6.8.18

Seu candidato quer governar para quem?

Ao que tudo indica, Jair Bolsonaro estará no 2° turno da eleição presidencial deste ano.  Segundo um dos coordenadores de sua campanha, o deputado Onyx Lorenzoni, o governo Bolsonaro será liberal-conservador (algo absurdo pois contraditório, mas executável num possível governo com acentuada tendência anti-democrática).
Governo conservador refere-se à valores sustentados pelo ex-militar e seus seguidores, como o modelo de família do século XIX, o patriotismo cego dentre outros princípios nada modernos. O conservantismo será praticado pela intervenção estatal (num governo liberal?) nos costumes, na cultura, na mudança dos currículos escolares (programa escola sem partido) e o ataque à autonomia do ensino tanto em nível básico quanto no superior.
Já  o liberalismo se refere à  desregulamentação do mercado, manutenção da reforma trabalhista, menos fiscalização nas empresas, flexibilização (e quem sabe até revogação) de dispositivos legais que visam preservar o meio ambiente frente à expansão  predatória da pecuária, da agricultura e do extrativismo vegetal e mineral.

Desde o ano passado, quando viajou aos EUA, Bolsonaro demonstrou sinceramente sua vontade de ser um presidente submisso ao mercado. Quando se encontrou com investidores em New York foi pedir o beneplácito do Império norte-americano e ao mesmo tempo tentar obter ajuda financeira para sua candidatura. Nessa ocasião, defendeu a adoção de medidas impopulares, como a reforma da previdência e atacou a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que segundo o parlamentar está engessada na Constituição e é prejudicial ao desenvolvimento dos negócios.

Recentemente, em encontro com industriais na capital paulista, Bolsonaro foi aplaudido pela plateia quando disse que ser empresário no Brasil é difícil. As dificuldades às quais se refere são sempre as mesmas que vem citando em seus discursos: burocracia, impostos, fiscalização, os encargos sociais e a existência dos direitos trabalhistas. Pena que ele se esqueceu de mencionar que ser trabalhador no Brasil é ainda mais difícil do que ser empresário. Trabalhador enfrenta longas jornadas de trabalho, vê seus direitos sendo sonegados, recebe salários baixos, depende de transporte, escola e hospitais públicos deficitários, convive com violência, enfim, tem péssima qualidade de vida. A realidade do trabalhador é, enfim, muito diferente de seus ricos e gananciosos empregadores que passam as férias em Miami, vivem em condomínios de luxo com segurança privada, possuem planos de saúde e matriculam seus filhos nas melhores e mais caras escolas.

Bolsonaro já afirmou, inúmeras vezes, que o trabalhador terá que escolher entre emprego ou direitos trabalhistas. Para ele, ao que parece, o fim dos direitos dos trabalhadores, como por exemplo a garantia de salário mínimo, décimo terceiro, seguro desemprego e previdência, é uma condição para assegurar os postos de trabalho. O candidato não se importa com as condições mínimas e a dignidade do trabalho, preocupa-se apenas em atender aos interesses vorazes do patronato e do mercado cuja finalidade é apenas lucro.

Fazendo afagos aos empresários, Bolsonaro disse que eles são os patrões e precisam ser valorizados, demonstrando novamente sua subserviência aos interesses do Capital. E os trabalhadores, como ficam? Terão empregos, mas não terão direitos! Trabalho sem direito não é coisa nova em nossa História, infelizmente.

Enquanto tenta seduzir os poderosos, o candidato continua atacando as políticas sociais, como bolsa família e cotas universitárias, e defende o armamentismo como meio para melhorar a segurança pública. Seu discurso, tosco, incoerente e desarticulado, tem funcionado e o colocou na disputa pela presidência, porém uma possível vitória deste sujeito representaria um retrocesso no avanço da cidadania e na necessária democratização das riquezas nacionais visando a redução das desigualdades existentes Brasil afora.

O mais triste é ver diversos segmentos das classes populares, como  trabalhadores, pequenos empreendedores e estudantes secundaristas, apoiando Bolsonaro. Como é possível que tais grupos apoiem um candidato que prega ideias prejudiciais aos seus próprios interesses e necessidades?  
Tal apoio advém, em minha opinião, de três razões básicas:

1 - descrença na política tradicional (da qual o Bolsonaro faz parte há décadas);
2 - desinformação;
3 - e a sedução do autoritarismo e do moralismo hipócrita presente no discurso bolsonarista que seduz parte da massa inculta e facilmente manipulável.

De todo modo, é chegada a hora do campo progressista e da centro-esquerda agir, é preciso que o povo trabalhador, estudantes, intelectuais, artistas, a imprensa, indígenas, quilombolas, homossexuais, sindicatos, enfim, todos os segmentos da sociedade se reúnam em torno de um projeto nacional-desenvolvimentista para o país. Projetos nacionais são incompatíveis com o personalismo, as vaidades partidárias e individuais precisam ser sacrificadas por interesses maiores, em nome da construção da nação democrática que sonhamos.  
Ou lutamos pela democracia agora ou não haverá nação e o nosso futuro será ainda mais nebuloso.

A maioria do povo, portanto, deve abraçar o campo progressista da política, ir às ruas, "vestir a camisa", defender a democracia e denunciar o autoritarismo e o retrocesso encarnado em Jair Bolsonaro ou em candidatos que pretendem assumir o poder apenas para manter o Brasil na condição de colônia dos banqueiros e do rentismo. Se esconder não vai ajudar a construir o país que queremos, se calar não é uma opção, pois o silêncio dos bons apenas encoraja o discurso de ódio, intolerância e segregação. É hora de luta!
O poder emana do povo e somente dele, então façamos valer essa máxima e vamos eleger um projeto popular para nos governar e trazer a prosperidade que merecemos.

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