora de veículos e podemos perceber que diante de tarefas mais minuciosas
os operários concluíram o trabalho, isso, até aparecer máquinas com capacidade
para tais funções. Entre o final dos anos 1970 e início dos 1980 no Brasil, na
região conhecida como ABC paulista, greves estouraram no parque industrial que
abrigava várias montadoras. O poder ainda estava nas mãos dos trabalhadores
sindicalizados. Diante de toda automação diversificada que temos, qual o nosso
poder de reivindicar por nossos direitos no mundo do trabalho? É impressionante
e ao mesmo tempo assustador a capacidade de produção das máquinas nas
indústrias, de fato nossas vidas foram facilitadas.
A modernização é muito importante e é nosso
dever nos aplicarmos para acompanhar. O domínio das máquinas na produção em
larga escala faz parte da própria história da humanidade que sempre criou
ferramentas para melhorar e diversificar o trabalho. Muitas vezes por exigência
das cobranças que vivemos para dar conta em ser um indivíduo produtivo o nosso
ritmo natural é alterado. Na música “Construção” (1971) de Chico Buarque, em um
determinado trecho, o autor é categórico “(...) Subiu
a construção como se fosse máquina (...)”[4],
a própria história da Revolução Industrial tinha na exploração da mão de obra o
seu grande trunfo. Trabalhar como se fosse máquina. Hoje, como podemos perceber
no vídeo elas vão tomando o lugar do trabalhador na criação de um sistema mais
qualificado e engenhoso. Depois de trocarmos as máquinas à vapor da Revolução
Industrial iniciada na Inglaterra na segunda metade do século XVIII, cabe a cada um de nós percebermos as mudanças, nos adaptarmos e fazer parte desta Terceira Revolução Industrial que está em curso.
[1] O filme completo está disponível
em: <www.youtube.com/watch?v=3tL3E5fIZis>
[2] THOMPSON, Edward Palmer. Costumes
em comum: Estudos sobre a cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das
Letras, 1998, p. 299.
[3] HOBSBAWM, Eric. Mundo do
Trabalho: Novos estudos sobre História Operária. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2000, p. 102.
[4] A íntegra da letra está
disponível em: <www.vagalume.com.br/chico-buarque/construcao.html>
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pelo comentário.