24.10.10

Antiga denúncia de uma Velha praga


Nos meses de agosto e setembro com a escassez das chuvas a vegetação das planícies e montanhas de várias partes do Brasil é vorazmente consumida pelas chamas que ardem por horas, queimando as plantas secas durante o dia e também à noite, quando protagonizam um belo, mas trágico espetáculo visual, cortando os campos e enchendo o ar com fuligem e mato carbonizado.
            Com o pasto seco e os ventos favoráveis, as chamas perdem a timidez e avançam como tropa de infantaria – destruindo e devastando tudo o que vêem pela frente.
            Nesse período, as queimadas ganham as manchetes dos jornais e os noticiários das rádios e televisão, porém, ano após ano o ciclo tem se renovado, permanecendo inalterado. Entretanto, a denúncia de tal prática via imprensa não é uma novidade, em 1914 um dos maiores escritores brasileiros – Monteiro Lobato – criador de Jeca Tatu e do Sítio do Pica-pau amarelo registrava nas páginas do jornal Estado de São Paulo uma dura crítica às queimadas, que reduziam vales e serras inteiras a um “cinzeiro imenso”.
Lobato apontava os prejuízos que resultavam das queimadas, a saber, a perda de nutrientes e sais minerais do solo, destruição de florestas e de animais silvestres e os problemas que, posteriormente, acometiam a agricultura e a pecuária devido ao empobrecimento do solo.
Imputava ao Caboclo, considerado “inadaptável à civilização” e um seminômade que vagava pelo interior do país, a responsabilidade por atear fogo no mato. Ele queimava para abrir clareiras no terreno e plantar seu sustento – milho, arroz e feijão – mas logo que a terra demonstrasse fraqueza, abandonava-a e buscava outro sítio nos sertões do Brasil.
O incendiário atual queima o mato quando joga lixo e cigarro nas estradas ou, por simples diversão, põe fogo nas montanhas próximas às cidades, embora coexista com os exemplos de queimadas nas áreas rurais, para fins agrícolas.
Hoje, além dos problemas apontados por Lobato, as queimadas indiscriminadas poluem o ar, e sua fumaça dificulta a visibilidade nas rodovias e no espaço aéreo, podendo causar graves acidentes, contribuem com o surgimento de doenças respiratórias nas pessoas, danificam redes de transmissão e telefonia, além de ameaçarem centenas de casas e famílias que ocupam cada vez mais morros e encostas.  
Os danos que as queimadas criminosas infligem à natureza e à sociedade parecem ser ainda mais contundentes do que os gerados no passado, contudo, um pouco mais de consciência e respeito pelo meio ambiente, por parte dos cidadãos, ajudaria na contenção desta velha praga que ainda teima em atormentar nossa história.  

Rodolfo Alves Pereira
Professor da Rede Estadual de Educação de Minas Gerais e do Rio de Janeiro

(Texto publicado no Jornal Tribuna do Povo - Leopoldina, MG e mencionado em um Editorial do Diário de Jacareí, Jacareí, SP)

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