Esta singela crônica é um pequeno tratado de política para as crianças. Leia com atenção!
Num dia qualquer, Paulinho retorna para sua casa, após o fim das aulas, ao cair da tarde. No lar, ele encontra o pai, assentado no sofá folheando o jornal, e a mãe, preparando uma deliciosa sopa para o jantar.
O menino deixa a mochila cair de suas costas e brada:
- Mãe, a professora falou na aula que não devemos jamais eleger políticos da "esquerda", porque são todos comunistas e arruaceiros!
A mãe levou um susto, devido à entonação e ao teor do assunto, mas continuou a fatiar uma cenoura. Ela terminou a tarefa e, sem seguida, voltou-se para o garoto e questionou:
- É mesmo? E em que ela acha que devemos votar?
- Ela disse para votarmos nos políticos da "direita", pois eles se dizem honestos e respeitam as leis, além de se preocuparem com o crescimento econômico do país, com os gastos públicos e com o aumento das exportações._ respondeu Paulinho.
O pai estava assentado na sala, relaxando após uma jornada na fábrica, e ouvindo a conversa do filho com a esposa, soltou um grito e interviu no assunto:
- O ÚNICO CRESCIMENTO COM QUE A "DIREITA" SE PREOCUPA É COM O VOLUME DO DINHEIRO DOS PRÓPRIOS BOLSOS.
Paulinho coçou a cabeça, refletiu um pouco. Ficou confuso e desorientado ao ouvir a informação do pai. A mãe, percebendo a confusão do filho, e com a ternura que lhe é peculiar, largou a tarefa, lavou as mãos, secou e segurou Paulinho pelo rosto, fitando-lhe os olhos.
- Meu filho, esses políticos da "direita", na maior parte das vezes, são representantes dos agentes econômicos do país, do grande empresariado, dos fazendeiros, produtores rurais, dos industriais e dos banqueiros. Eles não se preocupam com a vida dos mais pobres e sim em aumentar seus bens e riquezas.
O pai chega até a cozinha e completa:
- Sua mãe está certa. A sua professora lhe disse que no mundo, em 2016, foi constatado que apenas 1% da população tem mais dinheiro do que os outros 99% juntos? E ela também disse que, dentro desse grupo dos 99%, a maior parte da riqueza se concentra nas mãos de apenas 20% das pessoas, deixando a maioria da população mundial com a menor parte do patrimônio?
Paulinho levou um assusto, arregalou os olhos e acenou negativamente com a cabeça.
A mãe de Paulinho explicou:
- O nome disso é desigualdade, filho. Ela é resultado de um longo processo histórico de exploração dos mais pobres pelos mais ricos. No passado, vários intelectuais, sindicalistas e trabalhadores denunciaram essa situação e começaram a reivindicar mudanças, mas as elites logo reagiram, tentando silenciar a rebelião dos oprimidos. Houve radicalismos, guerras e matanças, e vários governos tentaram limitar os direitos dos trabalhadores, proibindo greves e sindicatos, por exemplo. Alguns avanços foram conquistados, mas ainda há muito por conquistar.
-Mamãe, a professora disse que greve é coisa de gente à toa que não tem mais o que fazer e só quer saber de fazer anarquia._ retrucou Paulinho.
- Paulinho, infelizmente sua professora não sabe o que fala. A greve é um direito de todo trabalhador. Ela é um instrumento para cobrar melhorias trabalhistas. Esse discurso adotado por alguns e muito difundido na Imprensa tenta enfraquecer os movimentos sindicais e convencer a opinião pública de que está tudo bem, quando na realidade serve apenas para preservar a ordem vigente, assegurando os privilégios dos poderosos e mantendo o povo submisso.
- Ora mãe, então a "esquerda" é contra a desigualdade?_ pergunta o garoto entusiasmado.
- Normalmente sim, os políticos de "esquerda" são aqueles que possuem representatividade nas bases sociais, nos movimentos operários, nos trabalhadores do campo, enfim, seu compromisso é com as classes populares, que formam a maior parte da população. Então, quando eleitos, eles tendem a representar os interesses do povo e não do grande empresariado do país. Procuram minimizar as desigualdades, por meio de políticas públicas e programas sociais na área de saúde, saneamento, educação, emprego e renda.
- Puxa, então a "esquerda" é perfeita, eu já sei qual lado escolher quando eu puder votar! _ exalta o garoto.
- Tenha calma, meu filho!_ advertiu o pai. Longe de ser perfeita, a "esquerda" cometeu e comete tantos erros quanto a "direita", às vezes elas até se aliam para atingir objetivos comuns. A diferença é que governos de "esquerda" que defendem a democracia usam o poder para promover a distribuição de renda, fortalecer direitos trabalhistas e garantias sociais, enquanto a "direita" quer apenas usar o governo para subtrair direitos dos trabalhadores e fazer a economia do país crescer, sem se preocupar com o desenvolvimento social ou investimentos em saúde e educação, por exemplo. Um governo só será bom se cada cidadão exercer o seu papel, cobrar e fiscalizar as ações de seus representantes eleitos.
Nesse momento, a mãe emendou dizendo:
- Filho, tão importante quanto o lado que se escolhe na política, "esquerda" ou "direita", é o caráter do indivíduo que exercerá um mandato eletivo. É importante pesquisar sua trajetória, verificar se é íntegro, honesto e descobrir quais setores sociais ele representa e quais compromissos irá defender quando for eleito. E, como seu pai lembrou, nós temos que cobrar dos políticos medidas que favoreçam a democracia, a inclusão e a coletividade, e não apenas os mais ricos, além de transparência e eficiência nas ações do governo!
- Acho que tô começando a entender. _ disse Paulinho, com os dedos segurando o queixo e uma expressão investigativa.
- Não há porque ficar preocupado com isso por enquanto, você ainda é uma criança e terá muito tempo para escolher o que achar melhor na hora de votar. Mas lembre-se de refletir sobre qual lado irá lhe representar melhor no governo. Agora vá se lavar para jantarmos - concluiu a mãe.
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