19.2.18

Notas do Diário de Ywesky Borislav: Sobre a guerra de egos no funcionalismo publico

Certa vez fui a uma repartição publica aqui do interior para comercializar produtos da roça, eu levava linguiça, queijo, mel, manteiga, doces e ovos. Na ocasião presenciei um bate boca num dos corredores do predio, entre duas funcionarias. Uma era servidora de carreira e a outra também, mas ocupava um posto de chefia pelo que percebi.

A chefe se dirigia grosseiramente à sua subalterna, alegando que se não fosse pela proteção do Estado ela já estaria na rua, pois é péssima servidora, sempre chega atrasada, não faz nada direito, não é produtiva, enfim, era um peso morto para o funcionalismo. O Estado lhe pagava para ficar em sua saleta jogando conversa fora com outra servidora ao longo de sua jornada diária. A chefe ainda deu uma lição, enquanto a sua subordinada ouvia tudo espantosamente calma e em silêncio. Disse que jamais falta ao serviço, que é uma referência, serve como um espelho para os demais servidores seguirem e que, portanto, estava mais do que certa em exigir dos seus comandados que agissem com ela.

Nesse momento a servidora de carreira pediu a palavra e disse que iria agir com a diretora, sua chefe. Falou que chegaria atrasada quando quisesse, tiraria dia de folga por conta própria sem trazer atestado, viajaria para acompanhar o cônjuge sem apresentar atestado, se tornaria negligente com os seus afazeres, assim como ela se escondia atrás das pilhas de papel quando surgiam problemas reais, os quais demandavam ações de uma administradora de verdade. 
A chefe arregalou os olhos, ficou pálida e estarrecida com o que ouvira, balbuciou alguma coisa, mas sua língua travara, ela foi incapaz de qualquer tréplica.

Antes da administradora se reconstituir do golpe, a servidora emendou que ela não tinha moral para exigir nada, seu exemplo servia apenas para mostrar o que não deveria ser feito por um funcionario publico. Era uma pessoa que perseguia alguns e afagava outros, fechava os olhos para os seus erros e dos seus acólitos. Só estava naquele posto, pois vendera a alma para a burocracia estatal e não suportava mais estar no front, fazendo o que os demais servidores fazem - atender ao publico.

Saí logo do local, não vendi nada, fiquei chocado com o que vi e me perguntei quantos protocolos ficaram parados enquanto aquelas duas travavam sua guerra particular. Não sei bem quem estava certa ou errada, mas acho que a forma de lidar com os eventuais problemas seria conversando civilizadamente, sem troca de farpas e sem falso moralismo, pois a região já anda cheia de caquexia e está abarrotada de charlatanismo de todas formas possíveis - político, civil e religioso.

A maquina publica, infelizmente, tem funcionarios horriveis, os quaes tiram proveito da estabilidade e do apadrinhamento politico para se acocorarem no serviço, sem dar resultado algum, são contraproducentes. Urge uma reforma administrativa,  que extirpe o joio e valorize o trigo.
  
Enfim, deixei o lugar e fui ganhar o pão de cada dia, pois ao contrário daquela gente, eu era caixeiro-viajante e não poderia me esconder do mundo atrás de pilhas de papel, tampouco me beneficiava da benevolência eleitoreira ou estatal.

Y. B. (1951).

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